O ano de 2023 foi marcado por altas de dois dígitos no rendimento médio per capita e na massa de rendimentos no país, para níveis recordes, e com ritmo mais intenso entre os mais pobres, mas ainda assim as marcas de desigualdade de renda no país permanecem expressivas, mostram novos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O rendimento médio mensal real domiciliar per capita avançou 11,5%, para R$ 1.848, – o maior ritmo pelo menos desde 2012, enquanto a massa de rendimentos cresceu 12,2%, para quase R$ 400 bilhões (R$ 398,3 bilhões).
No grupo dos 5% mais pobres, o aumento do rendimento foi de quase 40%, beneficiado pelo Bolsa Família, com valor maior e uma parcela maior da população atendida no ano passado. Mesmo com a alta, a renda média per capita desse grupo era de R$ 126 por mês.
Pelo segundo ano seguido o rendimento ligado a programas sociais cresceu no país e atingiu novo recorde em 2023. E a fatia dos domicílios do país em que alguém recebe o Bolsa Família subiu para 19%, o maior nível da série da pesquisa, ante 16,9% em 2022.
Foi o Bolsa Família, inclusive, que permitiu a desigualdade de renda se mantivesse estável no menor patamar da série histórica. Isso porque o mercado de trabalho ficou mais desigual, já que o crescimento da renda foi mais intenso entre os trabalhadores com maiores rendimentos que entre aqueles no piso do mercado.
O chamado índice de Gini do rendimento domiciliar per capita – indicador de desigualdade – se manteve em 0,518 em 2023, mesmo nível de 2022 e o menor da série da pesquisa, iniciada em 2012. O índice varia de 0 a 1: quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade.
“O índice de Gini se manteve no menor valor da série da pesquisa. Se considerar só o rendimento do trabalho, houve uma pequena alta [da desigualdade] em relação a 2022. Mas os rendimentos dos programas sociais, particularmente o Bolsa Família, avançaram e contrabalançaram. Isso ajudou a manter a estabilidade do indicador”, diz o analista do IBGE Gustavo Geaquinto, responsável pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua – Todos os rendimentos 2023.
Fatores como avanço do mercado do trabalho em 2023 (4 milhões a mais de pessoas ocupadas e da renda), reajuste real do salário mínimo – que favorece também aposentadorias – e a alta do valor médio pago no Bolsa Família ajudam a explicar o aumento do rendimento para um novo recorde.
Em 2022, o então Auxílio Brasil foi reajustado de R$ 400 para R$ 600 pouco antes das eleições. Já rebatizado como Bolsa Família, o benefício vigorou ao longo de 2023 com o valor maior, além de pagamentos adicionais de acordo com a composição familiar, como a presença de filhos de até seis anos.
A despeito dos sinais positivos de 2023, o quadro de desigualdades se manteve no país. O grupo dos 10% mais pobres vivia, em 2023, com renda per capita média até R$ 294 por mês. O rendimento médio das pessoas do grupo do 1% mais ricos do Brasil (R$ 20.664, em média) correspondia a 39,2 vezes o rendimento dos 40% mais pobres (R$ 527). E o grupo dos 10% mais ricos no país detém o correspondente a 41% da massa de rendimentos, parcela próxima à de 43,3% nas mãos dos 80% com menores rendimentos da população.
Além disso, a renda média mensal per capita recorde de R$ 1.848 esconde as disparidades regionais. O maior valor está no Distrito Federal (R$ 3.215), três vezes o montante de R$ 969 do Maranhão.
fonte: valor econômico

