22 Sep 2022 JESSICA BRASIL SKROCH HELOÍSA SCOGNAMIGLIO
Mesmo com o fim do ciclo de alta na Selic, mantida em 13,75% como esperado pelo mercado, analistas de investimentos explicam que a renda fixa segue com rentabilidade interessante, pelo menos até o início da queda da taxa de juros. Em um cenário de incerteza sobre o posicionamento fiscal do próximo governo, a cautela nos investimentos é recomendada, assim como buscar diversificação da carteira.
Sem perspectivas de redução dos juros até a metade de 2023, aplicações pós-fixadas com vencimento em até um ano são favoráveis, diz Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos. Uma recomendação para aproveitar os juros altos é o Tesouro Selic, atrelado à taxa: além de apresentar alta liquidez, é um dos investimentos mais seguros, ideal para os investidores mais conservadores.
As NTN-BS, conhecidas como Tesouro IPCA +, também estão atrativas, já que pagam uma taxa de juros prefixada com rentabilidade indexada à inflação. “Apesar dessa deflação, que gera pressão no curto prazo, as NTN-BS para 2026, 2028, estão atrativas”, recomenda Rodrigo Cabraitz, especialista em alocação de ativos da Claritas. Considerando que a inflação vai voltar a ser parte do dia a dia, a taxa de juros reais do Tesouro IPCA + é bastante interessante, complementa Josian Teixeira, gestor de portfólio da Lifetime Asset Management.
RECUO DA INFLAÇÃO. “Os títulos atrelados à inflação continuam sendo uma boa pedida. Mesmo com deflação nos últimos meses, essa é uma situação pontual e nós não esperamos um cenário deflacionário daqui para a frente”, diz Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos. “Principalmente no longo prazo, esses ativos continuam sendo boas opções, por proteger o poder de compra. É importante que o investidor entenda a diferença entre o barulho conjuntural e a tendência de longo prazo”, diz.
Entre as opções da renda fixa, a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), a Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e o Certificado de Depósito Bancário (CDB) se destacam com rentabilidade real positiva, segundo cálculos do professor de Finanças da FGV-SP Fabio Gallo. Ele considerou a projeção da inflação a 6%, como consta do mais recente Boletim Focus divulgado pelo Banco Central.
Com uma eventual queda dos juros esperada para a metade do ano que vem, o rendimento dos pós-fixados começa a cair, e o mercado começa a olhar para os prefixados, como o Tesouro Prefixado. “Apostar nos prefixados é apostar que o Brasil vai dar certo e que todo o cenário tende a melhorar”, explica Rodrigo Cabraitz. Os fundos indexados à inflação também ficam favorecidos com a queda da Selic, diz João Beck, economista e sócio da BRA.
Movimento Na Bolsa, alguns setores já reagem com a expectativa de queda nos juros
Simone Albertoni, especialista de renda fixa na Ágora Investimentos, ressalta a importância da diversificação da carteira, para que o investidor consiga capturar os melhores movimentos do mercado ao longo do tempo. É preciso, porém, observar o objetivo do investidor e seu perfil de risco, alinhando seus investimentos a tudo isso.
“A diversificação da carteira é muito importante, e pode incluir ativos atrelados à inflação, para poder manter o poder de compra mais a longo prazo; títulos prefixados para o cenário de um ou dois anos, já considerando uma queda de juros a partir de 2023; e títulos pós-fixados atrelados à Selic ou CDI para aproveitar a taxa de juros alta no curto prazo, e para ter certa liquidez”, explica Simone. “Para investidores mais conservadores, por exemplo, pode haver uma maior presença do pós-fixado, que traz mais segurança porque oscila menos.”
RENDA VARIÁVEL. Com a taxa de juros alta, o investimento em renda variável fica mais desafiador, explica Teixeira. A sugestão é que o investidor tente entender quando o processo de corte de juros começará, conseguindo assim avaliar as empresas e projetar o lucro.
Atualmente, com a Selic alta, o setor dos bancos está em bom momento, diz Teixeira. A depender da recessão, as petroleiras também estão atrativas.
Na Bolsa, as perspectivas futuras são antecipadas e alguns setores já podem começar a reagir à expectativa de queda de juros, como os setores de economia doméstica, construção civil, consumo e varejo, diz Moura. Ativos ligados ao crédito e ao mercado imobiliário ficam favorecidos, segundo Beck.
Para Carlos Macedo, economista e especialista em alocação de investimentos na Warren, o maior risco do cenário atual é o externo, com o Fed (banco central americano) comprometido a combater a inflação mesmo que cause recessão, além da crise imobiliária na China e da energética na Europa. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

