Por Marcelo Osakabe e Lucianne Carneiro — De São Paulo e do Rio
16/06/2023 05h01 Atualizado há 6 horas
Após um 2022 de forte recuperação, o setor de serviços vive um ano de altos e baixos em 2023 – com perdas mais intensas que os ganhos. A queda firme de abril, maior que o piso das projeções do mercado, sinaliza a perda de fôlego em meio à dissipação dos efeitos relacionados à colheita e escoamento da safra de soja. O resultado reforça a perspectiva dos analistas de que o setor deve desacelerar no restante do ano, junto com o resto da economia.
Segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), o volume de serviços caiu 1,6% em abril, ante março, na série com ajuste sazonal. O resultado que veio abaixo do piso das projeções colhidas pelo Valor Data, que variavam entre contração de 1,5% e alta de 1,0%, com mediana em -0,4%.
A queda de serviços foi disseminada entre os segmentos – quatro das cinco atividades – e também regionalmente – 26 das 27 unidades da federação – com taxas negativas na série com ajuste sazonal. O destaque negativo entre os segmentos foi o de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, com queda de 4,4%, após ganho acumulado de 7,5% nos meses de fevereiro e março.
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Segundo o gerente da PMS, Rodrigo Lobo, o resultado do mês mostra “clara redução do ritmo de crescimento”, mas não dá para falar em reversão de trajetória ou queda vertiginosa. “A gente percebe claramente redução do ritmo de crescimento no setor de serviços, mas quando compara com 2022 a maior parte dos serviços mostra expansão”, diz.
Lobo destaca que o segmento bateu o ponto mais alto da série histórica da PMS em dezembro do ano passado, o que torna a base de comparação elevada. Ainda assim, tem se mantido perto desse patamar – em abril, ficou 2,9% abaixo da máxima histórica e 10,5% acima de fevereiro de 2020, marco do pré-pandemia.
Outro aspecto da divulgação ressaltado pelo gerente do PMS foi o fato de os serviços prestados às famílias – segmento que reúne serviços como hotéis, restaurantes, cinema, teatro e academia – estarem estacionados em uma espécie de platô desde meados do ano passado.
Especificamente em abril, no entanto, o setor foi o único entre os cinco de serviços a registrar taxa positiva, com alta de 1,2%. Ainda assim, no entanto, seu patamar está 5,5% abaixo de fevereiro de 2020, marco do pré-pandemia. Na média, os serviços operam em nível 10,5% daquele momento.
Nas contas do Santander, o resultado de abril deixa um carrego estatístico – ou o resultado se o setor andar de lado nos dois meses seguintes – de -0,5% para o segundo trimestre. O banco também revisou sua projeção para o IBC-Br de abril de 0,4% para 0,2%.
“Continuamos vendo sinais de desaceleração da atividade à frente, na medida em que elementos cíclicos indicam uma tendência de queda continuada. Além disso, esperamos que o impacto positivo da safra deve ficar restrita ao começo do segundo trimestre”, diz o banco, que projeta estabilidade do PIB no período.
A queda em transportes e armazenagem – setor que corresponde por 35% da PMS – já era esperada, mas veio pior que a expectativa, diz Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos.
“Além dos números mais fracos registrados em transporte terrestre (-3,5% em abril após +4,1% em março) e armazenagem (-6,7% em abril após +6,7% em março), o volátil grupo de transporte aéreo também trouxe resultados abaixo do esperado (-2,5%)”, nota.
A XP mantém o cenário de gradual esfriamento da maioria dos segmentos neste ano, na medida em que o empurrão trazido pela reabertura após a crise da covid se enfraquece e o mercado de trabalho se estabiliza. A projeção para o PIB no segundo trimestre aponta expansão de 0,2%, na comparação trimestral.
Para Luís Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners, o comportamento da economia já justifica um início do ciclo de cores de juros pelo Banco Central.
“Não acho que vá ocorrer, porque o BC vai esperar a manutenção da meta de inflação bater nas expectativas de inflação, mas acho que as condições para uma queda da Selic já existem. A economia e o crédito estão desacelerando, ao passo que o desemprego está artificialmente baixo por causa da baixa participação”, diz Leal, que revisou sua projeção para o IBC-Br de abril de -0,5% para -0,75%.
Fonte: Valor Econômico

