Se, na avaliação do mercado, a correção no mercado de crédito, com abertura dos spreads das debêntures incentivadas em relação às NTN-Bs, era algo saudável e temporário, alguns sinais de alerta mais concretos começam a gerar preocupação. É o que aponta a Sparta em carta referente ao mês de outubro, antecipada ao Valor.
A gestora nota que, no início do mês passado, quando os spreads chegaram a ser negociados bem abaixo das NTN-Bs de referência, os níveis já eram “pouco justificáveis pelos fundamentos”. E, diante da abertura acelerada dos spreads, que formaram um “V”, a gestora nota que houve um reflexo imediato nas cotas dos fundos.
“Muitos fundos incentivados ‘hedgeados’, que praticamente não tiveram meses abaixo do CDI nos últimos anos, registraram retornos negativos neste mês”, observa a gestora.
“Com base nas carteiras públicas dos fundos, que têm defasagem de 90 dias, o mercado, incluindo a Sparta, trabalhava com a expectativa de que a forte captação dos últimos meses geraria uma demanda adicional por debêntures incentivadas nos meses seguintes, da ordem de dezenas de bilhões de reais. Essa leitura tinha como premissa que os gestores manteriam parte relevante dos recursos captados em caixa, utilizando gradualmente a flexibilidade para enquadramento, o que sustentaria os preços correntes.”
A realidade, porém, era outra, de acordo com a gestora, que é comandada por Ulisses Nehmi.
Para a Sparta, embora essa dinâmica fosse válida para alguns fundos, ela não representava o mercado como um todo tanto quanto o esperado.
“As carteiras, em média, estavam mais alocadas e mais longas. De fato, embora tenhamos optado por não participar de muitas ofertas primárias recentes, que tinham prazos longos e spreads magros, várias delas tiveram sobredemanda. Ou seja, a expectativa de demanda de dezenas de bilhões de reais à frente provavelmente estava superestimada”, aponta a carta.
“Na prática, o volume efetivo de demanda para os próximos meses talvez seja de apenas alguns poucos bilhões.”
Ao mesmo tempo, a captação líquida diária dos fundos pós-fixados em outubro “traz um quadro preocupante”. Na visão da Sparta, quando os fundos “hedgeados” têm retornos mensais negativos, em geral ocorre uma onda de resgates nos meses seguintes.
“Os dados públicos só devem começar a mostrar esse impacto nas próximas semanas, já que tipicamente os fundos de debêntures incentivadas têm pelo menos 30 dias entre os pedidos e a cotização. Se isso acontecer, a já escassa demanda estimada para os próximos meses pode nem existir, e esse movimento de abertura [dos spreads] pode se intensificar.”
Fonte: Valor Econômico

