Por Bloomberg
29/11/2022 05h00 Atualizado
A China pode encerrar sua política de zero-covid antes do que se esperava, com grande risco de uma saída conturbada, dados o aumento do número de casos e os protestos de moradores contra os controles impostos para combater a disseminação do vírus, de acordo com vários analistas.
O Goldman Sachs, por exemplo, vê algum risco de uma saída “desordenada” e mantém sua previsão de que a China tem uma probabilidade de 30% de reabrir antes do segundo trimestre de 2023. Para a consultoria Teneo Holdings, a tensão social pode levar o governo a agir mais rapidamente para ajustar sua abordagem de tolerância zero no combate à doença.
“O governo central pode precisar escolher em breve entre mais lockdowns e mais surtos de covid”, escreveu Hui Shan, economista-chefe do Goldman para a China. Segundo ela, os governos locais têm tido dificuldades para “equilibrar de maneira rápida” o controle do vírus e a implementação das últimas medidas, que exigem uma abordagem mais direcionada.
A política de zero covid prejudicou a economia, com seus controles cada vez mais rígidos que restringem a mobilidade das pessoas e interrompem as atividades das empresas. A turbulência em uma fábrica da Apple em Zhengzhou, que tem sofrido com lockdowns e protestos de trabalhadores, deve resultar em uma queda na produção do iPhone Pro de quase 6 milhões de unidades.
Yao Yang, professor e reitor da Escola Nacional de Desenvolvimento e diretor do Centro de Pesquisa Econômica da China da Universidade de Pequim, estima que a economia da China – avaliada em 114 trilhões de yuans (US$ 16 trilhões) em 2021 – já perdeu mais de 3 trilhões de yuans até agora neste ano ao priorizar sua política de covid zero sobre o desenvolvimento econômico.
Embora o governo tenha divulgado recentemente uma cartilha de 20 pontos destinada a relaxar alguns dos controles mais rígidos na China, muitas cidades continuaram a fechar comunidades para controlar a disseminação do vírus à medida que o número de casos saltava para níveis recordes.
As restrições provocaram protestos no fim de semana nas principais cidades do país, como Xangai e Pequim, para pressionar o presidente Xi Jinping e seu governo a ajustarem sua abordagem.
“Não tenho nenhuma expectativa de que Xi admita publicamente que errou ou demonstre fraqueza, mas esta onda de protestos pode fazer a liderança decidir privadamente que o encerramento dessa política precisa ocorrer mais rápido do que estava planejado”, disse Gabriel Wildau, diretor-gerente da Teneo em Nova York.
O índice de referência de ações da China, o CSI 300, fechou ontem com um recuo de 1,1%, a maior queda em um mês, em meio aos temores dos investidores de que os protestos criem mais incerteza para o caminho do país em direção à reabertura.
O vice-diretor de pesquisa da Gavekal Dragonomics na China, Christopher Beddor, delineou dois cenários alternativos para o encerramento da política. O cenário otimista envolveria a continuação de muitas das restrições para combater a covid, mas “não incluiria lockdowns prolongados”. O objetivo, segundo ele, não seria minimizar o número de casos, mas evitar sobrecarregar os hospitais e reduzir o número de mortes.
Em um “cenário mais conturbado”, o ciclo de lockdowns e protestos locais continuaria por semanas, e algumas cidades ainda tentariam conter o vírus enquanto em outras ele se espalharia e sairia de controle. “Em qualquer dos casos, a China terá chegado ao início do fim da zero-covid”, disse Beddor.
A economista-chefe para a China do Hang Seng Bank, Dan Wang, disse que uma “reabertura rápida ou precipitada” seria pior para o crescimento da China. Segundo ela, se a política para a covid for relaxada muito rapidamente, existe o risco de que haja um salto no número de mortes, como ocorreu em Pequim recentemente. “Isso pode resultar em uma posição muito embaraçosa para muitos governos locais no que se refere a prioridades em sua reabertura industrial.”
Hui, do Goldman, afirmou que o agravamento da situação relativa ao vírus impõe riscos negativos à projeção do banco para o quarto trimestre. O Goldman prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) chinês cresça 3% neste ano. Ela estima em 60% as chances de Pequim encerrar sua política de covid zero no segundo trimestre.
Na semana passada, o banco de investimentos Nomura já havia cortado sua previsão de crescimento do PIB da China para o quarto trimestre de 2,8% para 2,4% em termos anuais, e a previsão para 2022 de 2,9% para 2,8%.
As autoridades chinesas tentam conter os prejuízos econômicos com a adoção de políticas mais favoráveis, já que os primeiros dados de novembro sugerem uma desaceleração na atividade em relação a outubro. Juntamente com os transtornos relacionados à covid, a atual turbulência no setor imobiliário continua a ser um grande risco para as perspectivas da China.
Na sexta-feira, o Banco Popular da China anunciou que reduzirá o volume de dinheiro que os bancos precisam manter como reserva, pela segunda vez neste ano. (Com agências internacionais)
Fonte: Valor Econômico

