Por Sha Hua e Yang Jie — Dow Jones Newswires
18/08/2022 05h03 Atualizado há 4 horas
Rios secos, calor escaldante e racionamento de energia em partes da China estão paralisando fábricas e ameaçando a produção agrícola, contribuindo para os problemas econômicos do país e repetindo as dificuldades causadas pelo clima extremo.
Partes da China enfrentam a pior onda de calor em 60 anos, com temperaturas que chegam a 43º C em muitas partes das regiões central e sudoeste do país, segundo serviços meteorológicos estatais, que preveem que as altas temperaturas no sul poderão durar outras duas semanas.
O calor coincidiu com a falta de chuvas, que foram 40% menores em julho do que no mesmo período do ano passado (e a menor desde 1961), e com os níveis de água nos trechos superiores do rio Amarelo – uma fonte crucial de energia hidrelétrica, transporte e água para agricultura – sendo os mais baixos desde o início dos registros, segundo dados divulgados na segunda-feira pelo Ministério de Recursos Hídricos da China. As altas temperaturas elevaram a demanda por ar-condicionado, sobrecarregando a rede elétrica.
O governo da cidade de Chongqing ordenou ontem que as fábricas locais suspendam suas operações até 24 de agosto para economizar energia após um período excepcionalmente quente ter levado a um aumento na demanda por eletricidade. Na segunda-feira, a província de Sichuan, no sudoeste, que depende muito da energia hidrelétrica, já havia ordenado a muitas fábricas de 19 cidades que paralisassem ou reduzissem a produção por seis dias, para priorizar no fornecimento de eletricidade às residências.
Os cortes, embora limitados até agora, estão afetando vários fabricantes globais. A Foxconn, que produz dispositivos para a Apple, teve que paralisar parcialmente a produção em uma fábrica. Um porta-voz disse que o impacto no momento não é significativo.
A Toyota e a Volkswagen (VW) disseram que suas fábricas em Sichuan suspenderam temporariamente as operações. A VW disse que vê um pequeno atraso nas entregas mas acredita que poderá compensar isso futuramente.
A produtora de alumínio Henan Zhongfu Industrial Co, também disse em um documento que suas subsidiárias baseadas em Sichuan terão que suspender a produção por uma semana, e algumas empresas de fertilizantes relataram impactos em sua produção.
O impacto das restrições de energia na produção industrial total da China em agosto será limitado, se elas durarem apenas os seis dias ordenados por Sichuan, diz Zhang Yiping, economista da China Merchants Securities. Mas a produção industrial da China já vinha sendo prejudicada pelas paralisações causadas pelos esforços para conter os surtos de covid-19 e os principais líderes chineses estão atentos aos problemas de fornecimento de eletricidade.
O vice-premiê chinês, Han Zheng, disse ontem que o governo garantirá o fornecimento de energia necessário para apoiar a economia do país e estabilizar os preços ao consumidor. Ele prometeu intensificar o apoio às usinas a carvão e evitar blecautes.
Sichuan tem uma população de 84 milhões e uma economia próxima da da Suíça. Ela dependeu da energia hidrelétrica para mais de 80% de sua geração de eletricidade em 2021. Embora a água disponível para a geração de energia hidrelétrica em Sichuan tenha diminuído 50% ao ano em agosto, a província – uma exportadora de energia – é obrigada a cumprir contratos de fornecimento para cidades como Xangai e províncias como Zhejiang, uma potência industrial da costa leste da China.
O rio Amarelo é o rio mais comprido da China e o terceiro mais longo do mundo. Em Hankou, o principal local de monitoramento do rio Amarelo, na cidade de Wuhan, na região central da China, os níveis da água caíram para o equivalente de cerca de 17,53 metros em 13 de agosto – os mais baixos para esta época do ano desde o início da série histórica, em 1865, segundo o Departamento de Recursos Hídricos da cidade.
Na terça-feira, o Ministério dos Recursos Hídricos disse que liberará 500 milhões de metros cúbicos de água da Barragem das Três Gargantas a fim de repor os volumes de água no trecho médio e baixo do rio Amarelo.
As cinco províncias e uma municipalidade afetadas pela seca responderam por cerca de 25% da produção total de grãos chinesa em 2021, segundo o Departamento Nacional de Estatística. O impacto da onda de seca e calor pode levar Pequim a importar mais milho do Brasil ou dos EUA, segundo a consultoria Sitonia Consulting.
O apagão de energia elétrica de seis dias em Sichuan para empresas industriais poderá puxar ainda mais para cima os preços do lítio, disse a corretora chinesa Guotai Junan Securities aos clientes em nota divulgada na terça-feira. Sichuan produz quase 33% do sal de lítio da China e 20% do total mundial. A oferta de sais de lítio é crucial para a fabricação de baterias de íons de lítio que ativam aparelhos como smartphones, laptops e veículos elétricos.
A produção de fertilizantes também pode ser prejudicada. A produtora de fertilizantes Sichuan Lutianhua disse em prestação de contas encaminhada ao órgão regulador das bolsas na segunda-feira que a queda de energia elétrica pode reduzir sua produção de ureia em cerca de 35 mil toneladas e sua produção de metanol em aproximadamente 10 mil toneladas, o que prejudicará os lucros. A Sichuan Meifeng Chemical Industry informou em prestação de contas semelhante que a suspensão da atividade causada pelo racionamento de fornecimento de energia elétrica deverá cortar a produção de ureia em cerca de 15 mil toneladas e a de fertilizante composto em cerca de 6 mil toneladas, sem ter, porém, um impacto significativo sobre o desempenho operacional da empresa. (Com Nikkei)
Fonte: Valor Econômico

