Por Adriana Cotias — De São Paulo
08/04/2022 05h02 Atualizado 08/04/2022
Os fundos de renda fixa lideraram a captação do setor no primeiro trimestre, dando continuidade a um movimento que se observou ao longo de 2021. Com a Selic ainda em ciclo de alta, essas carteiras atraíram R$ 109,2 bilhões de janeiro a março. Os fundos de ações tiveram resgates de R$ 31,9 bilhões, e os multimercados, de R$ 41,0 bilhões, segundo dados divulgados ontem pela Anbima, que representa o mercado de capitais e de investimentos.
O patrimônio da indústria fechou março com R$ 7,2 trilhões, um incremento de 11,7% em 12 meses. Mesmo com a alta do Ibovespa e a recuperação dos ativos de risco no primeiro trimestre, as saídas dos fundos de ações foram as maiores dos últimos cinco anos para o período. Os multimercados, por sua vez, interromperam um ciclo de primeiros trimestres positivos que se via desde 2018.
A renda fixa ganhou tração junto com o movimento de alta da Selic e, no segundo semestre de 2021, ainda houve reforço do aumento da volatilidade nos mercados, disse Pedro Rudge, diretor da Anbima, em videoconferência. “As incertezas aumentaram um pouco com o desempenho da economia, houve mais ruídos políticos, isso tudo faz com que o investidor tenha menor apetite a risco.”
Enquanto a taxa básica da economia permanecer alta, o investidor tende a dar preferência aos produtos mais conservadores, prosseguiu o executivo. “[A classe] vai continuar tendo participação importante, lembrando que tem eleições, que de alguma maneira adicionam volatilidade”, afirmou. Ele atribui ao andar da fase pré-eleitoral os ingredientes que podem alterar o humor dos investidores, à medida que os discursos para a condução econômica a partir de 2023 fiquem mais claros. “É o que fará com que os investidores reavaliem a alocação que têm dentro do seu portfólio.”
Um ambiente mais conturbado, naturalmente, deixa a renda fixa, os produtos mais conservadores, como principal esteio. Já se houver um cenário de pré-eleitoral mais calmo, com discursos mais consistentes, Rudge avalia que a propensão a produtos de maior risco vai aumentar, o investidor passa a fazer essa rotação nas suas carteiras.
Depois de o investidor incluir no seu portfólio os fundos globais quando a Selic estava em níveis ultrabaixos, o movimento do primeiro trimestre assustou quem tinha exposição direta em moeda estrangeira, sem hedge cambial. “O comportamento do dólar tem esse efeito contundente na atratividade para esse tipo de fundo, na medida em que o investidor vê a apreciação do real e desvalorização dos ativos, ele vai reduzindo o apetite”, afirmou Rudge.
Ele acrescentou que a pandemia mostrou, contudo, a importância de não ter o risco concentrado num único país. “No mercado americano, as companhias de tecnologia tiveram boa performance, apesar de toda a confusão que o mercado e o mundo estavam vivendo. Isso é um indicativo importante para o investidor ter diversificação geográfica, de moeda, para que, se uma classe que ele tem não vá bem, as outras possam se sobressair.”
Conforme dados apresentados até fevereiro, com o rebalanceamento feito, a participação da renda variável nas carteiras caiu de 14,3% para 12,5% de março de 2021 para cá, enquanto títulos privados corporativos passaram de 9,3% para 12,4%. Os papéis bancários saíram de 5,8% para 6,9%, e as operações compromissadas subiram de 19,2% para 20,8%.
A Anbima ainda fez um recorte sobre ativos digitais e apontou que o patrimônio dessa classe de alternativos dentro dos fundos somava R$ 4,8 bilhões ao fim de fevereiro, em 30 carteiras.
Em termos de rentabilidade, os multimercados macro lideravam o desempenho no primeiro trimestre deste ano, com média de 7,3%, seguidos por carteiras dedicadas a ações small caps (6,6%), ações (5%) e renda fixa duração alta grau de investimento (4,4%). O CDI no período foi de 2,4%, o Ibovespa subiu 14,5% e o dólar recuou 15,1%.
Fonte: Valor Econômico

