Nos últimos dois anos, muitos investidores transferiram seus recursos dos fundos multimercados para produtos de renda fixa. O resultado reflete os juros altos e a busca por segurança e a necessidade de previsibilidade nos retornos diante das incertezas do cenário macroeconômico. Em 2024, os saques chegaram a R$ 356 bilhões, enquanto em 2023 foram de R$ 180 bilhões. Além disso, o desempenho dos multimercados nesse período ficou abaixo do esperado, com muitos tendo rendimento menor do que o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que é a principal referência para a rentabilidade dos fundos de renda fixa.
Em 2025, o interesse dos investidores nos multimercado começou a ser retomado. Essa volta é impulsionada por três fatores principais: a melhora das expectativas econômicas, a performance positiva de algumas categorias, que já estão superando o CDI, e, especialmente, a probabilidade crescente de cortes na Selic em 2026, ainda que lentos. Este cenário leva os investidores a buscarem ativamente retornos mais elevados, aceitando um risco superior ao da renda fixa.
“Ainda tivemos saídas desses fundos neste ano, mas em volume bem menor (R$ 61,7 bilhões até novembro), e nos últimos dois meses já registramos entradas, concentradas, mas positivas. Então, acho que 2025 é um ano de recuperação”, diz Paula Moreno, sócia e co-CIO da Armor Capital.
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Os fundos multimercados têm a vantagem de poder investir em diferentes tipos de mercado. Inclui renda fixa, que abrange títulos públicos e privados, renda variável, como ações, além de moedas estrangeiras, juros e commodities, entre outros. Pode ter exposição no Brasil e no mercado internacional. São fundos bastante flexíveis, pois misturam diferentes tipos de ativos na carteira. Por isso, têm mais facilidade para se proteger em momentos de alta volatilidade ou grandes oscilações, já que uma queda em um ativo pode ser equilibrada pela alta ou estabilidade de outro.
É nessa característica de defesa desses fundos que se concentra a aposta de muitos gestores de que os multimercados deverão voltar a atrair investidores. Em 2026, o provável início de corte dos juros vai reduzir o ganho na renda fixa, independentemente de a Selic terminar o ano em dois dígitos. Somado aos cortes, 2026 terá eleições, quando a volatilidade dos mercados tende a aumentar. Assim, investidores devem começar a aceitar um pouco mais de risco como forma de proteção e um retorno maior, uma vez que a classe desses fundos vai muito bem em cenários mais voláteis, avalia Moreno.
Esse aspecto dos multimercados torna também esses fundos mais sofisticados. Mas nem por isso voltados para um perfil exclusivo de clientes. “São fundos que permitem uma gama de operações e de ativos dentro deles para atender todos os investidores”, diz Alexandre Galhano, diretor de gestão da Artesanal Investimentos. É preciso ter perfil para suportar mais riscos e objetivo de longo prazo para o investimento. “Os multimercados deveriam estar alocados na carteira do investidor independentemente do cenário, porque como investimento de longo prazo continuam entregando excelentes resultados”, afirma Ronaldo Zanin, sócio e responsável pela área comercial da AZ Quest.
Ainda tivemos saídas desses fundos no ano, mas em volume menor”
“Estamos diante de um cenário que volta a ser favorável aos multimercados, porque com o início de um ciclo de afrouxamento monetário e inflação sob controle, temos uma melhora da economia e dos ativos financeiros. Temos ainda a questão fiscal para ser resolvida, que poderá ser definida em função das eleições de 2026. Em qualquer medida os mercados vão reagir de imediato, com volatilidade e atraindo para os multimercados o investidor que quer proteção”, diz Zanin.
O gestor da AZ Quest afirma, no entanto, que não será um movimento de migração para as classes mais arrojadas como se viu no passado. Para Galhano, o mais provável é que a transição comece pelos multimercados de baixa volatilidade que, apesar de incluírem ativos de maior risco, balanceiam o portfólio com títulos menos voláteis, como o crédito privado.
Já para o investidor que não teme riscos maiores, a opção ideal são os fundos multimercado puros. Nestes, o gestor tem total liberdade para diversificar e alocar os recursos em diferentes classes de ativos e mercados. A gestão é baseada em múltiplas estratégias dinâmicas, permitindo que o portfólio seja rapidamente ajustado para maximizar a rentabilidade e aproveitar as mudanças no cenário econômico.
Fonte: Valor Econômico