28 Feb 2023
O Reino Unido e a União Europeia chegaram ontem a um acordo para resolver a disputa sobre os controles alfandegários na Irlanda do Norte após o Brexit. O premiê britânico, Rishi Sunak, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, assinaram o pacto em Windsor, perto de Londres. O documento será analisado pelo Parlamento e pelo governo norte-irlandês.
A Irlanda do Norte é a única parte do Reino Unido que faz fronteira terrestre com um membro da UE, a República da Irlanda. Quando os britânicos deixaram o bloco, em 2020, os dois lados concordaram em eliminar os postos de controle, porque a fronteira aberta é um pilar fundamental do processo de paz da Irlanda do Norte.
‘TROUBLES’. Entre os anos 60 e a década de 1990, a Irlanda do Norte foi marcada pela violência sectária entre protestantes e católicos. O período conhecido como “Troubles” terminou em 1998, com o Acordo da Sexta-Feira Santa. Na prática, os conflitos haviam praticamente terminado graças ao Tratado de Maastricht, que entrou em vigor em 1993, aprofundando a integração.
Desde então, as economias das duas Irlandas passaram a ser cada vez mais interdependentes. A nova geração, que cresceu dentro da UE, não carrega mais o ranço sectário, tanto que a maioria dos norte-irlandeses (56% a 44%) optou pela permanência no bloco durante o referendo do Brexit, em 2016.
No entanto, ainda existe uma parcela nacionalista dentro da Irlanda do Norte que não aceita viver em um regime jurídico diferente do restante do Reino Unido. Quem lidera esse movimento é o Partido Unionista Democrático (DUP, na sigla em inglês).
Os nacionalistas e grupos protestantes radicais se opõem ao Protocolo da Irlanda do Norte e pressionam o governo britânico a ignorar o acordo. Durante os governos de Theresa May e Boris Johnson, no entanto, o DUP tinha mais peso no Parlamento britânico. Hoje, a intransigência dos nacionalistas custou caro.
Em 2022, pela primeira vez, eles perderam uma eleição para o Sinn Fein, que no passado foi o braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA) e defende a reunificação da ilha. Sem depender tanto do apoio do DUP no Parlamento, Sunak estava mais à vontade na assinatura do acordo.
“O acordo proporciona um fluxo comercial tranquilo em todo o Reino Unido, protege o lugar da Irlanda do Norte em nossa união e salvaguarda a soberania dos norte-irlandeses” Rishi Sunak
Premiê britânico
“Fizemos um avanço decisivo”, disse ontem o primeiroministro, ao lado de Von der Leyen. “O acordo atual proporciona um fluxo comercial tranquilo em todo o Reino Unido, protege o lugar da Irlanda do Norte em nossa união e salvaguarda a soberania dos norteirlandeses.”
Sob os termos do novo acordo, as mercadorias que se deslocam do Reino Unido para a Irlanda do Norte passariam por um canal “verde” sem verificações de rotina. Os destinados à Irlanda passariam por um canal “vermelho”, que teria mais controles. O protocolo também diminui o papel do Tribunal Europeu de Justiça em julgar disputas comerciais.
DESAFIOS. Se tudo correr conforme o planejado, o acordo pode encerrar uma disputa que azedou as relações entre Reino Unido e UE, provocou o colapso do governo regional com sede em Belfast e abalou o processo de paz da Irlanda do Norte.
O DUP permaneceu em silêncio ontem, dizendo que precisa ver os detalhes do acordo, mesma posição de Boris Johnson e de membros mais radicais do Partido Conservador.
Ian Paisley, um importante líder nacionalista, no entanto, criticou o novo pacto e disse que o premiê precisa voltar a negociar com a UE. Sunak, porém, ganhou o apoio inesperado da oposição. “Não vamos fazer jogo político. Se o premiê colocar o acordo em votação, nós apoiaremos”, disse Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista. •
AP, AFP e NYT
Fonte: O Estado de S. Paulo.
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