Por Gabriel Roca, Arthur Cagliari, Augusto Decker e Matheus Prado — De São Paulo
28/02/2023 05h02 Atualizado há 5 horas
Os mercados reagiram positivamente ontem à confirmação do Ministério da Fazenda de que os combustíveis serão reonerados. Os participantes do mercado avaliaram o episódio como a primeira vitória do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), sobre a ala política do governo, e que o fato transmite uma mensagem de preocupação com as contas públicas, em meio às indefinições sobre a nova regra de gastos que o país vai adotar.
Os juros futuros foram o segmento que tiveram a reação mais forte. No fim da sessão na B3, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 caiu de 13,465% do ajuste de sexta-feira para 13,375%; e a do DI para janeiro de 2027 recuou de 13,06% para 12,85%. Já o dólar comercial fechou em alta de 0,16%, cotado a R$ 5,2067, com os agentes financeiros se posicionando para a formação da Ptax, que ocorre hoje.
As taxas recuaram desde a abertura do pregão, em meio a um movimento de realização de lucros após a alta expressiva observada na semana anterior. No entanto, alcançaram as mínimas do dia com a confirmação do Ministério da Fazenda de que os combustíveis serão reonerados e de que não haverá nenhuma perda de arrecadação para os cofres. De acordo com a pasta, a gasolina será mais onerada do que o etanol, por ser combustível fóssil, mas os percentuais ainda não estão definidos.
Ermínio Lucci, CEO da BGC Liquidez, afirma que a sinalização é importante, pois mostra que a ala “mais ortodoxa” do governo tem certo capital político. “É algo normal. Todo governo tem disputa por orçamento, espaço político, interlocução com o Congresso. A reoneração é uma boa sinalização, mostra que o grupo mais preocupado com a discussão fiscal dentro do Executivo teve uma vitória. Mas vamos conviver com a dualidade dessas duas vertentes durante todo o governo e, nessa linha, o mercado aguarda novidades sobre a proposta de âncora fiscal e a indicação para a diretoria do BC”, diz.
Já segundo o sócio e gestor da Novus Capital, Luiz Eduardo Portella, ainda não está totalmente claro como será garantida a arrecadação de R$ 28 bilhões, mas, caso ela se concretize, será uma primeira vitória para Haddad, que vinha sofrendo com a pressão da “ala política” do governo nas últimas semanas. “O mercado passou a não escutar mais a Fazenda, recentemente, porque toda a decisão acabava sendo tomada pela ala política do governo. Se isso mudar, a Fazenda ganha força e os mercados podem exibir uma melhora”, diz.
Recentemente, segundo Portella, a Novus reduziu suas posições pessimistas no mercado de juros local, que consistiam em apostas na inclinação da curva. No entanto, o cenário externo também piorou e não há, por ora, espaço para posições otimistas. “O mercado externo também mudou. As perspectivas de que os juros nos Estados Unidos subam até 5,50% e o ambiente geopolítico piorando, com a China fornecendo auxílio militar para a Rússia, pioram o cenário para mercados emergentes”, afirma.
O anúncio da reoneração chegou a colocar o Ibovespa, que teve comportamento errático durante toda a sessão, no campo positivo, com a ajuda das ações da Petrobras. Mas os papéis da estatal reduziram os ganhos conforme investidores avaliam se há riscos de a empresa ser envolvida no processo de retomada de arrecadação e, com isso, o índice registrou leve queda de 0,08%, aos 105.711 pontos.
Segundo reportagem do Valor, o governo pode apresentar solução híbrida para resolver a questão, e uma das possibilidades aventadas passa pela Petrobras. Como quem recolhe os impostos devidos pelos combustíveis aos Estados e à União, ICMS e PIS/Cofins, é a estatal, na equação buscada a empresa passaria a recolher o imposto com um desconto e repassaria, aos entes federativos, a alíquota cheia.
“Acredito que o acionista da Petrobras vai pagar essa conta com uma provável redução dos dividendos da companhia”, diz um gestor em condição de anonimato. Petrobras ON e PN subiram 1,66% e 0,69%, distantes das máximas intradiárias e Raízen PN, com alta de 5,19%, e São Martinho ON, com ganhos de 5,12%, lideraram as altas, refletindo uma recuperação da competitividade do etanol.
Na outra ponta, os bancos recuaram refletindo as incertezas do setor e, segundo analistas, a falta de dinheiro novo na bolsa, que faz investidores saírem de setores quando querem estar expostos a outros. Itaú PN caiu 1,29%, Bradesco PN recuou 0,98%, Banco do Brasil ON registrou queda 1,36% e Santander units perdeu 0,76%.
Fonte: Valor Econômico

