Por James Politi e Claire Jones — Financial Times, de Washington
11/04/2024 10h52 Atualizado há 12 horas
Um novo aumento da inflação nos Estados Unidos está minando a mensagem de reeleição de Joe Biden, ameaçando o esforço do presidente para defender seu histórico econômico em uma fase crucial da campanha contra Donald Trump.
O aumento anual de 3,5% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) em março seguiu-se a uma alta de 3,2% em fevereiro e de repente tornou mais difícil para Biden argumentar que a inflação continua em uma trajetória firme de queda desde que atingiu o maior nível em várias décadas no terceiro trimestre de 2022.
Se os números da inflação continuarem aumentando nas próximas semanas, isso poderá também levar o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, a adiar os cortes nas taxas de juros que trariam alívio a muitas famílias americanas, que vêm pagando caro pelos empréstimos contraídos.
Embora a economia americana tenha criado mais de 15 milhões de empregos no governo Biden, o aumento da inflação durante seu mandato provocou dúvidas sobre a maneira como ele vem conduzindo a economia e continua sendo uma de suas maiores fraquezas políticas no caminho para as eleições de novembro.
Autoridades da Casa Branca disseram na quarta-feira que sempre esperaram que o processo de redução da inflação seria difícil – e que acreditam que em breve ela voltará a cair novamente.
Durante entrevista conjunta com o premiê do Japão, Fumio Kishida, na quarta, Biden disse que ainda acredita que o Fed — que tem uma meta oficial de inflação de 2% — cortará as taxas de juros este ano. “Isso poderá atrasar um mês ou mais”, afirmou ele.
Nas pesquisas nacionais de intenção de voto, Biden conseguiu recuperar algum terreno sobre Trump nas últimas semanas, depois que o ex-presidente manteve uma pequena vantagem no começo do ano. A disputa agora está basicamente empatada, segundo a média das pesquisas da Realclearpolitics.com.
Mas o perigo político para o presidente é significativo. O IPC subiu 18,9% desde que ele assumiu o cargo em janeiro de 2021.
Qualquer estagnação no processo de redução da inflação poderá ameaçar qualquer melhora para Biden, a apenas sete meses das eleições. “As pessoas ainda sentem que os EUA estão com um problema significativo com a inflação”, disse ao “Financial Times” Larry Summers, professor da Universidade Harvard e ex-secretário do Tesouro dos EUA. “Seja por se lembrarem do passado, ou porque os juros altos aumentaram o custo do dinheiro, as pessoas ainda sentem que a inflação não está totalmente sob controle.”
Os republicanos aproveitaram os dados mais altos da inflação para atacar as políticas econômicas de Biden. “Claramente há uma falta de conexão enorme entre a Casa Branca e a narrativa deles de que a economia está forte, e o custo de vida exorbitante que os americanos estão experimentando”, disse em uma entrevista Andy Barr, um membro republicano por Kentucky da Câmara dos Deputados. “A crise inflacionária deste governo continua dolorosa e persistente”, acrescentou ele.
Os principais assessores econômicos de Biden insistem que sua maior prioridade é combater o ressurgimento dessas pressões sobre os preços e propuseram ou promulgaram políticas elaboradas especialmente para reduzir as despesas das famílias americanas.
O presidente falou sobre os esforços no discurso sobre o Estado da União, no mês passado, e desde então repetiu a mensagem em vários eventos.
“Vamos manter a cabeça baixa e continuar lutando para reduzir os custos de tudo que vai dos medicamentos sob prescrição até taxas indevidas e os custos com moradia e cuidados infantis”, disse Jared Bernstein, o presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca.
“Também continuaremos trabalhando para que o povo americano conheça essa agenda e quão diferente ela é do foco dos republicanos no Congresso na redução dos impostos para os ricos e aumento dos preços onde estamos tentando reduzi-los”, afirmou ele.
As autoridades do governo Biden também estão confiantes de que a inflação ainda poderá ser domada. Janet Yellen, secretária do Tesouro e ex-presidente do Fed, disse à CNBC na segunda-feira que sua “expectativa” é de que a inflação diminua com o tempo. “Tenho esperança de que certamente conseguiremos chegar nos 2%”, disse ela, em uma referência à meta oficial de inflação do Fed.
Mas outros problemas estão surgindo – especialmente se os preços da gasolina, algo politicamente sensível, continuarem aumentando. Segundo o grupo setorial americano AAA, um galão (3,7 litros) de gasolina comum estava custando US$ 3,62 na quarta-feira, número que era de US$ 3,39 há apenas um mês. O aumento mensal de 1,7% em março deu uma grande contribuição para o número mais alto da inflação.
Um porta-voz da Casa Branca disse que os preços da gasolina nas bombas estão “bem abaixo do pico de 2022” e afirmou que as autoridades “sempre observam atentamente o mercado e as tendências”. O governo está “empenhado em reduzir os preços nas bombas”, disse o porta-voz, observando que a produção de petróleo dos EUA atingiu um recorde.
Mas o aumento dos custos dos combustíveis sempre foi um problema para os presidentes americanos e sob Biden a gasolina no geral está muito mais cara do que durante o mandato de Trump. As tensões geopolíticas no Oriente Médio também poderão continuar aumentando os preços do petróleo, tornando a gasolina mais cara justo quando a temporada de férias se aproxima.
Mike Lux, um estrategista democrata, disse que “a inflação tem sido um desafio [durante a campanha] e continuará sendo”, mas ele está encorajado com o fato de os eleitores estarem começando a atribuir a culpa às grandes companhias e não a Biden.
“Eles estão entendendo muito bem que a principal causa da inflação é a ganância corporativa e a manipulação dos preços”, disse Lux. “Acho que a campanha de Biden e de outros democratas pode atacar com força esse assunto e contar uma história convincente.
Fonte: Valor Econômico

