
Indicadores econômicos dos EUA causaram volatilidade nos mercados globais e, no âmbito local, limitaram uma reação mais positiva às notícias na seara fiscal. Os rendimentos dos Treasuries, os títulos do Tesouro americano, voltaram a subir e fecharam perto das máximas. A taxa da T-Note de dez anos saltou a 4,303%, de 4,201% no ajuste anterior, e a do papel de dois anos avançou a 4,189%, de 4,104%.
Em uma sessão bastante volátil, as taxas dos Treasuries oscilaram em reação a dados econômicos dos EUA, anúncio da oferta de mais títulos e tensão com a proximidade das eleições americanas, na terça-feira.
Já na cena doméstica, a visão de que a equipe econômica e a Casa Civil estão alinhadas quanto ao esperado corte de gastos, explicitada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi bem recebida por agentes financeiros e evitou uma nova rodada de depreciação do real e queda da bolsa, além de uma abertura mais expressiva da curva de juros local.
Haddad disse ontem que há um entendimento com a Casa Civil para fechar um acordo para a redução de despesas, de forma que elas caibam no Orçamento. Já a titular do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que o pacote de ajuste de gastos em discussão será o primeiro de “pelo menos” dois que o governo apresentará até o fim do mandato.
A sessão foi marcada pela divulgação de dados de emprego no Brasil e nos EUA, que mostraram que o mercado de trabalho segue forte em ambos os países e pode gerar pressões inflacionárias à frente, o que aponta para uma política monetária mais rígida do Federal Reserve (Fed, autoridade monetária americana) e do Banco Central do Brasil.
Pesando as sinalizações sobre política fiscal e os indicadores econômicos, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 recuou de 12,76% do ajuste anterior para 12,735%; e a do DI de janeiro de 2031 caiu de 12,89% para 12,82%.
Depois de avançar 0,92% na sessão anterior, o dólar comercial fechou em leve alta de 0,04%, cotado a R$ 5,7634, renovando o maior nível desde março de 2021. A dinâmica descolou da observada nos pesos mexicano, chileno e colombiano. As três eram as moedas com pior desempenho frente ao dólar, da relação das 33 divisas mais líquidas acompanhadas pelo Valor, perto do fechamento de ontem.
Durante as falas de Haddad, o câmbio pouco se mexeu, deixando evidente a força do cenário externo no ativo. Na avaliação de Rodrigo Cabraitz, gestor de moedas da Principal Claritas, “boa parte do movimento do câmbio dos últimos dias é mais reflexo das eleições americanas do que de questões locais”. O gestor lembra que os investidores, não só no Brasil, mas em outros países, começaram a ajustar posições com aumento da probabilidade do ex-presidente Donald Trump vencer as eleições.
Cabraitz diz que a expectativa pelo anúncio do pacote de corte de gastos deixou o mercado ansioso nas últimas sessões, mas que esse sentimento pode mudar. “Os investidores têm pressionado para o governo agir. Ninguém está esperando muita coisa. Se vier um corte de gastos razoável, o mercado deve andar”, diz. “Agora, se ficar com muitas condicionantes, acho que pode ser visto como maquiagem contábil e pode não ser bem recebido. Precisa ser algo mais estrutural.”
A ausência de medidas concretas mantém o fiscal como fonte de incerteza. “Não houve novidade. Teve alguma sinalização por parte do ministro da Fazenda, de que eles vão de fato soltar alguma medida fiscal, mas ainda nada concreto. Então eu acho que a gente continua em um ambiente de incerteza por conta dessa questão fiscal no Brasil e das eleições americanas”, comenta Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.
O Ibovespa também fechou estável, com queda de 0,07%, aos 130.639 pontos, perto da mínima do dia, de 130.473 pontos, sem apoio de Vale. As ações da Weg responderam pelas maiores quedas do Ibovespa, ao recuar 5,16%, a R$ 54. Já em NY, os índices terminaram o pregão no vermelho: o Nasdaq recuou 0,56%, enquanto o S&P 500 e o Dow Jones caíram 0,33% e 0,22%, respectivamente.
Fonte: Valor Econômico

