06/09/2023 07h10 Atualizado há 2 horas
A guerra na Ucrânia acabou de completar um ano e meio e todos os sinais são de que o conflito vai durar muito tempo ainda. Os dois lados buscam vencer pela exaustão, tanto militar quanto econômica. Como ambos demonstram ter recursos e disposição de usá-los, dificilmente haverá estímulo para uma negociação de paz. O que pode mudar esse cenário é uma inesperada piora na economia russa e uma vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana em novembro do ano que vem.
A Ucrânia vem realizando desde maio uma contraofensiva nas regiões ocupadas pelos russos no sul e no leste do país. Obteve ganhos modestos até agora, com retomada de pouco território. O avanço, contra uma defesa russa que teve tempo de se preparar, é lento e tem um custo elevado, tanto material como humano.
Segundo estimativa americana divulgada há algumas semanas pelo jornal “The New York Times”, o número de soldados mortos e feridos na guerra já estaria na casa de 500 mil. Os soldados russos mortos seriam 120 mil, com até 180 mil feridos. No lado ucraniano, haveria 70 mil mortos e até 120 mil feridos. Nem Moscou nem Kiev divulgam dados oficiais críveis de baixas em combate.
O governo russo parece contar com uma dificuldade maior do inimigo de repor as suas tropas. Antes da guerra, a Ucrânia tinha população perto de 44 milhões e efetivo militar de 500 mil. Já a Rússia tinha 100 milhões de habitantes a mais e 1,33 milhão de soldados. Assim, ainda que a Rússia esteja perdendo mais tropas, uma guerra longa jogaria a seu favor.
Enquanto tiver apoio militar e econômico do Ocidente, a Ucrânia deverá ter fôlego para seguir lutando. A Rússia, segundo analistas militares, tem sofrido com escassez de equipamentos e munição. O presidente Vladimir Putin deve se reunir em breve com o líder da Coreia do Norte, possivelmente na próxima semana, para negociar a compra de armas.
A economia russa também dá sinais de estar sofrendo após um ano e meio de guerra: o rublo perdeu 50% do seu valor em relação ao dólar, a inflação, o gasto e o déficit públicos dispararam e há falta de mão de obra devido à mobilização de guerra. Mas não houve o colapso econômico que muitos previam após as sanções ocidentais, e acredita-se que Moscou ainda poderá sustentar por um bom tempo o seu esforço de guerra.
Assim, nada sugere que um dos lados esteja perto da exaustão. E com isso, nem Rússia nem Ucrânia sinalizam disposição de buscar uma saída negociada para a guerra.
Recentemente, uma autoridade da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar ocidental) sugeriu que a Ucrânia poderia ceder território à Rússia em troca de um acordo de paz. A sugestão foi prontamente rejeitada e criticada por Kiev, e a Otan teve de formalmente reiterar sua posição oficial de que a decisão de como e quando negociar é do governo ucraniano.
Moscou também rejeita negociações e deve manter essa posição até ao menos as eleições do ano que vem nos Estados Unidos. Isso porque a principal chance de uma reviravolta na guerra seria com a vitória eleitoral de Donald Trump. O republicano já disse que pretende rever o apoio americano à Ucrânia, caso seja eleito. Alguns analistas sugerem que Trump poderia até mesmo retirar os EUA da Otan.
Os aliados europeus parecem levar esse risco a sério e se preparam para acelerar a produção local de armas, para o caso de terem de apoiar sozinhos o esforço de guerra da Ucrânia. Não se sabe, porém, se a Europa teria essa capacidade militar e econômica, além da disposição política para isso.
Ou seja, a maior chance de a Rússia ganhar a guerra ou, pelo menos, de conseguir condições vantajosas num acordo de paz reside na eleição de Trump. Para isso, Moscou deve tentar manter os territórios já ocupados na Ucrânia e não se engajar em nenhuma iniciativa de paz até novembro de 2024.
Tudo indica, assim, que o conflito prosseguirá ao longo de todo o ano que vem, mantendo o impacto negativo que vem tendo na economia mundial.
Fonte: Valor Econômico

