Por Liane Thedim — Do Rio
20/12/2023 05h03 Atualizado há 6 horas
Em meio aos juros altos e à discussão em torno da tributação dos fundos fechados exclusivos, o mercado de private equity sofreu para captar. E, quem conseguiu recursos, encontrou um campo fértil. Foi o caso da Spectra Investments, que, segundo o sócio Renato Abissamra, viu a parcela de transações no mercado secundário ter o maior crescimento de seu portfólio. Com R$ 6,5 bilhões sob gestão, a asset independente conseguiu levantar R$ 1,2 bilhão em 2023 para seu sexto fundo, mesmo em meio ao cenário adverso. Em 2024, quer mais R$ 1,3 bilhão para esse mesmo fundo.
“Com a maior aversão a risco, investidores estiveram mais dispostos a se desfazer de negócios em sua carteira e aceitaram maior desconto por uma saída antecipada. Fizemos excepcionais negócios neste ano.”
Além disso, os negócios fechados via “search funds” – que buscam a aquisição de uma empresa que será administrada por seu gestor – dobraram, de sete no início do ano para 14 compras de participação em empresas. Abissamra afirma que a Spectra é o maior patrocinador de “search funds” na América Latina, com um total de 36 parceiros à procura de boas oportunidades.
O perfil desejado pela Spectra é bem definido: empresas com faturamento até R$ 100 milhões, valor entre R$ 30 milhões e R$ 100 milhões, margens acima de 25%, pouca necessidade de investimentos (capex) e baixa complexidade de gestão e endividamento. “Como o mercado de private equity não captou dinheiro nos últimos anos, o capital disponível para esse tipo de ativo é escasso, num ambiente mais desarbitrado. Por isso ficamos muito bem.”
No total de seus seis fundos, a gestora tem investimento direto e indireto (em parceria com mais de 50 gestores) em mais de 570 empresas. Abissamra comenta que o fundo mais novo conseguiu alocar cerca de R$ 700 milhões neste ano.
“2023 foi difícil de captar e bom para investir. Com menos incertezas, a alocação de risco começa a melhorar” — Renato Abissamra
A gestora abriu o primeiro fundo em 2012, com R$ 40 milhões. Desde então, a cada dois anos aproximadamente, abriu um novo. O primeiro bilhão veio em 2019, com o quarto fundo. Todos são fechados, com prazo de dez anos e retorno médio acima de 30% ao ano. “Agora nossa maior preocupação é manter a capacidade de gerar retornos. Muito dinheiro e oportunidade de menos é ruim, porque não queremos baixar a barra.”
Em “special situations”, a gestora tem preferido investir em créditos em atraso de bancos. Já a alocação em ativos “distressed”, ou seja, empresas em recuperação judicial ou em situação de falência, por exemplo, tem sido tímida, embora Abissamra veja o mercado num bom momento. “Também ancoramos a Strata Capital, focada em investimentos alternativos, que ainda não começou a investir.”
A Spectra é investidora-âncora da Ore Investments, gestora de private equity focada em mineração, que em outubro anunciou a compra do controle da Morro Verde, uma das principais produtoras de fertilizantes do país.
Para 2024, Abissamra tem boas perspectivas. Ele afirma que os fatores que seguraram o mercado neste ano vão destravar, ainda que os juros não caiam tanto quanto se esperava. “2023 foi difícil de captar e bom para investir. Com menos incertezas, a alocação de risco por parte do investidor começa a melhorar.”
Fonte: Valor Econômico

