A balança comercial, influenciada pelo setor de petróleo, poderá ter “superávits bem acima de US$ 100 bilhões pelos próximos anos e com isso trazer grande estabilidade ao setor externo da economia brasileira”, segundo estudo publicado ontem pela MCM Consultores. No ano passado, a balança teve saldo positivo de US$ 98,9 bilhões, o maior resultado da série histórica e alta de 60,6% em relação a 2022.
O estudo da MCM tem como base projeções realizadas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para o desempenho do setor de petróleo nos próximos anos. Também considera, entre outras variáveis, que o “preço médio do petróleo segue o mercado internacional nos próximos 12 meses”. O preço do barril do Brent, por exemplo, ficaria “pouco acima de US$ 70” em 2024 e na sequência seria reajustado a 2% ao ano. O trabalho ainda se baseia em diversas outras projeções, como corrente de comércio e preço de outros produtos além do petróleo.
A estimativa da EPE é que a produção diária de barris poderá alcançar 5,4 milhões de barris em 2029, contra aproximadamente 3,3 milhões no ano passado. Além disso, a tendência segundo a EPE, é que as exportações de barris acompanhem “o aumento da produção”. A empresa calcula, por exemplo, que dois terços da produção será vendida para o exterior no fim da década, “colocando o Brasil como um dos cinco maiores exportadores de petróleo do mundo”.
“Durante todo esse período, não se prevê aumento das importações”, diz a MCM. “Ou seja, haverá um aumento brutal do saldo comercial na rubrica petróleo durante esta década.”
A consultoria faz a ressalva, no entanto, de que “não é difícil encontrar analistas” que “consideram otimistas as projeções da EPE”. Por isso, o estudo também considera cenários com “uma margem de frustração dessas projeções”, em que a produção diária alcançaria 4,9 milhões de barris em 2029, por exemplo.
Com base nessas premissas, a balança comercial poderá “registrar superávit de US$ 100 bilhões em 2024”, no cenário mais otimista. A partir do ano que vem, por sua vez, “apresentaria superávits crescentes” até o fim da década, alcançando US$ 140 bilhões em 2030. Isso aconteceria “devido ao contínuo e expressivo aumento do superávit na rubrica petróleo, que poderia atingir US$ 90 bilhões no fim desta década”, e “mesmo com o superávit ex-petróleo cadente, embora ainda positivo”.
Já no cenário mais pessimista o país “poderia atravessar esta década com superávit comercial total ainda bastante significativo, em torno de US$ 90 bilhões [anuais] até 2029”. Nesse cenário, “destaca-se a reversão do superávit ex-petróleo, de US$ 53 bilhões em 2024 para déficit de US$ 40 bilhões em 2032”. Isso aconteceria devido ao “aumento da demanda doméstica” e consequentemente das importações. Ainda assim, o Brasil teria um “robusto excedente na rubrica petróleo”.
Nos últimos meses, diversos economistas têm levantado a hipótese de as exportações brasileiras estarem passando por um crescimento estrutural, por causa tanto do próprio petróleo quanto do setor agropecuário. Para este ano, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) projeta superávit de US$ 94,4 bilhões, puxado principalmente pelas quantidades exportadas. A MCM afirma no estudo que o cenário para os embarques de petróleo, “se confirmado, é um dos pilares para a expectativa” de “uma mudança ‘estrutural’ (ou, pelo menos, bastante persistente) na balança comercial brasileira”.
Fonte: Valor Econômico

