Especialistas alertam para o risco de bronquiolite, causada pelo vírus sincicial
Os dias mais frios e secos do outono e inverno acendem alerta para o aumento da circulação dos vírus causadores da bronquiolite, gripe, pneumonia e outras doenças respiratórias. Os bebês e as crianças são alvos frágeis.
Destacam-se o VSR (vírus sincicial respiratório), o influenza, parainfluenza, bocavírus humano, vírus metapneumônico, adenovírus e o rinovírus.
Para as crianças, especialistas apontam o VSR, causador da bronquiolite, como um dos mais perigosos. Os números do último boletim do InfoGripe, divulgado na quinta-feira (4) pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), confirmam o temor.

Nas últimas quatro semanas, ele foi responsável por 48,6% dos casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) com resultado laboratorial positivo para os pequenos. No mesmo período, a Covid-19 predominou em adultos.
“Embora para o VSR ainda não tenhamos vacina disponível, levar às crianças para tomar as vacinas contra a gripe e a Covid-19 reduz a chance de problemas respiratórios por esses outros vírus que também são perigosos. Isso diminui a própria exposição das nossas crianças ao sincicial nos hospitais e postos de saúde”, ressaltou o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.
O que é a bronquiolite
A bronquiolite é causada principalmente pelo VSR e acomete com mais frequência os bebês —em especial, os menores de um ano—, além das crianças pequenas, afirma a pediatra Ana Escobar, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP.
“Em vários hospitais, predominam as internações de bebês com bronquiolite [inflamação aguda dos bronquíolos, responsáveis por conduzir o ar dentro dos pulmões]”, relata a especialista.
Os principais sintomas são coriza, tosse, febre —pode ser baixa—, falta de ar e chiado ao respirar. “A característica principal é que o bebê cansa para respirar, fica chiando. É como se tivesse uma asma. O vírus inflama os bronquíolos e o ar não passa. Ele fica com a oxigenação muito baixa e maior dificuldade para respirar”, explica Escobar.
O período crítico bronquiolite ocorre entre o quinto e sétimo dia, mas pode vir mais cedo. “Crianças com dificuldade respiratória precoce na evolução da doença possuem alto risco de desenvolverem insuficiência respiratória quando alcançarem o pico”, conforme explica o infectologista e pediatra Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Paulista de Pediatria e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Otsuka lembra que as crianças com problema cardíaco, pulmonar pregresso ou que nasceram prematuras, abaixo de 28 semanas, por exemplo, entram no protocolo do Ministério da Saúde para receberem o palivizumabe.
O medicamento, fabricado pela AstraZeneca, impede o desenvolvimento da infecção pelo VSR. “São cinco doses, uma por mês. Elas devem sair da maternidade com a medicação aplicada. Quem puder, é melhor”, reforça o infectologista pediátrico.
O palivizumabe é destinado apenas para uso hospitalar. No Brasil, está disponível no SUS e tem cobertura obrigatória pelos planos de saúde.
Como proteger contra as doenças respiratórias
- Mantenha a carteirinha de vacinação em dia.
- Aleitamento materno, principalmente antes dos seis meses e até quando for possível.
- Hidratação e alimentação saudável com frutas, legumes e verduras, para fortalecer o sistema imunológico.
- Sono: as crianças devem dormir 8 horas por dia e os adolescentes, 9 horas. Para manter o bem-estar, eles precisam dormir um pouco mais. Os adolescentes ficam acordados e nas telas até muito tarde. A privação do sono pode causar infecções, de acordo com Escobar.
- Ambientes arejados: vale para qualquer lugar, inclusive nas escolas e creches. “Não mandem os filhos doentes para a escola. Na sala de aula, os professores devem ficar atento a sintomas respiratórios, como espirro e tosse, além de febre. O ideal é tirar o aluno da sala e chamar os pais”, orienta Escobar.
- Incentive a higiene das mãos e a respiratória, com a limpeza das vias aéreas. Nos pequenos, cuidado com o compartilhamento dos brinquedos.
- Evite o contato com a criança enquanto estiver doente. “Um resfriado simples para mim pode ser grave para ela. O senso de coletivo, de higiene, de proteção ambiental a partir do momento que temos alguém doente, e o conceito de proteger as crianças contra a infecção são fundamentais”, diz Otsuka.
- A máscara diminui a chance de ter qualquer doença respiratória. Quem está com sintomas gripais deve usá-la se precisar ter contato com outras pessoas.
Zé Gotinha ‘caça’ crianças para incentivar vacinação infantil contra a Covid
Capital paulista tem alta ocupação na UTI por doenças respiratórias
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, até sexta-feira (5), a ocupação dos leitos municipais pediátricos em UTI era de 84% —destes, 70% de causas respiratórias.
Ao longo do mês de abril de 2023, foram notificados 425 casos de SRAG, sem ser por Covid-19, em menores de 12 anos nos hospitais da capital, incluindo os privados.
Nos hospitais infantis Darcy Vargas e Cândido Fontoura —referências estaduais para atendimento pediátrico, no período entre 1º de abril a 1º de maio de 2023, foram registradas 189 internações causadas por vírus respiratórios, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.
Fonte: Folha de São Paulo