Por Felipe Laurence e Victor Meneses — De São Paulo
08/04/2024 05h01 Atualizado há 5 horas
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Puxadas pelas empresas voltadas para o mercado doméstico e pela continuidade no corte de custos, que compensou o momento fraco das commodities, as companhias brasileiras de capital aberto tiveram um bom desempenho de resultados no quarto trimestre de 2023, com evolução do lucro e das receitas na comparação anual e também sobre o terceiro trimestre.
O bom momento, na opinião de analistas, abre uma perspectiva de desempenho positivo ao longo deste ano em especial para companhias domésticas, apoiada na queda dos juros e no aumento do consumo.
Levantamento do Valor Data com 394 empresas não financeiras mostra que o lucro líquido dessa amostra chegou a R$ 54,1 bilhões, alta de 12,6% na comparação anual e 20,4% sobre setembro. Já as receitas alcançaram R$ 913,5 bilhões entre outubro e dezembro, crescimento de 3,4% sobre o mesmo período de 2022 e de 4,9% ante o terceiro trimestre.
Os números excluem Petrobras e Vale, pelo tamanho das companhias, para evitar uma distorção do resultado, e empresas que passaram por processos recentes de recuperação judicial cujos números são muito díspares na comparação anual, caso de Oi, Light e Paranapanema.
Apesar da melhora, os analistas ouvidos pelo Valor consideraram os resultados do quarto trimestre “neutros”, ou seja, sem muitas surpresas e na maior parte dentro das expectativas que o mercado tinha para o trimestre.
Empresas que atuam no setor doméstico tiveram desempenho mais positivo do que as de exportação de commodities, impactadas pela queda nos preços e também pelo fato de o dólar ter se mantido em torno de R$ 4,80.
“No consolidado, os resultados vieram só 4% abaixo do que esperávamos, o que consideramos um desempenho neutro”, comenta Aline Cardoso, chefe de pesquisa e estratégia para ações do Santander. “Ainda assim, tivemos um trimestre em que o lucro das empresas cresceu em média 3%, em comparação com a queda de 20% no terceiro trimestre.”
“Contra as nossas expectativas, o trimestre foi um pouco pior do que esperávamos, principalmente no Ebitda e no lucro, mas na comparação anual inegavelmente foi um desempenho bem forte”, diz Carlos Eduardo Sequeira, chefe de pesquisa do BTG Pactual. Ele destaca o desempenho das empresas que atuam no setor doméstico, apoiado no melhor desempenho econômico, no período.
Os setores de energia, saneamento e telecomunicações foram os que ficaram, em geral, acima das expectativas. No primeiro, a maior demanda por energia elétrica e os preços mais altos, decorrência das altas temperaturas, acabou impulsionando resultados durante os três meses finais do ano.
Já as empresas de telecomunicações, em especial TIM Brasil e Telefônica Brasil, se aproveitaram de um ambiente competitivo mais “racional” – com ofertas menos agressivas – e conseguiram repassar aumentos de preços acima da inflação aos clientes. A redução nos investimentos também acabou gerando um aumento significativo de margens e geração de caixa robustas.
No geral, o que chamou a atenção dos analistas foi a melhoria na eficiência que as empresas domésticas apresentaram no quarto trimestre, com expansão de margens e geração de caixa robusta graças às iniciativas tomadas nos últimos anos. “Um cenário mais duro gerou a necessidade das empresas buscarem essa eficiência de margens maior”, diz Sequeira, do BTG.
Em levantamento do Bank of America (BofA), que leva em conta 79 empresas que compõem o Ibovespa, inclusive companhias financeiras, o lucro por ação teve queda de 13%, enquanto o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) caiu 3% e as receitas se mantiveram estáveis, na comparação anual. Sobre o terceiro trimestre, o lucro por ação caiu 1% no ano, o Ebitda subiu 15% e as vendas caíram 6%.
Quando retirados efeitos de empresas de energia e materiais básicos, notadamente Petrobras e Vale, o lucro por ação teve crescimento de 21% no quarto trimestre, sobre o mesmo período de 2022, com o Ebitda também subindo 21% e o faturamento das 79 companhias observadas aumentando 5%. Sobre o terceiro trimestre, o lucro por ação ficou estável, já o Ebitda teve alta de 9% e as vendas das empresas aumentaram 6%.
Empresas que lidam com commodities tiveram resultados fracos, o que já era esperado, em decorrência da queda nos preços, o que acabou causando ume redução nos lucros. No levantamento do BTG, empresas de commodities tiveram queda de 7,2% nas receitas e 22,7% no lucro líquido, na comparação anual. Para o Santander, os resultados acabaram vindo um pouco melhores por conta de uma queda menor do que esperavam nos preços.
Tanto petróleo quanto celulose tiveram preços mais baixos ao longo do quarto trimestre, com o barril do Brent em queda de 7% no período, US$ 83 na média, enquanto a celulose negociada na China teve redução de 29% nos preços, a US$ 615 por tonelada, por causa das incertezas macroeconômicas ao redor do mundo.
Já o minério de ferro manteve patamares elevados, com problemas na ponta da oferta, mas o aproveitamento das siderúrgicas foi baixo e o preço do aço se manteve pressionado.
No geral, as expectativas para o ano parecem mais otimistas. Uma análise feita pelo Santander das transcrições das teleconferências de resultados das empresas durante o primeiro trimestre, mostra um aumento significativo no uso da palavra recuperação e menos citações de inflação e inadimplência, uma indicação de que as companhias projetam um ambiente melhor em 2024 – o que pode representar melhores margens de lucro ao longo do ano.
“Temos expectativa que a retomada de atividade, ganho de salário real e menor desemprego deva ter efeitos positivos nos setores de consumo durante o primeiro trimestre”, diz o chefe de pesquisa do BTG. “Não será uma temporada espetacularmente mais forte, mas a tendência de melhoria deve continuar”, afirma. Ele pondera que muito da melhoria virá dos juros mais baixos, reduzindo pressão nas despesas financeiras.
Fonte: Valor Econômico

