O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse na quinta-feira que, embora os laços com os Estados Unidos tenham melhorado, Washington interpreta mal a China e que suas ações unilaterais contra Pequim serão um tiro pela culatra.
“Os Estados Unidos têm concebido várias táticas para conter a China e continuaram a aumentar a sua lista de sanções unilaterais, atingindo um nível desconcertante de absurdo”, disse Wang aos jornalistas à margem do Congresso Nacional do Povo, em Pequim.
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Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China — Foto: Tatan Syuflana/AP
A crítica de Wang surge meses depois de o presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente norte-americano, Joe Biden, terem se reunido na Califórnia num esforço para estabilizar as relações, concordando em intensificar o diálogo bilateral. Wang disse que os subsequentes intercâmbios de alto nível entre as duas maiores potências “satisfizeram os desejos de ambos os países e do mundo”.
Mas o chanceler chinês questionou a aplicação contínua de sanções relacionadas com a tecnologia por parte de Washington, tais como os esforços para limitar o acesso da China aos semicondutores.
“Se monopoliza persistentemente o topo da cadeia de valor e mantém a China no segmento inferior, onde estão a justiça e a concorrência?” Wang perguntou. “Se os Estados Unidos estiverem obcecados em boicotar a China, acabarão por prejudicar a si próprios.”
Respondendo a uma pergunta sobre como a China vê as tensões no Estreito de Taiwan após as eleições presidenciais da ilha autogovernada em janeiro, o diplomata reiterou o objetivo frequentemente repetido de Pequim de reunificação, ao mesmo tempo em que emitiu um aviso a qualquer pessoa no mundo que ofereça apoio às pretensões de independência de Taiwan. “Eles se queimarão por brincar com fogo”, disse ele.
O governo do Partido Comunista da China nunca governou Taiwan e a ilha continua a ser uma importante fonte de atrito com os Estados Unidos, devido a temores de um potencial conflito no estreito. O Partido Democrático Progressista, que mantém postura pró-independência, manteve a presidência, com Lai Ching-te prestes a suceder Tsai Ing-wen.
Wang também respondeu a perguntas sobre temas que vão desde o conflito em Gaza até os laços com a Rússia.
“A relação China-Rússia avança ao longo da tendência do tempo em direção à multipolaridade e a uma maior democracia nas relações internacionais”, disse Wang, acrescentando que a aliança com Moscou permite “interações positivas entre os principais países”. A adesão “sem limites” de Pequim à Rússia colocou-a em desacordo com os aliados ocidentais que estão aplicando pesadas sanções e pressão sobre o governo do presidente Vladimir Putin devido à invasão da Ucrânia.
A atenção da mídia estrangeira à entrevista coletiva de Wang cresceu em parte porque o briefing anual pós-congresso, historicamente feito pelo primeiro-ministro da China, foi abruptamente cancelado.
Como resultado, Wang provavelmente será o funcionário de mais alto escalão a ter contato direto com a imprensa.
Wang retomou em julho passado seu papel como ministro das Relações Exteriores depois que Qin Gang foi deposto sem explicação. Ele permanecerá no posto até que um substituto permanente seja escolhido. Por convenção, o ministro das Relações Exteriores é um dos quatro conselheiros de Estado, um posto acima do ministro no Conselho de Estado – o governo central da China. Mas essa posição ficou vaga desde a demissão de Qin.
Wang também é diretor da Comissão Central de Relações Exteriores do Partido Comunista, um órgão político liderado pelo presidente Xi Jinping.
O briefing de quinta-feira seguiu de perto a decisão da candidata presidencial republicana dos Estados Unidos, Nikki Haley, de desistir da disputa, deixando o ex-presidente Donald Trump como o único candidato do partido nas eleições de novembro. Trump é conhecido pela sua política externa “América em primeiro lugar”, e a possibilidade de ganhar uma segunda presidência é outro factor imprevisível que paira sobre a relação Estados Unidos-China.
Fonte: Valor Econômico

