Por Lucianne Carneiro — Do Rio
11/04/2024 05h01 Atualizado há 4 horas
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A participação das remunerações do trabalho na economia atingiu 50%, em 2021, o menor nível da série histórica da pesquisa, iniciada em 2000, mostra estudo de Claudio Considera e Roberto Olinto, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). O índice, que estava em 55,5% em 2019, caiu para 53,1% em 2020 e chegou ao piso da série em 2021.
O estudo calcula a fatia dos rendimentos do trabalho sobre o valor adicionado do país, que é o Produto Interno Bruto (PIB) sem considerar os impostos. A parcela restante se refere à renda do capital. O cálculo mostra a chamada distribuição funcional da renda, uma primeira camada de análise sobre a repartição dos rendimentos, e que ajuda a avaliar a distribuição pessoal da renda, segundo os autores.
“Quanto maior a participação da remuneração do capital na renda do país, maior a tendência para que a distribuição pessoal da renda seja mais concentrada, já que o capital é fortemente concentrado em poucas mãos”, afirmam.
Para Considera, o recuo nos anos de 2020 e 2021 está ligado às perdas provocadas pela pandemia no mercado de trabalho e não há tendência de redução dessa participação da renda do trabalho. “Essa queda de 2020 e 2021 não significa tendência de redução, mas uma questão específica da pandemia. A tendência é que volte a subir em 2022. Acho que deve continuar aumentando a participação do trabalho”, afirma o economista, que é coordenador do Núcleo de Contas Nacionais (NCN) da FGV IBRE e responsável pelo Monitor PIB-FGV.
Entre 2000 e 2021, a fatia dos rendimentos do pessoal ocupado na renda do país variou entre os 50% de 2021 e os 56,8% dos anos de 2015 e 2016, afetados pela recessão. Na média do período, o índice é de 53,8%. O desempenho em 2015 e 2016 reflete, segundo Considera, mais a redução do capital no período que o avanço do trabalho.
“Em geral, a gente pensa no desemprego da mão de obra numa recessão, mas o capital também é afetado porque fica parado. Há menos utilização de máquinas e equipamentos, por exemplo, menos turnos de produção nas fábricas… Esse índice mais alto de 2015 e 2016 tem mais a ver com a redução do uso do capital que com o aumento da renda do trabalho”, explica.
O nível se manteve elevado nos anos de 2017 (56,5%), 2018 (55,8%) e 2019 (55,5%), até ser afetado pela crise sanitária. Considera explica que o impacto veio tanto da crise no mercado de trabalho – com perda de ocupação – quanto do próprio rendimento das pessoas que morreram por causa da covid. Estatísticas apontam para a morte de mais de 600 mil pessoas no Brasil nos dois primeiros anos da pandemia.
Mesmo com altas e quedas ao longo da série da pesquisa, entre 2000 e 2021, o que o economista Claudio Considera confirma é que há uma baixa participação da renda do trabalho na economia, ainda que superior a outros momentos da história brasileira. Atualmente, em países desenvolvidos, a fatia dos rendimentos do pessoal ocupado corresponde a algo entre 60% e 65% da economia.
“A participação da renda do trabalho é muito maior nos países desenvolvidos que no Brasil. Mas aqui também já foi muito inferior, era de 39% em 1949, mas considerando uma outra metodologia”, explica Considera.
O estudo também traz informações detalhadas sobre a parcela das remunerações do trabalho nas diferentes atividades econômicas. Considera e Olinto destacam a heterogeneidade dessa participação em cada uma delas, dependendo da maior ou menor participação do capital no processo produtivo ou ainda da maior ou menor qualificação dos trabalhadores.
Segmentos mais intensivos no uso de mão de obra, como outros serviços, transportes e comércio, apresentam maior representatividade dos rendimentos do trabalho em sua renda. Por outro lado, os índices são menores em áreas como extrativa mineral e eletricidade, com baixa intensidade do trabalho.
O trabalho sinaliza ainda para mudanças estruturais nos 22 anos entre 2000 e 2021, como as observadas na agropecuária e na extrativa mineral, que registraram redução no período. Na agropecuária, a renda do trabalho era 38,4% do total em 2000, mas caiu para 16,3% em 2021. Já na extrativa mineral essa fatia recuou de 26,4% em 2000 para 8,3% em 2021.
“Ao longo dos anos, a participação dos salários perde força com a mecanização da agropecuária de exportação. Além disso, a agricultura familiar foi muito prejudicada na pandemia”, nota Considera.
Fonte: Valor Econômico

