A surpresa positiva com o desempenho do varejo ampliado brasileiro em novembro, somada ao avanço também inesperado da produção industrial e ao desempenho no azul, ainda que praticamente em linha com as estimativas, dos serviços no mês, deixou alguns economistas mais confiantes de que a atividade pode não registrar contração no quarto trimestre de 2023, ante o terceiro, mas estabilidade ou até um número ligeiramente positivo.
Mais cedo, o IBGE divulgou que o varejo ampliado cresceu 1,3% em novembro, ante outubro, feito o ajuste sazonal. A expectativa mediana do Valor Data era de avanço de apenas 0,4%. O varejo ampliado inclui, além dos outros segmentos presentes no conceito restrito, veículos, material de construção e “atacarejo” e é um indicador mais relevante para o cálculo do PIB.
Nas últimas semanas, o IBGE também divulgou um crescimento de 0,5% na indústria, ante expectativa mediana de 0,3%, e de 0,4% nos serviços, ante projeção mediana de 0,5% — mas o resultado dos serviços em novembro interrompeu uma sequência de três meses de queda.
“Tal como aconteceu com a produção de serviços e a produção industrial, as vendas no varejo de novembro nos surpreenderam positivamente. Na sequência desses resultados, nosso ‘nowcaster’ [monitor em tempo real da atividade], que sugeria riscos baixistas [para a atividade] há alguns meses, indica agora que o PIB pode ter tido um desempenho ligeiramente acima das nossas expectativas de estabilidade no quatro trimestre”, escrevem, em relatório, Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez, economistas do J.P. Morgan.
Na XP, o acompanhamento do PIB, que apontava uma queda de 0,1% da atividade no quarto trimestre — e já chegou a indicar contração de 0,2% —, agora, está mais perto do zero, “com dados mais fortes para o varejo ampliado nessa leitura de novembro”, diz o economista Rodolfo Margato.
Já o “tracker” do Banco ABC Brasil para o quarto trimestre de 2023, por outro lado, continua levemente negativo, indicando queda de 0,1% do PIB no quarto trimestre, ante o terceiro. O varejo ampliado “veio forte em novembro”, mas, na avaliação do economista-chefe Daniel Xavier, “o consumo de serviços veio mais fraco”. “Com isso, o nosso tracking para o PIB do quarto trimestre de 2023 segue ao redor de zero”, afirma.
Margato, da XP, pondera que há cautela para extrapolar o dado positivo do varejo ampliado em novembro para os meses à frente, porque pode ocorrer alguma devolução das altas em dezembro. “De qualquer forma, são sinais majoritariamente positivos, reforçando o cenário de resiliência do consumo das famílias”, afirma. Por trás disso, diz, tem um mercado de trabalho sólido, aumento dos rendimentos médios reais do trabalho na reta final de 2023 e inflação em trajetória de queda.
Gabriel Couto, economista do Santander, reforça que novembro foi um mês positivo para o varejo, mas diz esperar que o resultado seja algo mais pontual. “Mas ainda vemos resiliência no consumo das famílias, uma vez que o mercado de trabalho permanece apertado”, afirma.
Olhando para o curto prazo, a percepção da equipe macro do PicPay é que o varejo tenha ficado no campo positivo até o fim de 2023, diz o economista Igor Cadilhac. “Em dezembro, teremos o Natal e as festas de fim de ano que devem estimular esse macro favorável ao consumo doméstico”, afirma.
Com o resultado de novembro, o “carrego estatístico” — ou seja, o que aconteceria se o varejo ficasse estagnado em dezembro — está em 0,1% nas vendas restritas e em 1% nas ampliadas, segundo a Tullet Prebon, sendo que os números anteriores eram de 0,1%, mas -0,2%, respectivamente. Para o ano de 2023, essa “herança estatística” está em 2% no varejo restrito e 2,6% no ampliado.
A Terra Investimentos projeta leve queda, de 0,2%, nas vendas do varejo restrito em dezembro de 2023, ante novembro, e alta de 1,6% no ampliado. A MCM Consultores espera acomodação em ambos os conceitos em dezembro, ante novembro, com -0,2% para o restrito e +0,2% para o ampliado.
Para a equipe do Bradesco, o resultado de novembro mostra um varejo mais dinâmico do que o esperado, voltando a ganhar força na margem, o que já era sugerido pela sua Pesquisa Empresarial, que “também sugere resultados fortes para dezembro”, diz em relatório.
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— Foto: Ana Branco/Agência O Globo
Fonte: Valor Econômico

