Por Fernanda Simas — De São Paulo
29/06/2023 05h02 Atualizado há 6 horas
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O desequilíbrio macroeconômico da Argentina se agravou no último mês e o país caminha para ter o pior junho desde 2018, com uma inflação anual acima de 114% e com as reservas do Banco Central negativas em quase US$ 3 bilhões – e ainda tendo de pagar amanhã US$ 2,7 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O ministro da Economia e pré-candidato governista à Presidência, Sergio Massa, tenta fechar um novo pacto antes do fim de semana para evitar debilitar ainda mais as reservas internacionais. Se confirmar o pagamento ao FMI nesta semana e outros credores privados em julho, o BC ficaria com uma reserva negativa entre US$ 5,5 bilhões e US$ 6 bilhões.
“Acredito que vamos pagar na sexta uma parte com o dinheiro do FMI que temos no Banco Central. E, segundo as declarações de Massa, rapidamente se divulgará um novo acordo, com novas metas e cronogramas”, afirma Nicolas Alonzo, economista-chefe da consultoria Orlando Ferrerés & Asociados.
O governo pede ao Fundo que flexibilize as metas econômicas e adiante os três desembolsos previstos até o fim do ano para uma única parcela de US$ 10,6 bilhões. No cenário atual, segundo o economista Fausto Spotono, diretor da Escola de Economía da Universidad Argentina de la Empresa, o BC “terá uma sangria de reservas até o fim do ano”.
Além disso, Massa diz ser essencial que o governo tenha permissão para usar parte do dinheiro do FMI para intervir no câmbio. Na avaliação de Alonzo, essa medida apenas ajudaria “a ganhar tempo”. “O problema cambial é macroeconômico, não se soluciona com US$ 2 bilhões ou US$ 15 bilhões a mais sobre a mesa. Se não colocarem em ordem a macroeconomia, vão esgotar os US$ 2 bilhões, os US$ 15 bilhões, e assim vai”, complementa o economista.
Enquanto isso, o governo de Alberto Fernández busca ajuda com outros países para evitar uma maxidesvalorização e tentar estabilizar a economia até a eleição geral em outurbo. No começo do mês, a Argentina renovou um acordo de swap com a China e, segundo economistas argentinos, boa parte dos yuans disponibilizados já foi usada.
“O dinheiro disponibilizado forma parte das reservas. No último mês, com a segunda negociação entre os dois países, se acelerou o uso dos yuans”, afirma a economista argentina Marina Dal Poggetto, da Universidad Torcuato Di Tella.
Não é possível saber com certeza quantos yuans desse acordo já foram usados pela Argentina. Segundo Alonzo, “se estima que cerca de US$ 3 bilhões do primeiro lote de US$ 5 bilhões ativado”.
Na terça-feira, o Banco Central precisou fazer um aporte de US$ 123 milhões para abastecer a demanda por divisas. Segundo jornais argentinos, 73% desse valor teria sido obtido com os yuans disponíveis em razão do caráter de urgência do aporte.
“Desde que se esgotou o ‘dólar soja’, acabou a liquidez do único setor superavitário em divisas, o rural. Com a atual seca, é impossível que a demanda por divisas seja abastecida e o Banco Central precisa sair vendendo os poucos dólares que ainda tem”, diz Alonzo.
O ‘dólar soja’ foi um programa criado entre abril e maio para aumentar as vendas e exportações de soja e seus derivados, oferecendo aos produtores uma taxa de câmbio superior à taxa oficial.
O economista ressalta que para sair da crise econômica o governo tem duas alternativas. “A primeira é deixar a taxa de câmbio explodir, o que o governo não quer fazer. A segunda é frear a emissão de pesos com uma política fiscal e monetária ordenada, algo que o governo é incapaz de fazer neste contexto.”
A escassez de reservas, a alta inflação e uma taxa de juros em 97% levará o país a ter a maior queda econômica da América Latina em 2023, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“O grande impacto da seca e o fato de o país não ter as ferramentas necessárias para enfrentar um baque dessa natureza, além de outros fatores, como as restrições a importações, resultam nessa previsão da OCDE”, explica Alonzo. A organização afirmou ontem que a Argentina deve ter uma contração de 1,6%.
“Agora estamos diante de discursos de campanha, sem propostas mais concretas. Não vemos uma política econômica na Argentina que tenha sequência e sobreviva às mudanças de governo”, afirma Dal Poggetto.
Fonte: Valor Econômico
