Por Chelsey Dulaney, Evan Gershkovich e Victoria Simanovskaya — Dow Jones Newswires
02/03/2023 05h02 Atualizado há 4 horas
A economia da Rússia, privada das redes financeiras ocidentais e do dólar americano, abraçou uma nova alternativa: o yuan chinês.
Cada vez mais os exportadores de energia russos recebem em yuan. O fundo soberano de investimentos da Rússia, que financia os gastos do governo sobrecarregados pela guerra na Ucrânia, está usando a moeda chinesa para conservar suas riquezas provenientes do petróleo. Empresas russas estão contraindo empréstimos em yuan, e as famílias estão poupando na moeda chinesa.
A ascensão da moeda chinesa dentro da Rússia aprofunda os laços entre os dois países, que há muito rivalizam no esforço para exercer influência global, mas que se aproximaram em meio ao descontentamento com o Ocidente.
Um porta-voz do Ministério das Finanças russo disse que o yuan está “assumindo um papel cada vez mais importante” em seu fundo soberano, que dobrou a parcela de yuans que pode manter em sua carteira para 60% em dezembro. O Ministério começou a vender yuans em janeiro para cobrir seu crescente déficit orçamentário.
A parcela das exportações russas que foram pagas em yuans aumentou para 14% em setembro, segundo o banco central russo. Isso representa um aumento de 0,4% em relação a antes do início da guerra. Porta-vozes do banco central da China não responderam aos pedidos para comentários.
A Rússia começou a reduzir sua dependência do dólar em 2014, após ter anexado a Crimeia. Em 2018, depois que os EUA impuseram sanções econômicas adicionais, o país começou a vender suas posições em bônus do Tesouro americano e a explorar os negócios em rublos e outras moedas.
Começou um processo de desdolarização que se ampliou no ano passado e passou a incluir o euro. Os países ocidentais congelaram US$ 300 bilhões em reservas internacionais da Rússia e expulsaram alguns de seus bancos do sistema de mensagens Swift, que serve de base para a maioria dos pagamentos globais, em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia.
Os russos não estão totalmente proibidos de usar dólares ou euros, e os bancos não sancionados continuam fazendo negócios em moedas estrangeiras.
O aquecimento do comércio entre a Rússia e a China contribui para o apelo do yuan. A China tornou-se uma grande compradora do petróleo russo rejeitado pelo ocidente, e a Rússia ficou mais dependente da China para semicondutores e outras tecnologias.
As empresas russas também se voltaram para o yuan e passaram a emitir dívida na moeda chinesa em valor equivalente a mais de US$ 7 bilhões no ano passado, segundo dados da Refinitiv. Nas últimas semanas, a taxa yuan-rublo foi a mais negociada na Bolsa de Valores de Moscou em volume diário.
A Bistrodengi, uma plataforma russa de serviços financeiros, começou a vender bônus em yuan no ano passado, apesar de não fazer nenhum negócio na moeda chinesa. O diretor financeiro da empresa, Yakov Romashkin, disse que emitir dívida em yuan é muito mais barato do que em rublos. Seus títulos oferecem uma taxa de cupom (juro nominal) de 8%, em vez dos 19% que provavelmente teriam de ser pagos se a emissão de dívida fosse em rublos.
Também as famílias russas começaram a se interessar mais pelo yuan. Quase 50 instituições financeiras oferecem contas de poupança na moeda chinesa, de acordo com o site de comparação Banki.ru. O primeiro fundo de índice denominado em yuan foi lançado na Bolsa de Moscou em janeiro.
No fim de 2022, as famílias russas tinham o equivalente a quase US$ 6 bilhões em yuans depositados em bancos russos, segundo dados do banco central. O valor, que era zero no início de 2022, hoje corresponde a mais de um décimo dos US$ 53 bilhões em moeda estrangeira detidos por famílias.
Fonte: Valor Econômico

