Só um fato novo parece que poderá impedir Donald Trump de ser o candidato republicano à Presidência dos EUA nas eleições de novembro. E esse fato novo precisaria surgir possivelmente até março.
Como era esperado, o ex-presidente Donald Trump venceu nessa segunda-feira as prévias do Partido Republicano no Estado de Iowa, que abriram a temporada de prévias partidárias nos EUA, que vão definir os candidatos à Presidência.
A vitória de Trump foi expressiva. Ele foi o escolhido por 51% dos eleitores republicanos que votaram em Iowa. O governador da Flórida, Ron DeSantis, ficou em segundo lugar, com 21,2%. A ex-governadora Nikki Haley acabou em terceiro, com 19,1%.
A margem da vitória, de quase 30 pontos, foi a maior já registrada nas prévias republicanas em Iowa. O Estado tem um histórico de resultados apertadas, e o recorde anterior era de quase 13 pontos, na vitória de Bob Dole em 1988.
Nas prévias de 2016, quando disputava a Presidência pela primeira vez, Trump ficou em segundo nas prévias em Iowa, recuperando-se em seguida e garantindo a candidatura presidencial. Desta vez ele fez uma campanha intensa no Estado, para evitar surpresas.
Em termos práticos, as prévias de Iowa contam pouco para a definição do vencedor da disputa republicana. O Estado é pequeno e distribui apenas 40 dos 2.429 delegadps que elegerão o candidato republicano na convenção do partido, em julho. Trump ficou com 20 delegados, DeSantis com 8 e Haley com 7.
Mas há uma importância política. Era sabido que Trump ganharia. A margem da vitória, porém, era considerada importante. Segundo vários analistas políticos americanos, uma vitória com margem mais apertado e com menos de 50% dos votos poderia indicar alguma fragilidade de Trump e dar impulso às campanhas de DeSantis e Haley.
O resultado parece ter fechado essa possibilidade. A vitória por ampla margem de Trump pode desanimar as campanhas adversárias e fortalecer a do ex-presidente, mobilizando ainda mais a sua base eleitoral e garantindo mais apoio político nos Estados e mais doações, que financiam as campanhas. O empresário Vivek Ramaswamy, que ficou em quarto em Iowa, já desistiu da sua pré-candidatura.
A prévia em Iowa foi particularmente decepcionante para Haley, pois havia ela vinha crescendo nas pesquisas e havia a expectativa de que ficaria em segundo lugar.
Trump lidera com folga as pesquisas para o restante da corrida presidencial republicana, tendo mais intenções de voto do que a soma dos seus adversários. Nenhum pré-candidato jamais perdeu tendo uma vantagem assim nessa fase da disputa. Ou seja, aparentemente só um desastre fará com que o ex-presidente não seja o candidato presidencial republicano.
Apesar da vitória, pesquisa de boca-de-urna da Associated Press em Iowa detectou alguns dados preocupantes para Trump. Ele teve o voto de apenas 40% dos eleitores republicanos nos subúrbios das principais cidades, que normalmente decidem a eleição presidencial. Além disso, só 20% dos eleitores com ensino superior votaram no ex-presidente. [É uma rejeição importante nesse eleitorado, que pode se agravar caso Trump seja condenado num dos quatro processos criminais que ele enfrenta.
Esses processos parecem representar o maior risco de surgimento de um fato novo que poderia ameaçar a vitória de Trump na corrida presidencial republicana. Mas, para isso, esse fato novo teria de surgir até março, mês que concentra o maior número de prévias nos Estados.
O processo em que Trump é acusado de tentar reverter ilegalmente o resultado das eleições de 2020 tem julgamento marcado para 4 de março. O processo em que ele é acusado de fraudar dados contábeis de suas empresas deve ter veredito em 25 de março (mas pode ser adiado). O processo sobre a posse ilegal de documentos sigilosos dos EUA tem julgamento marcado para 20 de maio. Por fim, não há ainda uma data para o veredito do processo em que Trump é acusado de pressionar ilegalmente autoridades da Geórgia para reverterem o resultado das eleições de 2020. A fase final dos julgamentos, com os depoimentos, traz riscos para o ex-presidente, que terá muita exposição negativa.
Além disso, há ainda o caso na Suprema Corte dos EUA, que deverá decidir se os Estados podem barrar a candidatura de Trump localmente, por ele ser acusado de liderar uma insurreição (a invasão do prédio do Congresso dos EUA, em janeiro de 2021).
O ex-presidente se diz inocente de todas as acusações e alega que elas são perseguição política. Por enquanto, a maioria dos eleitores republicanos parece acreditar nele. Sem um fato novo que mude essa percepção, Trump deverá ser o candidato presidencial republicano. E, segundo as pesquisas, é hoje o favorito para se tornar o próximo presidente dos EUA.
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— Foto: Charlie Neibergall/AP
Fonte: Valor Econômico

