Por Fernanda Guimarães — De São Paulo
11/04/2024 05h02 Atualizado há 5 horas
As gestoras que compram participações em companhias garantiram no Brasil um retorno de 5,8 vezes o valor investido ao longo dos últimos 30 anos de atividade no país. Estudo feito em parceria entre Spectra, Insper e Abvcap – associação que reúne essas gestoras – mostra, contudo, o desafio cambial desses fundos: quando medido em dólar, o retorno ficou em 2,9 vezes.
O retorno é medido pelo múltiplo de capital investido, conhecido pela sigla MOIC, indicador utilizado pela indústria. Isso significa, conforme o estudo, que para cada R$ 1 investido na compra de uma participação em uma empresa, o retorno no momento da venda pelos fundos foi de R$ 5,8, considerando esse intervalo.
O número se mostra bastante positivo se analisado em comparação com a média global. Nela, o retorno dos fundos foi de 2,19 vezes no intervalo entre 2015 e 2019, ou seja, 75% do apresentado na fotografia brasileira.
O levantamento, enviado com exclusividade ao Valor, analisou um total de 1.047 investimentos realizados pelos fundos de private equity, que são os que fazem aportes em empresas mais maduras, e aqueles realizados pelos de venture capital (VC), que preferem startups, e desinvestidos no intervalo entre 1994 e 2023.
Desse montante, 46% representaram vendas de empresas de tecnologia. Esses investimentos, antes concentrados nos VCs, a cada dia começam a ganhar espaço nos fundos de private equity, ajudando, ainda, no retorno e trazendo um ingrediente de risco às carteiras. “O setor de tecnologia dominou como o principal ator de crescimento”, afirma Andrea Minardi, professora do Insper e uma das responsáveis pelo estudo. O levantamento mostra que, considerando apenas os ativos “não techs”, o retorno foi de 2,6 vezes, 66,7% da média do setor de tecnologia, mas em linha com investimentos de menor risco.
“O setor de tecnologia dominou como o principal ator de crescimento no período” — Andrea Minardi
No caso dos investimentos do setor de tecnologia, 8% tiveram um retorno acima de dez vezes, evidenciando a rentabilidade que pode ser encontrada no setor. Por outro lado, o maior risco intrínseco também ficou em evidência no estudo: 40% dos investimentos registaram perda total, e 18%, perda parcial. Ainda de acordo com o estudo, o retorno máximo observado no segmento foi cerca de oito vezes superior ao melhor retorno observado nos “não tech”.
Outro apontamento é que uma pequena proporção dos investimentos tech tem influência direta na alta média dos retornos: 15% das transações contribuíram com 85% do retorno médio. No setor “não tech”, essa distribuição é mais proporcional: 11% das transações consideradas fora da curva responderam por 42% da média de retorno.
O estudo não captou, por outro lado, os desinvestimentos feitos pelos fundos das compras efetuadas no setor de tecnologia ao longo do período de pandemia, um momento em que a ampla liquidez global e a corrida por digitalização inflaram os preços dos ativos do setor.
“A primeira grande mensagem do estudo é que o retorno é muito bom e temos visto cada vez mais a penetração de transações de tecnologia acontecendo” afirma o sócio da Spectra Investments, Rafael Bassani. “O estudo também mostra que há oportunidade nos dois setores [tech e não tech]”.
A presidente da Abvcap e uma das principais sócias da gestora Crescera, Priscila Rodrigues, aponta que é natural que as empresas de tecnologia rompam a barreira do venture capital rumo às carteiras de private equity, principalmente porque essas companhias estão, após as primeiras rodadas de captações, mudando de nível e com novas necessidades. “À medida que essas empresas vão crescendo, vão aumentando os desafios. Não se trata apenas do tamanho de cheque, mas o tipo de estrutura”, afirma a executiva. Segundo ela, essa tendência veio para ficar e, atualmente, a presença de tecnologia já está hoje em todos os setores, mesmo os não ligados diretamente a isso.
Minardi, do Insper, afirma que, com o passar do tempo, as gestoras de private equity também passaram a “aprender a linguagem” das empresas de tecnologia, algo que tem ajudado nos aportes. Outra mudança foi entender melhor a diferença de precificação entre as empresas, e uma melhor compreensão sobre métricas financeiras, explica.
O levantamento trouxe ainda uma fotografia das formas de desinvestimentos dos fundos. Embora ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) sejam o modo majoritariamente preferido na hora de saída das investidas, visto que os múltiplos observados são historicamente mais altos no Brasil, a venda para investidores estratégicos segue como a principal opção das gestoras, mostra o estudo. Do total de saídas analisadas, metade foi em vendas para investidores estratégicos, em uma clássica operação de fusões e aquisições (M&A, pela sigla em inglês). Se analisado apenas o recorte das empresas não tecnológicas, a venda do ativo para um investidor estratégico chegou a 67% no intervalo analisado e de 40% para as de tecnologia. Os desinvestimentos via IPOs, por outro lado, representaram 11% e 4%, respectivamente.
Fonte: Valor Econômico

