Um grupo de democratas moderados concordou na noite de ontem em apoiar um projeto de lei dos republicanos, abrindo caminho para encerrar o “shutdown”, a paralisação das atividades do governo federal dos Estados Unidos, que hoje completa 41 dias, um recorde na história do país. A medida ainda terá de passar pela Câmara dos Deputados e ainda não há garantia de aprovação.
Pelo acordo, o Senado aprovará um financiamento temporário das principais atividades do governo até o dia 30 de janeiro – a principal demanda dos republicanos. A proposta garante o pagamento de funcionários públicos afastados durante a paralisação, retoma os repasses a Estados e municípios, além de recontratar servidores que foram demitidos no período.
Em troca, o grupo de senadores democratas aceitou a promessa de que haverá uma votação ainda neste ano sobre a Lei de Cuidados Acessíveis, também conhecida como “Obamacare”, para prorrogar subsídios a seguros de saúde que vencem em breve.
Parece que estamos chegando mais perto do fim da paralisação”
Apesar do acordo no Senado, a aprovação do projeto na Câmara não é garantida. Líderes democratas já haviam indicado que não votariam qualquer financiamento do governo que não incluísse a prorrogação dos subsídios do “Obamacare” – o que o projeto proposto não faz. Já deputados republicanos querem votar uma lei que financie o governo até o fim do atual ano fiscal, em 30 de setembro de 2026.
Ainda assim, o acordo renovou as esperanças de que o “shutdown” poderá, enfim, ser encerrado após mais um dia de transtornos em aeroportos do país e de alertas de integrantes do governo de Donald Trump sobre o impacto econômico da paralisação.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, avisou ontem que os prejuízos do “shutdown” só “vão piorar mais e mais” devido aos transtornos no transporte aéreo e à interrupção da distribuição de vales-alimentação tão necessários para americanos de baixa renda.
Bessent afirmou ainda que a sequência do “shutdown” pode provocar escassez de produtos e gargalos nas cadeias de fornecimento, já que as companhias aéreas americanas continuam a cancelar voos por causa da falta de pessoal nas torres de controle de tráfego aéreo.
Kevin Hassett, diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, alertou para o risco de que o crescimento econômico se torne negativo no quarto trimestre se a paralisação continuar.
“O período em torno do feriado de Ação de Graças é um dos mais movimentados do ano para a economia, é a época da Black Friday e todo esse tipo de coisa”, disse Hassett. “Se as pessoas não estiverem viajando naquele momento, então realmente podemos estar diante de um resultado negativo no quarto trimestre.”
Até então, a paralisação deixou centenas de milhares de funcionários federais sem salário, fechou alguns serviços e interrompeu o fornecimento de vales-alimentação para 40 milhões de americanos. Milhares de voos foram cancelados nos últimos dias.
Ontem, o governo Trump deu uma ordem aos Estados para que parassem de distribuir a ajuda alimentar para o mês de forma integral. A medida foi tomada depois que a Suprema Corte decidiu, na noite de sexta-feira, suspender a ordem de um juiz de que os benefícios fossem liberados integralmente enquanto a Justiça analisa o recurso do governo.
Durante o fim de semana, o presidente dos EUA publicou uma série de posts em seu site Truth Social, nos quais atacava as seguradoras de saúde e criticava o “Obamacare”, renovando a pressão sobre os democratas para que chegassem a um acordo.
Trump também repetiu seus apelos aos republicanos para que acabem com a regra do obstrucionismo – que exige os votos de 60 senadores para encerrar os debates e passar à votação de uma lei.
No sábado, ele exigiu que o dinheiro fosse enviado “diretamente” à população para cobrir os custos com serviços de saúde. Ontem, reiterou uma promessa de dar a parte dos americanos um pagamento de US$ 2 mil, que seria financiado com a receita das tarifas cobradas de outros países.
“Parece que estamos chegando mais perto do fim da paralisação”, afirmou Trump a jornalistas na Casa Branca na noite de ontem após o acordo com os democratas.
Fonte: Valor Econômico

