Empresas de tecnologia que estão construindo data centers do setor de Inteligência Artificial (IA) para a Nvidia, Amazon e Google estão contando com um avanço nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China, já que seus estoques de minerais críticos e materiais relacionados estão perigosamente baixos.
A China apertou as restrições sobre elementos críticos usados na fabricação de tecnologia em abril, em meio às tensões comerciais com os EUA. Desde então, os preços desses elementos dispararam, e os estoques de materiais que os utilizam — como a pasta de solda de baixa temperatura — podem durar somente algumas semanas, disseram representantes de vários fornecedores.
A pasta de solda de baixa temperatura é essencial para a montagem de componentes em placas de circuito impresso, módulos térmicos e outras etapas-chave da fabricação, segundo fontes. Ela requer uma liga de estanho e bismuto, sendo que este último está sujeito a restrições de exportação da China.
“Nosso estoque de pasta de solda de baixa temperatura, essencial para a construção de servidores de IA e soluções de gerenciamento térmico, está agora se esgotando”, disse um executivo de um fornecedor da Nvidia, Amazon e Google.
“Embora a China não esteja bloqueando completamente as exportações, os processos de revisão prolongados já estão prejudicando a cadeia de suprimentos”, disse o executivo. “Estocamos algum inventário na região, mas ele só deve durar cerca de 1 mês e meio. Agora estamos contando que os presidentes [Donald] Trump e Xi [Jinping] tenham conversas favoráveis e cheguem a um acordo.”
Representantes comerciais do alto escalão dos dois países se reuniram em Londres nesta semana para discutir a situação comercial e anunciaram ontem que haviam alcançado um acordo “preliminar” envolvendo minerais críticos e semicondutores. No entanto, poucos detalhes foram divulgados.
Outro executivo da mesma fornecedora da Nvidia, Amazon e Google disse que sua empresa tem depositado esperanças nas conversas entre os EUA e a China para uma reviravolta na situação. “Essas coisas podem ser resolvidas com apenas algumas palavras dos políticos”, afirmou o executivo.
Um executivo de uma fornecedora de soluções térmicas para a Nvidia e a AWS disse que sua empresa tem buscado alternativas à pasta de solda sem bismuto desde abril, mas ficou surpreso ao descobrir que essas alternativas são ainda mais caras.
“Não estocamos pasta de solda antes de abril, então temos pagado várias vezes mais para comprá-la nos últimos meses”, disse o executivo ao Nikkei Asia. “E adivinha? As soluções sem bismuto são ainda mais caras!”
O bismuto tem se tornado uma escolha cada vez mais popular para eletrônicos e outras aplicações. Ele tem baixa toxicidade, e seu baixo ponto de fusão significa que consome menos energia durante o processo de fabricação. A China controla 69% da produção global de bismuto, segundo um estudo da União Europeia (UE). A pasta de solda com bismuto também é essencial em alguns módulos de gerenciamento térmico — componentes críticos para supercomputadores de IA e data centers.
O preço do bismuto produzido fora da China disparou 460%, chegando a cerca de US$ 35 por libra desde o início do ano, segundo a Refinitiv.
“Atualmente, a pasta de solda com bismuto nos polos de fabricação fora da China está em falta”, disse um executivo sênior da Shenmao Technology, uma das maiores fabricantes de pasta de solda do mundo. “Também estamos tentando obter bismuto do México, Vietnã e outros lugares e esperamos acelerar o fornecimento para atender à demanda dos clientes.”
Esta não é a primeira vez que a China utiliza sua posição dominante em terras raras e outros minerais como ferramenta de pressão. No final do ano passado, Pequim publicou listas de metais e materiais, como tungstênio, grafite e magnésio, que passariam a estar sujeitos a controles de exportação mais rigorosos. A China detém forte domínio sobre o refino e a produção de todos esses elementos.
Fontes afirmaram que, no último mês, a fiscalização por parte da alfândega chinesa de remessas contendo terras raras ou outros metais restritos — incluindo a pasta de solda de baixa temperatura — aumentou.
“As inspeções ficaram bem rigorosas, e está se tornando cada vez mais difícil para nós despachar mercadorias sem relatar e esperar pelas análises”, disse um dos executivos da cadeia de suprimentos. “Eles chegam a abrir as caixas e frascos para verificar minuciosamente.”
Os estoques de neodímio — usado na fabricação de ímãs permanentes de alto desempenho amplamente utilizados em motores, alto-falantes e outras aplicações — também foram afetados pelas restrições da China.
Independentemente do resultado das conversas em Londres ou em outras instâncias, as terras raras e os minerais críticos provavelmente continuarão sendo um campo de batalha central nas tensões tecnológicas entre EUA e China. Em uma revisão da cadeia de suprimentos realizada em 2021, Washington identificou o suprimento de terras raras como uma vulnerabilidade crítica — embora pouco progresso tenha sido feito desde então para diversificar essas fontes.
Johnson Deng, co-CEO da Pegatron — fornecedora da Apple e da Tesla — disse que os gargalos nas terras raras têm sido um “problema” nos últimos dois ou três meses.
“Tem sido realmente um problema para mim”, disse Deng a repórteres após a assembleia-geral anual da montadora de iPhones em Taipei. “Lançamos imediatamente medidas de resposta desde abril, incluindo comunicação próxima com os clientes para mudar materiais, alterar projetos e passar pelos processos de qualificação.”
Ele disse que a Pegatron tem tentado obter terras raras, como o neodímio, fora da China, como da Austrália. “Mas, honestamente, devemos admitir: a China realmente está na dianteira em termos de fornecimento e qualidade dessas terras raras.”
O presidente fundador Pierre Chen, da Yageo — fornecedora da Apple e da Nvidia — afirmou que as restrições sobre terras raras e metais-chave podem causar algumas interrupções no fornecimento, mas acrescentou que muitos fabricantes de eletrônicos estão trabalhando para encontrar fontes alternativas.
“É, de fato, uma tarefa desafiadora para a cadeia de suprimentos. Mas estamos vendo que países começaram a buscar fontes alternativas na África, no Canadá e em outros lugares”, disse Chen. “Algumas empresas estão até começando pelo design do produto para encontrar formas de usar fontes mais diversificadas ou mudar os materiais. Mas essas mudanças e a diversificação de fontes exigirão tempo e esforço”, completou.
Fonte: Valor Econômico

