Por Brian Spegele e Yang Jie — Dow Jones Newswires, de Pequim
23/08/2022 05h02 Atualizado há 5 horas
As autoridades provinciais do centro da China ampliaram as restrições ao uso de energia que limitam a produção das fábricas e o horário de funcionamento dos shoppings centers, uma vez que a região sofre a pior onda de calor em seis décadas e uma seca que prejudica a capacidade de geração das usinas hidrelétricas.
“A situação do fornecimento de energia é urgente”, alertou a estatal China Central Television (CCTV) em seu site na internet.
Em Chengdu, capital da Província de Sichuan e um centro industrial importante, fabricantes de automóveis e fornecedores de componentes registraram uma produção menor por causa das restrições ao uso de energia.
Mais ao leste na mesma região central, a CCTV noticiou que o governo da extensa metrópole de Chongqing, onde vivem mais de 30 milhões de pessoas, determinou que os shoppings centers só poderiam abrir ontem entre as 16 horas e as 21, dado o racionamento de eletricidade.
A combinação de seca e onda de calor é especialmente grave porque leva a um aumento da demanda de eletricidade, já que os moradores precisam de ar condicionado para refrescar suas casas. Ao mesmo tempo, há menos energia total disponível, pois a falta de chuva reduz o nível das represas das hidrelétricas, que são cruciais para a região.
Em julho, o volume de chuvas na bacia do rio Yangtze foi 40% inferior ao do um ano anterior. O rio é essencial como fonte de água para a produção de energia hidrelétrica, assim como para o transporte. Os níveis de algumas partes do Yangtze são os mais baixos desde que começaram a ser registrados, segundo informou o Ministério de Recursos Hídricos da China na semana passada.
O racionamento de energia prejudica a produção industrial e exacerba os prejuízos causados à economia da China pelas rigorosas medidas do governo para controlar a covid-19. A China é um dos muitos países do Hemisfério Norte que têm sofrido com secas, um fenômeno que provoca problemas para as cadeias mundiais de fornecimento e traz o risco de fazer os preços de alimentos e da energia elétrica subirem.
A General Interface Solution, fabricante taiwanesa de sensores e componentes de telas para aparelhos eletrônicos, informou em um documento às agências reguladoras que sua filial em Chengdu prorrogou a paralisação de sua produção para obedecer aos planos de contingência do governo local. A Apple, que em outra ocasião citara a empresa como uma de suas fornecedoras, não respondeu a um pedido para que comentasse o assunto.
A Foxconn Technology, uma das maiores fornecedoras da Apple, também foi atingida pelo racionamento de energia. Segundo fontes familiarizadas com o assunto, a produção da empresa em Chengdu continuava a um ritmo baixo ontem, embora um pouco mais forte que na semana passada. As fontes disseram que a Foxconn estava negociando com o governo local para ampliar a produção gradualmente no fim desta semana.
Um porta-voz da Foxconn afirmou que o impacto atual na produção não é significativo.
Enquanto isso, a produção da fábrica da Volkswagen em Chengdu continuava suspensa ontem, de acordo com uma porta-voz da empresa. Ela acrescentou que a Volkswagen espera compensar quaisquer atrasos com um aumento da produção no futuro. A Toyota, que na semana passada suspendeu a produção em sua fábrica de Chengdu, realizou um teste em suas linhas de produção com o uso de um gerador de energia próprio, segundo um porta-voz. Ele informou que a fábrica não tem operado em seus níveis normais.
A Tesla pediu ajuda ao governo de Xangai para garantir que seus fornecedores na região recebam energia suficiente. Em uma carta ao governo de Sichuan, a que “The Wall Street Journal” teve acesso, as autoridades de Xangai relataram que a Tesla reclamava de falta de componentes, pois os fornecedores em Sichuan não conseguiam produzir a plena capacidade por causa dos cortes de energia.
As altas temperaturas se estenderam por grande parte do sul da China. A agência meteorológica do país informou que 65 estações meteorológicas registraram temperaturas recordes. O serviço estatal de previsão do tempo classificou as condições de calor como “alerta vermelho”, o nível mais alto, e as de seca como “laranja”, o segundo mais alto.
O calor também provocou incêndios florestais. No fim da semana passada mais de 5 mil bombeiros, policiais e outros funcionários foram convocados para combater fogos ao sul do centro de Chongqing. As autoridades disseram que os incêndios tinham sido debelados no começo da manhã de ontem, mas o estado de alerta seria mantido pelos próximos três dias, pelo menos, por causa do risco de que recomeçassem.
As secas aumentaram em todo o mundo desde o início do século por causa da degradação do solo e dos efeitos das mudanças climáticas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). As altas temperaturas e baixas índices pluviométricos registrados no sul da China provocam temores específicos quanto à produção de grãos, em especial a do arroz, que depende muito de água.
Segundo um comunicado de imprensa divulgado pelo Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China no fim de semana, o ministro Tang Renjian disse que em certas áreas afetadas pela seca o governo tentará aumentar o volume de chuvas artificialmente, ao mesmo tempo em que vai pulverizar as plantações com um agente de retenção de água para ajudar a evitar a evaporação.
“Embora acreditemos que a maior parte dos transtornos relacionados ao clima deva ser de curta duração, ainda persiste um risco mais alto para o fornecimento de grãos, em nossa opinião, seguido pelo alumínio, dada sua utilização muito elevada de energia, caso a seca e a baixa geração de energia hidrelétrica se estendam”, disseram analistas do Goldman Sachs em uma nota no domingo. Segundo eles, as seis províncias mais afetadas pela seca e pela onda de calor produziram 48% do arroz consumido pela China no ano passado.
Fonte: Valor Econômico
