- O Estado de S. Paulo.
- 7 Dec 2022
- BRUNO CAPELAS
Empresas como Omens, Dr. Jones e Manual lutam contra estereótipo do ‘homem que não se cuida’ e atraem investimentos
Insônia? Queda de cabelos? Falhas na barba? Falta de libido? Disfunção erétil? Todos esses problemas de saúde masculina entraram na mira de uma nova leva de startups, que se dedicam a transformar o tabu do “homem que não se cuida” em modelo de negócio.
Focadas no setor de saúde, beleza e bem-estar, essas startups usam análise de dados, personalização, telemedicina e outras tecnologias para atingir o consumidor, tentando expandir um mercado que hoje gira em torno de R$ 25 bilhões ao ano, segundo dados da consultoria Euromonitor.
A promessa de expansão em um mercado incipiente tem atraído investidores. Exemplo disso é a rodada de R$ 10 milhões levantada pela Omens, uma clínica digital de saúde masculina. Fundada em 2020 pelos franceses Olivier Capoulade e Morgan Autret, ao lado do médico João Brunhara, a empresa chamou a atenção das gestoras Vox, Green Rock e Incubate Fund.
Inspirada nas americanas
Roman e Hims, a Omens já atendeu cerca de 25 mil pacientes na área da saúde sexual, tratando questões como disfunção erétil e ejaculação precoce. O primeiro passo para o cliente é um questionário online, de R$ 79. A sessão pode ser feita por vídeo, áudio ou até por texto no Whatsapp, de maneira assíncrona – segundo a empresa, 70% das consultas usam esse último formato.
“Escrevendo, as pessoas sentem que conseguem compartilhar suas dores. É uma forma de ajudar o paciente a se abrir”, diz Capoulade. Depois da consulta, um profissional de saúde pode indicar diversos tratamentos, como remédios manipulados, consultas com psicólogos ou até mesmo aulas online para controle da ereção ou da ejaculação.
CULTURA.
Mais do que usar tecnologia e propor novos negócios, essas startups esbarram em comportamentos antigos. “Existe uma falta de hábito dos homens em acessar médicos. O homem não aprende a ficar à vontade para cuidar da saúde”, avalia Rodrigo Brunetti, gerente-geral da inglesa Manual, que em 2018 levantou US$ 30 milhões com os investidores Sonoma Brands, FJ Labs e Waldencast.
Na Inglaterra, a empresa oferece atendimento em áreas como peso, exames de sangue, sono, disfunção erétil e queda capilar – no Brasil, apenas as três últimas estão disponíveis.
O tratamento não acaba na prescrição médica: para ter certeza de sucesso, a empresa tem sistemas de engajamento com o cliente, colocando à disposição um time de farmacêuticos e robôs de bate-papo para tirar dúvidas do paciente. “É a forma de criar um ambiente em que o problema de saúde é tratado de forma fácil, ágil e sem pressão”, afirma o executivo da Manual.
VETERANO.
Se Omens e Manual são esforços mais recentes, há quem já esteja desbravando esse mercado há algum tempo: a Dr. Jones, startup de beleza nascida em 2013 que, como carro-chefe, vende uma lâmina de barbear (R$ 36, o kit com cabo e quatro recargas de seis lâminas), entre outros produtos. “Ninguém entendeu nada
quando a gente começou uma marca de beleza masculina. Acharam que era uma marca para o público gay”, lembra o seu CEO, Guilherme Campos.
No mês passado, a trajetória de quase uma década da empresa ganhou nova força após sua aquisição pelo Grupo Boticário – com a integração, a meta da Dr. Jones é expandir sua presença em diferentes canais, mas os executivos não dão detalhes do plano.
DISCURSO.
Para Eliza Casadei, professora da ESPM, o desafio de comunicação dessas empresas é enorme – ainda mais por se tratar de uma pauta recente. “A figura do consumidor masculino só surge por volta dos anos 1940, com produtos como álcool, carros e charutos. Beleza é um tema que só vai surgir nos anos 1990. É praticamente ontem”, explica.
“Cuidar de si mesmo pode ser legal. Um homem bem cuidado é mais feliz, tem mais disposição no trabalho e trata o parceiro ou parceira melhor”, afirma Danilo Bertasi, ex-ambev e CEO da The Men’s, fundada em março de 2021. A firma tem apoio de investidores como a empresa Adventures e a farmacêutica Eurofarma, além do fundo MIT Angels.
Assim como as competidoras, a The Men’s também começa o tratamento com uma consulta gratuita de telemedicina, pela qual um médico vai ajudar o paciente a definir quais tratamentos ele precisa. Atualmente, o empreendedor busca uma nova rodada de investimentos após notar salto de 700% na receita. Com o aporte, o plano é expandir o time de 7 para 20 pessoas nos próximos 12 meses.
Bertasi reconhece que disputa espaço com outras empresas no mercado brasileiro – e não vê problema nisso. “Fico feliz quando surge uma startup para homens, não acho que só uma empresa vai consolidar o mercado”, diz. “Existe tanto problema para ajudarmos: cabelo branco, dor em articulação, diabetes, questões sexuais, até mesmo chulé. Nós podemos ir para onde a gente quiser.” •
Fonte: O Estado de S. Paulo