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A previdência privada tem atraído investidores interessados em garantir renda para viver uma aposentadoria mais tranquila. Este ano, até 30 de setembro, o patrimônio dos mil fundos consolidados no “Guia de Previdência Valor/FGV”, elaborado pelo Centro de Estudo de Finanças da Fundação Getulio Vargas, atingiu R$ 1,2 trilhão, montante equivalente a 10% do PIB brasileiro. A maior parte, 77,3%, em produtos de renda fixa (RF).
A categoria também obteve a maior rentabilidade no período acumulado de 15 anos, encerrado no último dia de setembro. As valorizações foram expressivas. Os fundos de renda fixa indexados renderam 300%, seguidos pelos RFs Crédito (237%) e RFs Grau de Investimento (232%). Esses três tipos de fundos obtiveram retornos bem superiores aos do DI, de 282%; da inflação, medida pelo IPCA, de 134%; e do dólar, que apresentou variação de 206% em igual período.
Em períodos mais curtos, de um, três, cinco, sete e dez anos, no entanto, os retornos foram menos expressivos. Todos perderam para o DI, mas renderam mais que o IPCA.
O bom desempenho dos produtos de renda fixa não chega a ser novidade, dada a política de juros elevados dos últimos anos, apesar da queda acentuada em 2020, quando a Selic chegou a 2%. Exceção à parte, o futuro próximo aponta para bons retornos dos fundos de renda fixa, opção atrativa sobretudo para investidores com perfil mais conservador.
“A política de juros altos deve permanecer por um bom tempo. Nos próximos dois anos, é melhor manter os investimentos em renda fixa, porque deverá ter bons retornos. A partir de 2027, há perspectiva positiva para renda variável, com um movimento de queda de juros”, avalia Ricardo Rochman, professor da Escola da Administração de Empresas da FGV e um dos pesquisadores do Centro de Finanças responsáveis pela elaboração do guia.
A partir de 2027, há perspectiva positiva para renda variável”
A categoria dos fundos balanceados, que combinam renda fixa e renda variável na composição de portfólio, também obteve bons retornos, embora inferiores aos da variação do CDI. Os da Brasilprev, destaques no critério risco/retorno, operam com ativos de renda variável no Brasil e no exterior, selecionados em setores avaliados de maneira prospectiva em relação às economias nacional e global.
“Este ano, temos um índice da bolsa brasileira que cai quase 5% e um S&P [índice do mercado acionário americano] que sobe 16%. Conseguimos retirar volatilidade do fundo e obter belos retornos com mais alocação lá fora do que aqui dentro. Lá fora, temos o mundo inteiro e não apenas o mercado americano”, diz Altair Cesar, superintendente de investimentos da Brasilprev, grupo do Banco do Brasil com mais de R$ 416,8 bilhões em ativos sob administração.
A estratégia segundo Cesar, consiste em selecionar ações de setores capazes de proteger a carteira em cenários adversos e de ganhar nos mais favoráveis. “Escolhemos setores mais defensivos para aproveitar [oportunidades] nesse cenário mais conturbado e fomos mudando a posição geográfica. Como o mercado esteve muito complexo, não tomamos muito risco”, diz.
Os ativos de renda fixa, sobretudo os de longo prazo, também contribuíram para a boa performance dos fundos, reduzindo volatilidade e riscos. Nesse segmento, os fundos estavam cerca de 90% alocados em CDI, incluindo títulos privados. Tal participação, no entanto, vem sendo reduzida. “Nosso negócio é de longo prazo. Quando nos posicionamos em renda fixa, gostamos de nos posicionar no longo prazo. Essas escolhas que fizemos levaram ao diferencial em rentabilidade”, afirma César.
Fundos balanceados, de ações e os multimercados com portfólio em derivativos costumam atrair investidores dispostos a assumir mais riscos para obter melhores retornos. Mesmo assim, para evitar surpresas, a melhor estratégia, segundo os especialistas, é a mesma de sempre: diversificação. Em previdência, significa aplicar em categorias de fundos diferentes, de acordo com o perfil do cliente. Por exemplo, 30% em balanceados e 70% em renda fixa. Ou o contrário.
“O primeiro ponto é entender qual o perfil do cliente para definir o melhor produto. Para os mais conservadores, o ideal é concentrar em renda fixa e, à medida que se sentir mais confortável, pode aumentar a parcela em ações. Se for mais agressivo, parte da alocação deve ser em fundos de ações, multimercados mais arrojados e os balanceados”, diz João Daronco, analista da Suno Research.
Dado esse passo, e com base no prazo do investimento, é importante avaliar não só a rentabilidade dos fundos, mas sua volatilidade, já que mesmo em renda fixa há produtos mais voláteis, como os que possuem carteira de títulos pré-fixados e NTN-B.
Segundo Daronco, prazos também influenciam a definição do produto. “Quem investiu em ações em 2018, com prazo de dois anos, resgataria no momento da pandemia de covid-19. A perda seria grande, não por causa do perfil de risco, mas do prazo muito curto”, diz. Já os investidores com previsão de resgate superior a 15 anos podem alocar parcela em ações, em linha com a disposição a riscos de cada um, nos primeiros anos, mas à medida que chegar perto do resgate, pode ser interessante migrar para renda fixa. “Na decisão, o que deve prevalecer é o perfil do investidor”.
Fonte: Valor Econômico

