Por Mariana Carneiro
11/03/2025 | 22h42
Atualização: 12/03/2025 | 08h35
BRASÍLIA – Poucas horas depois de a Casa Branca confirmar que a tarifa de 25% sobre o aço e o alumínio de outros países começa a vigorar nesta quarta, 12, empresas siderúrgicas brasileiras ainda acreditam haver espaço para adiar a medida.
Integrantes do governo Lula e representantes das siderúrgicas esperavam por um anúncio de adiamento pelos EUA, o que não ocorreu.
O presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, aponta limitações de mercado para os EUA colocarem em prática a decisão de Trump imediatamente. Na interpretação dele, o governo americano pode mudar de ideia ainda nesta quarta-feira, 12.
“Os Estados Unidos importam 6 milhões de toneladas de placas de aço por ano e não vão mudar isso da noite para o dia. Eles vão continuar precisando importar e, como a medida sobretaxa todo o aço importado, não apenas o fabricado no Brasil, o resultado será que a conta será paga pelo consumidor americano”, afirma.
No Itamaraty, o quadro será reavaliado nesta quarta-feira, 12, e as conversas com o governo americano seguem em andamento.
Na semana passada, em reunião por meio de videoconferência com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e com o representante comercial (USTR), Jamieson Greer, o vice-presidente e ministro da Indústria do Brasil, Geraldo Alckmin, pediu o adiamento por 30 dias do início da medida.

O argumento brasileiro é que a balança comercial é favorável aos EUA — ou seja, o Brasil importa mais do que exporta. Além disso, a produção de aço brasileira é complementar à americana, uma vez que o País importa carvão de coque (siderúrgico) dos EUA para fabricar placas de aço que serão usadas na produção de aço refinado por siderúrgicas americanas.
Interlocutores do ministro relatam um ambiente amigável na conversa, marcada pela abertura de canais de negociação entre os dois países que estavam fechados desde a eleição de Trump. Não se chegou a discutir temas além do aço e do alumínio — produtos a serem afetados imediatamente pelo aumento das tarifas de importação dos EUA.
Em uma segunda conversa, dessa vez com o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, Jamieson Greer combinou de colocar as equipes técnicas de Brasil e EUA para discutir a relação bilateral no setor siderúrgico e de alumínio a partir dessa semana, o que ainda não começou. Por isso, havia a expectativa de adiamento e de abertura de uma exceção para o Brasil.
O intuito do governo brasileiro é manter o atual acordo com os EUA, que estipula limites de quantidade na exportação de aço desde 2018, quando Trump levantou barreiras à siderurgia internacional pela primeira vez. A cota para o Brasil é de 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado (placas) por ano e 687 mil toneladas de aço elaborado (laminado).
Esses valores, no entanto, ainda não entraram na negociação, no atual estágio concentrada em adiar o início da medida.
Marco Polo ressalta, contudo, que a medida não é direcionada ao Brasil e atinge a todos os países exportadores na mesma medida, o que não tende a prejudicar especialmente o produto brasileiro frente aos concorrentes.
O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, atrás somente do Canadá, cuja tarifa de importação prometida por Trump — e adiada nesta terça-feira, 11 — é de 50%.
Fonte: O Estado de S. Paulo

