16 Oct 2023 DANIEL ROCHA E-INVESTIDOR
Ações da empresa de defesa aeroespacial Lockheed Martin saltaram 10,21% na última semana
O mundo acompanha atento aos desdobramentos da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Do lado do mercado financeiro, o olhar fica mais voltado para os efeitos do conflito nas Bolsas globais. A princípio, havia um receio entre os investidores de que o preço do barril do petróleo pudesse alcançar os US$ 100, como ocorreu no início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 2022.
No entanto, o CEO da gestora internacional Stratton Capital, Marcelo Cabral, avalia que o efeito mais evidente da guerra no Oriente Médio é a tendência de valorização das ações das empresas do setor de defesa – diante do aumento do risco geopolítico no mundo.
As ações da empresa americana de defesa aeroespacial Lockheed Martin saltaram 10,21% ao longo última semana, enquanto os papéis da BAE Systems, a maior empresa de defesa sediada na Europa, subiram 8,82%; e as ações da alemã Rheinmetall decolaram 8,8%.
A valorização foi bem acima dos ativos considerados mais defensivos, como o dólar e o ouro, que apresentaram valorizações de 4,34% e de 1,12%, respectivamente, em 9 de outubro, data do primeiro pregão após o início da guerra. Ao olhar para a rentabilidade no acumulado da semana, o ouro conseguiu sustentar os ganhos ao encerrar o período com uma alta de 5,4%. Já o dólar Ptax sofreu uma desvalorização de 1,88% na semana, segundo dados da Stratton Capital.
Se a guerra ganhar proporções ainda maiores, quais são os possíveis efeitos para as Bolsas internacionais?
A reação dos mercados foi bastante previsível. Tivemos uma fuga de capital para ativos de maior segurança. O dólar subiu, assim como o preço dos títulos do tesouro americano. Com a guerra no Oriente Médio, temos um aumento do preço do petróleo, das ações das empresas de energia e do setor de defesa. Então, vejo que se trata de uma reação típica de curto prazo. O grupo Hamas está muito isolado em comparação à guerra do Yom Kippur (em 1973) porque só possui apoio do Irã. A Arábia Saudita está preocupada com as reformas internas. O Egito nunca apoiou o Hamas e a Síria está neutralizada pela guerra civil. Então, o Irã representa o maior risco ao mercado. Mas, mesmo o Irã sendo afetado, a produção de petróleo do país só corresponde a 3% da produção global.
No acumulado da semana, o dólar caiu, enquanto o ouro se manteve em alta. O que investidor deve fazer?
No caso do dólar, a tendência é que a moeda se estabilize e caia um pouco em relação ao euro, à libra e ao iene. Quando a taxa de juros nos Estados Unidos sobe mais do que no resto do mundo, o dólar se valoriza. Quando os juros caem mais, o dólar se desvaloriza. Avalio que os Estados Unidos se aproximam de uma queda nas taxas. Pode até haver um novo aumento dos juros, mas entendemos que chegamos no pico e a tendência é que caia, enfraquecendo o dólar na margem. Por isso, acho que não dá para fazer uma aposta muito agressiva na alta da moeda. Já em relação ao ouro, acho que o ativo está em uma tendência de alta interessante. Não temos posição, mas vemos que pode ser uma alternativa interessante até em função dos déficits fiscais ao redor do mundo. Há vários países com risco fiscal elevado e o ouro costuma ser o refúgio. Para o longo prazo, pode ser interessante.
Para os brasileiros, o dólar continua sendo um ativo interessante?
No momento em que houve um evento geopolítico (o ataque a Israel), a primeira reação do mercado foi fugir para ativos defensivos, como o dólar e o Treasury americano. Então, essa alta do dólar foi provocada pelos ataques em Israel e esse ganho vai ser temporário. Além disso, à medida que o Fed (Banco Central dos Estados Unidos) for reduzindo a taxa de juros, a taxa de câmbio deve se normalizar. Essa é a perspectiva de curto prazo. Já no horizonte de médio e longo prazos, é interessante o investidor brasileiro estar exposto ao dólar por ser um ativo defensivo e por avaliar que há uma tendência de alta em relação ao real. Mas o ideal seria diversificar: ter dólar, euro e ouro na carteira.
Quais setores devem entrar no radar do investidor agora?
Um setor que tem se mostrado muito interessante é o de defesa. A Boeing, por exemplo, tem uma área de aviação comercial, mas também possui uma área de produção para defesa militar. As ações da Lockheed Martin subiram 8% na segunda-feira (passada). Os papéis da BAE Systems, a maior empresa de defesa na Europa, que fica na Inglaterra, saltaram 4%. As ações Rheinmetall, empresa alemã, também subiram quase 7% em um único dia. Então, as empresas expostas a esse setor se tornam interessantes. Não estamos dizendo para investir por causa da guerra, mas o que vemos ao redor do mundo é um aumento do risco geopolítico. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

