22/07/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
A aprovação da “PEC das Bondades” pelo Congresso e sua promulgação pelo governo, na semana passada, desencadearam uma onda de revisão para cima do Produto Interno Bruto (PIB) projetado para este ano. Aposta-se que o aumento do Auxílio Brasil e a liberação dos bônus para caminhoneiros e taxistas e a redução do preço dos combustíveis, energia elétrica e gás animem a economia, que já estava fraquejando, como mostram dados do segundo trimestre. Mas o fôlego será curto. As “bondades” dispensadas sob medida para melhorar o desempenho de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de outubro têm prazo de validade até janeiro de 2023, quando a economia deve desacelerar e pode até encolher.
Depois de ter surpreendido no primeiro trimestre, com o aumento de 1% do PIB e a redução da taxa de desemprego para 9,8%, marcando um dígito pela primeira vez em seis anos, a economia começou a dar sinais de recuo, que ficaram mais preocupantes em maio. A produção industrial aumentou apenas 0,3% na comparação com abril, sob o impacto principalmente da queda de 1,3% de bens intermediários. As vendas do varejo no conceito ampliado variaram 0,2%, com o mau desempenho de material de construção, bens de consumo duráveis, veículos e autopeças, móveis e eletrodomésticos, produtos que geralmente dependem de financiamento.
O balanço de maio só não ficou totalmente desanimador por causa do desempenho do setor de serviços, cujo faturamento real teve aumento de 0,9% sobre abril e de 9,2% na comparação com maio de 2021. Todos os seus cinco segmentos acompanhados pelo IBGE ficaram no azul, notadamente serviços prestados às famílias (1,9%) e outros serviços, como financeiros, urbanos e imobiliários (3,1%). A expansão foi atribuída à reabertura dos negócios após a vacinação. A recuperação dos serviços animou o mercado de trabalho.
Indicadores que buscam antecipar o PIB não espelharam esses resultados. O IBC-Br, calculado pelo Banco Central, teve queda de 0,11% em maio depois de ter recuado 0,64% em abril. O Monitor do PIB, estimado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), recuou 0,8% na comparação entre maio e abril. A FGV destacou a redução de 2,1% do consumo das famílias, atribuído ao aumento da inflação, dos juros e redução da renda real.
Nesse quadro, se inserem as medidas tomadas pelo governo para ativar a economia e tentar melhorar a votação a favor de Jair Bolsonaro. Nada mais negativo para um candidato à reeleição do que resultados ruins na economia. As iniciativas vão na contramão da atuação do Banco Central que, desde março do ano passado, vem elevando os juros para conter a inflação, com reflexos restritivos na atividade. Entre as iniciativas estão o aumento do Auxílio Brasil, e a redução de impostos sobre combustíveis, a bolsa caminhoneiro e a ajuda para a compra de gás.
Anteriormente, o governo já havia liberado FGTS e antecipado o pagamento do 13º salário para aposentados e pensionistas, sem reflexos significativos a não ser na área de serviços, como mostram os números de maio. Bancos e consultorias apostam que agora a reação será mais palpável e desencadearam uma onda de revisão do PIB e da inflação deste ano. O Boletim Focus do Banco Central, que reúne mais de uma centena de previsões, projetava aumento do PIB de 1% no fim de maio e agora prevê alta de 1,6%. As estimativas já chegam a 2% e o otimismo não é apenas do Ministério da Economia, que antes falava em aumento de 1,5% do PIB. Também trabalham com 2% os bancos Itaú, Credit Suisse e C6. Santander e Bradesco estão quase lá, com 1,9% e 1,8%, respectivamente.
A melhora na percepção foi referendada pela agência de classificação de risco Fitch, que revisou de negativa para estável a perspectiva para o rating do Brasil, apontando a dinâmica de crescimento de curto prazo, acima das expectativas, entre as justificativas para o movimento.
As previsões mais negativas foram jogadas para o próximo ano, até porque a maior parte das medidas tomadas pelo governo terminam em janeiro, como o aumento do Auxílio Brasil e a bolsa caminhoneiro e auxílio para a compra de gás. Sem apoio do governo a economia não sustenta o ritmo. Sem falar no quadro fiscal incerto sob o impacto de outras medidas, da intensificação dos efeitos defasados da política monetária do Banco Central e da expectativa de recessão global. Pesquisa Focus sinaliza aumento de 0,5% do PIB. Os grandes bancos não estão tão otimistas. O Itaú espera que o PIB varie 0,2%, o Bradesco fala em estagnação e o Santander já espera queda de 0,6%
Fonte: Valor Econômico

