As relações Brasil-Israel ficarão abaladas, a não ser que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha uma postura diferente da que vem sustentando, afirma Ian Bremmer, presidente da consultoria Eurasia Group. “[A fala do brasileiro] impactará negativamente toda a diplomacia relevante, a menos e até que Lula faça um esforço para normalizar”, diz.
Ao Valor, Bremmer disse que Lula deveria pedir desculpas a Israel, e que o episódio em que o presidente comparou as ações israelenses na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus pela Alemanha nazista pode prejudicar a credibilidade da presidência do Brasil no G20, neste ano.
“Lula é particularmente franco em questões de política externa. A declaração que compara a guerra de Gaza ao Holocausto é extremamente exagerada, e ele deveria pedir desculpas por isso”, diz.
“[Por outro lado] Israel está cada vez mais isolado na cena global e especialmente no Sul Global. Embora isso crie algum desconforto em torno da credibilidade da presidência de Lula no G20, não creio que tenha um impacto significativo.”
Bremmer, que é doutor em Ciência Política pela Universidade Stanford, afirma que a reação do governo israelense não surpreendeu “dada a natureza da declaração de Lula”. “Eles não cortaram relações com o Brasil, declararam Lula persona non grata”, diz.
Ele afirma ainda que a fala de Lula no fim de semana deve ter algum impacto nas relações do Brasil com líderes políticos próximos a Israel. “As comunidades judaicas nesses países farão objeções vigorosas aos comentários de Lula”, acrescenta.
Questionado se o presidente Lula está perdendo credibilidade no exterior depois de relativizar a consolidação do autoritarismo na Venezuela sob o governo de Nicolás Maduro e comparar a ação de Israel em Gaza ao Holocausto, Bremmer sugeriu que líderes de potências emergentes, em geral, agem com cautela.
“Vamos colocar desta forma: Narendra Modi [o primeiro-ministro da Índia] nunca teria feito comentários como esses”, conclui.
Fonte: Valor Econômico