Por David Sheppard e Tom Wilson — Financial Times, de Viena
05/06/2023 05h01 Atualizado há 5 horas
A Arábia Saudita fará cortes adicionais de 1 milhão de barris por dia em sua produção de petróleo, em um esforço para sustentar os preços. O anúncio foi feito após reunião turbulenta da Opep+, que agrupa os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outros exportadores aliados, em Viena.
O ministro da Energia da Arábia Saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, líder da Opep, anunciou a medida como parte de um acordo pelo qual vários membros africanos da organização terão suas cotas reduzidas em 2024. A Rússia, segundo maior exportador, também pode ter suas metas de produção rebaixadas, embora a Opep+ tenha informado que isso ainda está sujeito a revisão. Por outro lado, Emirados Árabes Unidos poderão aumentar a produção.
Salman adotou a mudança como parte de esforços para apoiar os preços do petróleo, que têm caído nos últimos 10 meses, apesar das várias tentativas dos produtores de restringir a oferta.
Em abril, a Arábia Saudita e outros membros da Opep+ anunciaram corte surpresa, mas, após alta para US$ 90 por barril, os preços voltaram a cair e chegaram a US$ 70 por barril na semana passada.
Em princípio, o corte de 1 milhão de barris por dia será feito apenas em julho, mas poderá ser estendido. “Faremos o que for necessário para trazer estabilidade a esse mercado”, disse o ministro.
Após o anúncio, os preços subiram. Na abertura dos mercados, o barril do West Texas Intermediate (WTI) subiu quase 5% para US$ 75,06, e contratos futuros do Brent subiram para US$ 78,47 o barril.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), Riad precisa de um preço superior a US$ 80 por barril para equilibrar seu orçamento e financiar “gigaprojetos” com os quais o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, quer transformar a economia do país.
As metas coletivas de produção do grupo Opep+ foram ajustadas para 40,5 milhões de barris por dia para todo o ano de 2024. Isso formaliza e amplia os cortes voluntários anunciados em abril.
Mas a distribuição dos cortes gerou controvérsia. No começo da reunião, muitos membros africanos resistiram à ideia de rever para baixo suas metas base de produção, que supostamente refletem a capacidade máxima de produção e são usadas para calcular o tamanho dos cortes que podem fazer.
Os membros mais fracos da Opep, como Nigéria e Angola, já enfrentavam dificuldades para cumprir as metas de produção atuais, depois de anos de investimentos insuficientes, e relutavam em fazer cortes mais profundos.
Já os Emirados Árabes Unidos têm pressionado por uma meta de produção mais alta, que reflita seus investimentos no setor.
Segundo delegados, no sábado as discussões entre os membros foram até tarde da noite, depois da reunião dos países do núcleo da Opep. As negociações mais amplas da Opep+, envolvendo Rússia, Cazaquistão e México, começaram no domingo. “Nós, como sempre, encontramos pontos de entendimento”, disse o ministro da Energia da Rússia, Alexander Novak.
Em um sinal da tensão cada vez maior entre o ministro da Energia saudita e partes da imprensa, jornalistas de veículos como Reuters e da Bloomberg foram impedidos de assistir às reuniões.
A Opep tem enfrentado críticas por manter a aliança com a Rússia após a invasão à Ucrânia e por tentar sustentar os preços do petróleo, em meio à crise de energia desencadeada pela ofensiva de Moscou.
Fonte: Valor Econômico