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Empresas do setor de alimentos dos Estados Unidos estão pressionando por isenções nas tarifas impostas por Donald Trump, argumentando que produtos que vão de peixes a pepinos não podem ser cultivados de forma economicamente viável no país.
O governo iniciou este mês a aplicação de tarifas abrangentes a dezenas de parceiros comerciais, colocando a alíquota efetiva dos EUA no nível mais alto em décadas. A política ameaça mudar todo o comércio global.
Grupos industriais alertam que o setor de alimentos é particularmente vulnerável às tarifas porque alguns países afetados produzem ingredientes que jamais poderiam ser produzidos em quantidade nos EUA. Mas as empresas americanas do setor alimentício estão adotando uma abordagem fragmentada. Pedem isenções específicas e não fazem uma contestação das tarifas de forma geral.
“Há tantas vozes, tantos produtos que dizem: ‘Bem, só precisamos de uma isenção, porque somos diferentes dos demais’”, disse Gavin Gibbons, diretor de estratégia do National Fisheries Institute, uma associação que defende os interesses de produtores de frutos do mar dos EUA.
A maior parte dos alimentos consumidos nos EUA é produzida internamente pelo vasto setor agrícola do país. Mas cerca de um quinto é importado, segundo o Departamento e Agricultura. Gibbons disse que os frutos do mar são “fundamentalmente diferentes” de outros tipos de alimentos, já que 85% do consumo americano depende de importações.
As águas americanas já estão sendo exploradas em seu limite sustentável, enquanto as regulamentações dificultam a expansão da aquicultura nacional. O déficit comercial do país em frutos do mar foi de US$ 24 bilhões em 2022, segundo o Departamento do Comércio.
Cerca de 90% do camarão consumido nos EUA é importado, segundo Gibbons, e a Índia responde por mais de um terço desse total. Trump pretende elevar as tarifas sobre a Índia para 50% na quarta-feira como punição por ela comprar petróleo da Rússia. “Gostaríamos de uma isenção para todos os frutos do mar”, diz Gibbons.
As importações de frutas e vegetais frescos dos EUA somam US$ 36 bilhões, sendo o México o maior fornecedor, seguido do Peru no caso de frutas e do Canadá no caso dos vegetais, segundo a International Fresh Produce Association (IFPA).
“Estamos pedindo que frutas e vegetais simplesmente fiquem de fora da conversa sobre tarifas”, diz Rebekah Adcock, vice-presidente de relações com o governo da IFPA. Nicole Bivens Collinson, sócia de empresa de advocacia Sandler, Travis & Rosenberg, diz que um processo de exclusão para alimentos seria complicado, já que não existe um procedimento definido para solicitar alívio tarifário.
Em uma carta enviada no fim do mês passado para o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, a National Restaurant Association alertou que os preços nos cardápios aumentariam se as tarifas fossem aplicadas a ingredientes frescos cultivados apenas de forma sazonal nos EUA.
“Concordamos que nossos déficits comerciais com outros países deveriam ser mais equilibrados, mas como os produtos alimentícios e bebidas não contribuem significativamente para esses déficits, esperamos que esses produtos possam ser isentos”, disse na carta Sean Kennedy, um vice-presidente executivo da associação.
Alguns produtos alimentícios poderão ser isentados das tarifas de Trump no futuro. Um acordo comercial firmado com a Indonésia contém uma cláusula que trata de recursos naturais indisponíveis.
O texto do acordo comercial dos EUA com a União Europeia contém uma cláusula parecida, mas não especifica quais produtos poderiam se qualificar.
Uma tarifa de 50% imposta ao Brasil este mês excluiu produtos como suco de laranja e castanha-do-pará, mas não o café.
Os alimentos comercializados entre os EUA, México e Canadá também se deparam com tarifas muito mais baixas. Trump ofereceu uma suspensão de suas tarifas mais altas sobre o Canadá e o México para quaisquer produtos que cumpram os termos do acordo comercial EUA-México-Canadá de 2020. Howard Lutnick, secretário do Comércio dos EUA sugeriu no mês passado que recursos naturais não produzidos nos EUA – como café, mangas e abacaxis – poderão receber uma isenção das tarifas.
Andy Harig, vice-presidente da Food Industry Association, grupo que defende os interesses do setor de supermercados, afirmou que, sem essas isenções, os preços aumentariam consideravelmente.
“Tarifas são feitas para aumentar os preços. Algumas são tão significativas que vão elevar os preços de forma bem perceptível”, disse Harig, cuja associação reúne membros como Walmart e Albertsons.
Uma análise recente da Fodd Industry Assocation destacou o caso dos pepinos, em que a fatia do abastecimento dos EUA vinda de importações passou de 35% em 1990 para quase 90% hoje. Produzir 90% dos pepinos internamente exigiria cultivá-los em estufas durante grande parte do ano, o que pressionaria os preços para cima.
Apesar do custo das tarifas, seria tolice e um equivoco “simplesmente defender o restabelecimento completo do livre comércio dos anos 90”, diz Tom Madrecki, vice-presidente de resiliência de cadeia de abastecimento da Consumer Brands Association, que representa empresas de bens de consumo embalados como PepsiCo e JM Smucker. “Filosoficamente e politicamente, aquela era já passou.”
Fonte: Valor Econômico

