No momento em que o mercado aumenta suas apostas em um corte de juros pelo Federal Reserve em dezembro, evidências apontam na direção de que o banco central americano pode estar se tornando mais leniente com a inflação. Segundo levantamento feito pelo ex-vice-presidente das distritais do Fed de Dallas e de Nova York, Joseph Tracy, o desempenho recente da autoridade monetária ao defender a estabilidade de preços é o pior desde o episódio da “Great Inflation”, que durou até o início da década de 1980.
Segundo Tracy, o mais recente episódio de “overshoot” da inflação em relação à meta começou no início de 2021, acelerou até a metade de 2022 e tem aumentado constantemente até o presente. “Em outubro, o montante acumulado de inflação em relação à meta cresceu para dois dígitos, atingindo 10,4 pontos percentuais. Quando as pessoas dizem que as coisas parecem mais caras hoje em dia, elas estão certas”, aponta.
O economista, que também é professor visitante na Purdue’s Daniels School of Business, traça uma comparação com os demais episódios com que o Fed precisou lidar com um “excesso” de inflação em relação à meta. Foi excluído o período do fim da década de 1970 e início da década de 1980, já que este episódio foi, segundo ele, o pior desempenho da inflação para o Fed desde que ele ganhou independência política em 1951.
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“O exemplo mais próximo do que estamos vivendo atualmente foi o episódio que começou em fevereiro de 1987 e durou 55 meses. Esse episódio progrediu mais lentamente do que o atual, mas acelerou no final, produzindo um overshoot máximo de 9,6%”, aponta.
Segundo ele, o atual “overshoot” de inflação do Fed é o maior e mais longo desde a década de 1970. “Espera-se também que o atual excesso de inflação continue por algum tempo. No Resumo das Projeções Econômicas (SEP) de setembro do Fed, a expectativa mediana era de que a inflação do PCE não voltaria à meta até 2028. Essa previsão, se concretizada, prolongaria o atual ‘overshoot’ de inflação para sete anos e para uma magnitude cumulativa ainda maior”, afirma.
Seria de se esperar que os sinais emitidos pelos dirigentes do Fed, neste contexto, fossem de urgência para trazer a inflação de volta à meta. No entanto, não é isso que o economista tem observado, ao citar posicionamentos recentes de John Williams, do Fed de NY, Jerome Powell, presidente do Fed, e Philip Jefferson, vice-presidente do BC americano.
“O Fed está optando por se concentrar em um problema potencial futuro no mercado de trabalho, em vez do problema atual com a inflação. Em seu desejo de promover um ‘pouso suave’, o Fed conseguiu promover ‘pouso nenhum’. Em vez de um compromisso firme, o Fed parece estar sendo complacente com a inflação”, afirma.
Por outro lado, Tracy enaltece os comentários mais conservadores feitos por outros membros do Fomc – Beth Hammack, Lorie Logan e Jeffrey Schmid -, que expressaram certa urgência para que o Fed volte a colocar a inflação dentro da meta.
“Esperamos que a preocupação deles seja contagiante para seus colegas do Fomc. Trazer a inflação de volta para 2% será ainda mais difícil se o público e os mercados reagirem à complacência do Fed aumentando suas expectativas de inflação. Para que o Fed vença sua luta contra a inflação, é preciso que o público e os mercados acreditem que ele vencerá. O Fed não pode dar essa crença como certa”, conclui.
Fonte: Valor Econômico

