Por Bloomberg
05/05/2023 05h01 · Atualizado há 4 horas
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A pesquisa de atividade industrial chinesa junto aos gerentes de compras apurado pela Caixin caiu de 50 em março para 49,5 no mês passado, o que aponta para uma queda na produção industrial pela primeira vez desde janeiro, segundo comunicado divulgado ontem pela Caixin e pela S&P Global.
É um grande contraste com os números robustos do setor de turismo durante o feriado de cinco dias do Dia do Trabalho, em que as viagens dentro do país cresceram 19% acima dos níveis de 2019, ou seja, antes do início da pandemia de covid-19. Mas os gastos dos turistas, em termos de valores, não foram tão fortes, e chegaram a quase o mesmo nível do período pré-covid, uma indicação de cautela dos consumidores.
Os dados mais recentes sugerem que a recuperação da economia está cada vez mais irregular e isso turva as perspectivas de crescimento após a expansão acima da esperada no primeiro trimestre.
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A recuperação da China segue um padrão semelhante ao de outros países após a reabertura pós-covid, em que a demanda por bens desacelera à medida que os consumidores aumentam os gastos com serviços, como viagens e idas a restaurantes. Também há uma série de outros riscos: a recuperação do mercado imobiliário apenas começou e o investimento nele segue em queda, o desemprego continua alto, especialmente entre os jovens, e as famílias ainda buscam reforçar suas poupanças.
“A parte fácil da recuperação pós-reabertura da China – que inclui a recuperação total da mobilidade e a liberação da demanda reprimida em setores selecionados – está concluída”, escreveram economistas do Goldman Sachs Group, incluindo Wang Lisheng. “A próxima etapa da recuperação do consumo dependerá de um crescimento maior da renda e da melhora na confiança do consumidor, o que tornará o modelo de recuperação mais sustentável.”
Ontem, o índice CSI 300, de ações chinesas, fechou quase estáveis, após ter caído até 0,7% no início do dia, enquanto traders e investidores analisavam os dados contrastantes de atividade industrial e do setor de serviços.
A explosão nas viagens pode ter tirado espaço de outros tipos de gastos, como as vendas de ingressos de cinema. A receita nacional de bilheteria ficou em 1,52 bilhão de yuans (US$ 220 milhões) durante o feriado, 9% abaixo do nível de 2021 e perto do valor de 2019, segundo a plataforma de venda de ingressos pela internet Maoyan Entertainment. Os números ficaram aquém das expectativas de analistas, o que causou uma queda nas ações dos cinemas ontem.
A recuperação desigual reitera o prognóstico cauteloso dos dirigentes chineses sobre a recuperação e sua promessa da semana passada de manter a política monetária e fiscal favorável em meio à demanda insuficiente na economia. Um alto funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) disse nesta semana que a China “tem espaço político para manter a política monetária acomodatícia porque a inflação está hoje bastante contida”.
A pesquisa da Caixin – que cobre empresas menores e voltadas para a exportação, em comparação com o índice PMI oficial – mostra que a demanda interna foi o “principal freio” para a manufatura em abril. Um subíndice sobre o total de novas encomendas voltou a mostrar contração no mês.
“Isso sugere que a recuperação econômica da China desacelerou de forma expressiva depois do pico de novos casos de covid-19 no início do ano”, disse Wang Zhe, economista da Caixin Insight Group, em um comunicado que acompanha os dados. “Resta saber se a recuperação é sustentável depois da liberação de curto prazo da demanda reprimida.”
O mercado de trabalho também se deteriorou, segundo Wang. “Como a demanda do mercado continuou modesta, as empresas que tentavam cortar custos relutaram em contratar mais funcionários e algumas anunciaram demissões”, disse.
A expectativa dos economistas é de que a aceleração no consumo alimente a recuperação da economia neste ano. Segundo a última pesquisa da Bloomberg, é provável que o crescimento chegue a 5,6% em 2023. Isso está acima da meta oficial de Pequim, de cerca de 5%.
A pesquisa Caixin PMI “na verdade tem um pequeno ponto positivo – novas encomendas para exportação se mantiveram estáveis na maior parte”, avaliam Chang Shu e David Qu, da Bloomberg Economics. “Mas consideramos isso insustentável. O enfraquecimento da demanda no exterior e o stress no sistema mundial fazem que seja difícil sentir-se otimista sobre as perspectivas de exportação da China.”
Em um relatório divulgado na quarta-feira, economistas da Nomura Holdings, incluindo Lu Ting, veem uma desaceleração no crescimento dos serviços presenciais nos próximos meses, à medida que diminuiu a demanda reprimida. “A fraca recuperação imobiliária, uma desaceleração mundial e o crescimento do conflito geopolítico continuam a ser os principais desafios para que a recuperação da China se sustente.”
Fonte: Bloomberg / Valor Econômico

