Por Vince Golle e Reade Pickert, Bloomberg
27/06/2023 16h22 Atualizado há 15 horas
Uma enxurrada de dados demonstrou força surpreendente em várias esferas da economia dos EUA, pintando um quadro de resiliência e adiando mais uma vez qualquer probabilidade de recessão.
As compras de imóveis residenciais novos subiram para seu ritmo anual mais acelerado em mais de um ano, as encomendas de bens duráveis superaram as estimativas e o grau de confiança do consumidor alcançou o nível mais elevado desde o início de 2022, segundo relatórios divulgados nesta terça-feira (27). Outros resultados mostraram que os preços dos imóveis residenciais americanos aumentaram pelo terceiro mês consecutivo.
“A visão de consenso prevê, obstinadamente, o início de uma recessão dentro de alguns meses, mas os dados da economia revelam uma narrativa muito diferente neste momento”, disse Stephen Stanley, economista-chefe para os EUA do Santander US Capital Markets, em nota. “A palavra de ordem continua sendo resiliência.”
Embora os dados não rejeitem a possibilidade de uma recessão no ano que vem, dão, efetivamente, motivos para acreditar que uma retração econômica não está próxima de acontecer, menos ainda uma conclusão anunciada de antemão. Os relatórios mais recentes sobre vendas do varejo, gastos do consumidor corrigidos pela inflação e mercado de trabalho também sustentam essa visão.
Os títulos do Tesouro dos EUA recuaram após a divulgação dos relatórios, menosprezando as especulações de que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) retomará a elevação das taxas de juros após a pausa deste mês. Seu presidente, Jerome Powell, poderá reforçar essa inclinação nesta quarta-feira, quando se reunirá com outros diretores de BCs em fóruns na Europa.
A recuperação da demanda por imóveis residenciais, apesar das altas taxas do crédito imobiliário, sugerem que a economia, até agora, mostra boa resistência ao aumento dos custos da tomada de empréstimos. Embora os mutuários relutem em mudar e assumir um crédito imobiliário maior, os compradores potenciais, diferentemente, se ajustaram à mudança e procuram cada vez imóveis mais novos.
As compras de novas residências unifamiliares aumentaram 12,2%, para um ritmo anualizado de 763 mil no mês passado, segundo revelaram nesta terça dados do governo. O número marca o terceiro mês consecutivo de avanço e supera todas as estimativas, com exceção de uma, captadas por levantamento da Bloomberg junto a economistas.
Embora os consumidores tenham mostrado em junho menor apetite para comprar um imóvel residencial e outros bens de maior porte, como automóveis e eletrodomésticos, o grau de confiança aumentou no mês, segundo o índice da organização americana independente Conference Board. A expansão foi impulsionada pelo maior otimismo com relação ao mercado de trabalho e à expansão da economia.
Embora a medida das expectativas utilizada pelo grupo — que reflete a perspectiva de seis meses dos consumidores — tenha subido para seu nível mais elevado deste ano, sinaliza ainda que “os consumidores preveem uma recessão em algum momento do próximo período de 6 a 12 meses”, disse Dana Peterson, a economista-chefe do Conference Board.
“Ainda prevemos que uma recessão se descortine em 2023, mas o índice de confiança sugere que a retração poderá começar num período posterior, e não anterior, a janela”, diz Jonathan Church, da Bloomberg Economics.
Os sólidos dados de grau de confiança e de compras de imóveis residenciais estão enraizados num mercado de trabalho que ainda se revela sólido. O desemprego está historicamente baixo e a criação de novas vagas, abundante, embora ambos esses índices tenham perdido força nos últimos meses.
Os dados desta terça também são sinais positivos de crescimento econômico. As encomendas de equipamentos comerciais às fábricas subiram em maio pelo segundo mês seguido, o que indica que as empresas continuam a fazer investimentos de longo prazo apesar dos elevados custos de tomada de empréstimos e da incerteza econômica.
As remessas de bens de capital (excluindo-se os da área de defesa), que são bons indicadores dos gastos reais, deram um salto de 3,4%, o maior desde o fim de 2020. Isso é bom prenúncio para a magnitude a ser alcançada pelo Produto Interno Bruto (PIB) neste trimestre, disse Jennifer Lee, economista-sênior da BMO Capital Markets.
“Conversas sobre uma recessão adiada (coisa que não é ruim, por ser adiada) nos EUA conquistaram mais seguidores nas últimas semanas”, disse Lee em nota divulgada ontem. “A mais recente rodada de divulgações de dados econômicos foi incontestavelmente sólida.
Fonte: Valor Econômico
