Por Anaïs Fernandes — De São Paulo
01/03/2023 05h00 Atualizado há uma hora
A combinação de uma reoneração parcial dos combustíveis à redução nos preços cobrados pela Petrobras nas refinarias a partir de hoje limitou o impacto da volta dos tributos federais sobre as estimativas de inflação deste ano.
Com a tributação de PIS/Cofins de R$ 0,47 por litro da gasolina e de R$ 0,02 no etanol, os preços aos consumidores devem subir 9,2% e 0,5%, pela ordem, segundo a XP. Isso incrementaria em 0,43 ponto percentual o IPCA do ano. Como o cenário anterior da XP era de reoneração integral em março, no entanto, a decisão do governo tem efeito baixista sobre o IPCA de 2023, de cerca de 0,25 ponto, já considerando corte de R$ 0,13 na gasolina da Petrobras. Assim, a XP revisou sua projeção de IPCA em 2023 de 5,7% para 5,5%.
O J.P. Morgan também ajustou sua projeção de IPCA em 2023, de 5,6% para 5,5%. Na estimativa anterior, o retorno total dos impostos aumentaria os preços dos combustíveis na bomba em 14% e elevaria o IPCA em 0,75 ponto percentual, mas o banco considerava 70% desse impacto, contando com uma compensação parcial pelos preços mais baixos dos combustíveis.
“No fim, as medidas anunciadas elevam os preços da gasolina em cerca de 8%, abaixo de nossas expectativas de cerca de 10%, reduzindo assim nossas estimativas de curto prazo do IPCA em 10 pontos-base [0,1 ponto percentual]”, dizem os economistas Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez. Eles reduziram a previsão para IPCA em março de 0,77% para 0,66%.
Cálculos preliminares da Warren Renascença indicam, no caso da gasolina, alta de 6% do combustível em março, e não mais 5%, com um efeito de 0,28 ponto percentual sobre a inflação do mês, antecipa Andrea Angelo, economista-chefe especialista em inflação. Com o corte da Petrobras, porém, o impacto líquido estimado é de 0,05 ponto, concentrado em março, cujo IPCA vai para 0,66% e deixa o ano em 5,55%, segundo Angelo.
Na ponta mais altista, com previsão preliminar de 6,2% para o IPCA em 2023, a Genial estima impacto de 0,33 ponto do aumento líquido de R$ 0,34 da gasolina.
Para compensar o retorno parcial das alíquotas, o governo determinou uma taxação de 9,2% sobre exportação de petróleo cru por quatro meses. Nos cálculos do economista-chefe especialista em política fiscal da Warren, Felipe Salto, uma alíquota de 10,9% estaria mais perto da neutralidade. Para a XP, pode até haver um aumento líquido da receita de R$ 2,1 bilhões em quatro meses, mas os dividendos da Petrobras devem cair, “o que pode compensar qualquer ganho do governo central”, dizem.
Economistas temem que a cobrança retire atratividade do petróleo do Brasil. “O governo faz uma sinalização ruim de que pode buscar arrecadação via imposto de exportação. Foi um grande erro e espera-se que não passe desses quatro meses e não avance para outras commodities”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Fonte: Valor Econômico

