Com mais de R$ 49 bilhões de dívida líquida em junho, a RaízenCotação de Raízen poderá ter um novo sócio, apurou o Valor com duas fontes a par do assunto. A companhia, que atua na produção de açúcar e álcool e na distribuição de combustíveis no Brasil, Paraguai e na Argentina, é uma joint venture entre a CosanCotação de Cosan, de Rubens Ometto, e a Shell.
Maior processadora de cana do mundo e maior produtora de etanol, a RaízenCotação de Raízen sentiu o baque do crescimento acelerado e da diversificação de negócios executados na última década. Com o aumento das taxas de juros, que onera o endividamento, a companhia está vendendo ativos para reduzir dívidas, e suas controladoras, dispostas a contribuir para uma desalavancagem mais rápida.
Segundo uma das fontes, o formato para entrada desse novo sócio não está definido, mas a CosanCotação de Cosan eventualmente seria diluída no processo. O grupo de Ometto e a Shell têm, cada um, 44% de participação na RaízenCotação de Raízen. Os 12% restantes estão pulverizados no mercado – a companhia fez sua estreia na bolsa (IPO, na sigla em inglês) em agosto de 2021, avaliada em R$ 76 bilhões. No fechamento de ontem (14), valia R$ 10,9 bilhões.
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A intenção inicial, segundo outra fonte, é que o novo sócio tenha posição minoritária na RaízenCotação de Raízen, mas traga recursos que reforcem sua liquidez enquanto o plano de venda de ativos, que já está em curso e deve chegar a R$ 15 bilhões até o fim do ano, não se concretiza integralmente.
Bancos de investimentos já foram contratados pelas partes para buscar uma alternativa para a RaízenCotação de Raízen. O Lazard está assessorando a Shell nesse processo e o Itaú, o grupo CosanCotação de grupo Cosan.
Fontes a par do assunto afirmam que diferentes possibilidades ainda estão sobre a mesa e a RaízenCotação de Raízen vem contribuindo para as discussões entre as sócias controladoras. Junto com os resultados do primeiro trimestre do ano safra 2025/26, a companhia inclusive admite que um aumento de capital poderia vir dos sócios atuais ou de um novo.
Fundos de private equity (que compram participação em empresas) que investem em ativos brasileiros, segundo uma das fontes, já teriam sido abordados. Procuradas, RaízenCotação de Raízen, CosanCotação de Cosan e Shell não comentaram.
O momento, na avaliação de um banqueiro, não é favorável aos vendedores: informalidade e fraudes tributárias na distribuição de combustíveis no país seguem crescendo e pressionando margens, o que desvaloriza o ativo e potencialmente afasta interessados.
“O problema é que a dinâmica do setor é ruim, porque um ativo bom [como RaízenCotação de Raízen] concorre com ativos sem governança”, diz.
Do lado da venda de ativos, uma medida “orgânica” para reduzir a alavancagem, a companhia já se desfez da maior parte das operações de geração distribuída (sob o guarda-chuva da RaízenCotação de Raízen Power) e poderá realizar novos desinvestimentos em usinas de açúcar e álcool, a exemplo do que fez com Leme, MB e Santa Elisa, sem comprometer sua liderança.
Já a refinaria e a rede de postos de combustíveis na Argentina, também colocadas à venda, estão dentro do que considerado “core business”, mas acabaram entrando no pacote por causa do valor do ativo: é o maior cheque entre aqueles que podem ser vendidos.
A companhia mudou a gestão no ano passado e iniciou uma série de desinvestimentos para ganhar fôlego. Já foram levantados R$ 3,6 bilhões, dos quais R$ 2,6 bilhões ingressaram em caixa apenas neste ano fiscal.
As vendas fazem parte da estratégia de simplificação de portfólio e concentração nas áreas de etanol, açúcar e bioenergia, além da distribuição de combustíveis no Brasil, afirmou o CEO da empresa, Nelson Gomes, em teleconferência com investidores e acionistas para comentar o balanço divulgado na quarta-feira (13) à noite.
A estratégia mira uma redução da dívida líquida, que teve um salto de 55,8% em 12 meses e alcançou R$ 49,2 bilhões em junho, o que fez com que a alavancagem dobrasse em um ano, encerrando o trimestre em 4,5 vezes o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). A RaízenCotação de Raízen encerrou o primeiro trimestre da safra 2025/26 com prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão e Ebitda ajustado de R$ 1,89 bilhão, queda de 23,4%.
“Falando de estrutura de capital, substituímos linhas de capital de giro de curto prazo [risco sacado] por dívidas de longo prazo mais competitivas, alongando o prazo da dívida. E esse movimento explica a parte relevante do aumento do endividamento nesse período”, explicou.
No mercado brasileiro de combustíveis, a RaízenCotação de Raízen registrou expansão de volumes e melhora de margens, tanto em combustíveis quanto em lubrificantes, além de ganhos de eficiência na gestão de suprimentos e estoques, apesar das vendas menores.
Na Argentina, a empresa aumentou volumes e avançou no projeto de modernização da refinaria, com foco em eficiência energética. No entanto, dois fatores pesaram no trimestre: a manutenção da refinaria além do prazo previsto e a necessidade de aumentar as importações de gasolina e diesel a custos mais elevados.
Na operação argentina, a otimização de processos levou a uma queda de 20% nas despesas gerais e administrativas em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Já os investimentos totais da companhia recuaram 23% na comparação anual, alinhados ao plano de redução de capex, de R$ 12 bilhões para R$ 9,4 bilhões.
De acordo com o diretor de relações com investidores da companhia, Phillipe Casale, os impactos do clima prejudicaram a moagem da RaízenCotação de Raízen e os resultados trimestrais. Segundo ele, a moagem de cana na atual safra deve ficar mais próxima do ponto médio para baixo da projeção divulgada anteriormente, em função de condições climáticas adversas.
Conforme Casale, há alguns fatores principais para isso. “Os motivos são o clima seco e incêndios da safra passada. Na entressafra, tivemos período com menos chuvas do que o histórico, o que prejudicou o desenvolvimento da cana. Já neste trimestre, tivemos um volume de chuvas acima da média, o que atrasou a colheita”, disse.
No etanol, a empresa registrou redução do volume próprio, alinhada à queda da moagem e a um mix de produção menos favorável. No segmento de bioenergia, a menor disponibilidade de biomassa reduziu o volume de cogeração, refletindo o ritmo mais lento de moagem.
Por outro lado, Casale destacou o desempenho positivo no açúcar. “Conseguimos maximizar a produção e venda de açúcar com preços que estão alinhados com os ‘hedges’ contratados”, afirmou.
Fonte: Valor Econômico

