Por Larissa Garcia e Alex Ribeiro — De Brasília e São Paulo
25/10/2022 05h01 Atualizado há 12 minutos
As reservas internacionais brasileiras fecharam setembro em US$ 327,6 bilhões, US$ 12,1 bilhões menos que no mês anterior, uma queda de 3,6%. Os dados foram divulgados pelo Banco Central (BC) ontem. Segundo o chefe do departamento de estatísticas da autoridade monetária, Fernando Rocha, a redução decorre da política monetária dos Estados Unidos, que reduz o preço dos títulos e valoriza o dólar em relação a outras moedas.
Este é o menor patamar desde março de 2011, quando o país ainda estava em processo de compra de reservas internacionais. O montante chegou a US$ 388,1 bilhões em junho de 2019, maior valor da série histórica calculada desde 1970. “Além das intervenções do Banco Central, podemos ter variação [nas reservas] por preço e por paridade, onde se concentram os maiores valores [para efeito de redução]”, explicou Rocha.
Segundo ele, ao longo deste ano o BC vendeu US$ 2 bilhões das reservas em termos líquidos, o que não seria suficiente para explicar a queda. “O estoque de reservas fica investido no exterior, em títulos dos Estados Unidos, da zona do euro, em ienes [Japão], ouro e outros. Quando a gente trata de variação por paridade, a gente informa a carteira em dólares. Quando o dólar aumenta, a gente tem uma perda por paridade”, explicou.
“É por isso que essa rubrica na maioria dos meses tem valor negativo. Se somar de janeiro a setembro, temos uma redução de US$ 10,7 bilhões por esse motivo”, detalhou Rocha. Além disso, o técnico do Banco Central ressaltou que o dólar está em trajetória de crescimento porque o ritmo de alta de juros nos Estados Unidos está mais rápido. “A comunicação recente do Fed [Federal Reserve, o banco central americano] disse que vai aumentar mais do que o mercado esperava”, afirmou.
“O aumento de juros nos Estados Unidos leva a outro efeito, de redução no valor dos títulos. Por isso vemos valores negativos. Entre janeiro e setembro, são US$ 24 bilhões [de variação negativa]. A perda do valor das reservas decorre da política monetária nos EUA que reduz o preço dos papéis e valoriza o dólar em relação a outras moedas”, disse.
As reservas internacionais formam uma espécie de “colchão” em moeda estrangeira para que o país consiga atravessar crises e lidar com choques externos sem penalizar tanto a economia doméstica.
O montante é administrado pelo Banco Central e é investido em títulos soberanos, depósitos em outras moedas (dólar, euro, libra esterlina, iene, dólar canadense e dólar australiano), direitos especiais de saque junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), depósitos no Banco de Compensações Internacionais (BIS) e ouro, entre outros ativos. O país começou a ampliar as reservas em 2004, mas intensificou o movimento partir de 2008, diante do aumento do fluxo de capital estrangeiro no Brasil.
Como são mensuradas em dólar, as reservas são sensíveis a variação cambial e, consequentemente, à política monetária dos Estados Unidos. Quando o BC entende que há disfucionalidade no câmbio, pode se valer de instrumentos, inclusive vender parte das reservas, para estabilizar o mercado.
Fonte: Valor Econômico