A gestora brasileira Spectra acaba de estruturar um fundo de private equity de capital permanente, formato conhecido no exterior como evergreen e inédito no mercado local. Até agora, tinha havido no Brasil apenas distribuição de gestoras internacionais, como um veículo que aplica na estrutura permanente do suíço Partners Group.
O veículo da Spectra começa com R$ 1 bilhão em capital comprometido de investidores que já são cotistas dos outros fundos da Spectra – e, ao aderirem ao evergreen, sinalizam que não vão embolsar os retornos que receberam da firma, mas reaplicá-los no veículo perpétuo.
“Esses recursos vão migrando gradualmente para a nova estrutura à medida que forem feitas as distribuições dos fundos existentes”, explica Ricardo Kanitz, sócio-fundador e CIO da Spectra. “Como reinvestem automaticamente o capital dos desinvestimentos, os investidores conseguem capturar o efeito de juros compostos no longo prazo. É o que fazem em suas gestões os grandes endowments”, complementa.
Para a gestora, a estrutura elimina a necessidade de chamadas e devoluções frequentes de capital, o que também tende a dar mais flexibilidade para estratégias – como alongar um ciclo de investimentos ou as saídas. A taxa de gestão é aplicada apenas sobre o capital efetivamente investido.
Convencer os investidores a esse formato só foi possível com histórico de retorno de capital. Este ano, a Spectra deve bater seu maior volume de recursos desde que iniciou sua operação, em 2011 – foram pouco mais de R$ 500 milhões devolvidos aso cotistas até setembro, o que deve faz o ano superar 2022, que havia sido recorde com a mesma cifra mas no calendário completo.
“É um negócio de confiança e consistência. Dá para contar em uma mão quantas gestoras no Brasil estão no sexto fundo”, comenta.
O formato evergreen já passa de US$ 700 bilhões em ativos, em fundos de equity, crédito e infraestrutura no mundo todo. Gestoras como Hamilton Lane e Blackstone foram as primeiras a adotar o modelo.
Também tem crescido no mercado internacional os formatos rotulados de “semilíquidos”, que pretender dar janelas de saída para os investidores em ciclos normalmente mais longos. O termo não faz muito sentido na visão da Spectra. “Semilíquido é o mesmo que semigrávida. Esse perfil acaba descasando ativos e passivos”, diz Kanitz. “Optamos por um modelo em que a saída ocorre conforme os ativos são desinvestidos, sem expectativas irreais de liquidez.”
A ideia é que haja dividendos intermediários, mas isso demandaria um prazo de ao menos cinco anos, estima o gestor. A Spectra começou a discutir internamente o fundo há mais de dois anos, provocada por cotistas. “O investidor definia um montante que queria ter na Spectra mas, para atingir essa esse volume, precisava dividir entre dois ou três veículos.”
A adesão foi principalmente de famílias brasileiras e investidores internacionais. A última captação da Spectra foi em 2024, somando entre fundo e coinvestimento R$ 1,9 bilhão.
Fonte: Pipeline