Por Rodrigo Rocha e Matheus Prado — De São Paulo
07/11/2023 05h04 Atualizado há 3 horas
Em um cenário que no qual o juro sobre capital próprio (JCP) tenha sua estrutura alterada ou até mesmo seja extinto, ganha corpo a discussão do que pode mudar na alocação de capital das empresas, com efeitos diretos nas finanças das companhias e no retorno aos acionistas. Nesse contexto, a recompra de ações, formato amplamente difundido em países onde os dividendos já são taxados, se torna uma alternativa ainda mais interessante para os dois lados.
Os temores principais são de que algumas companhias acessem o mercado de dívida para compensar o impacto maior na linha de impostos e a consequente redução do retorno do negócio. “O JCP é uma forma de equalizar os custos independentemente da fonte. No fundo, ele não é um subsídio, mas sim um equalizador. Na ausência do JCP, as empresas tendem a se endividar mais”, afirma Pablo Cesário, presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).
Outros especialistas, entretanto, veem uma situação menos generalizada, até mesmo pelo perfil das principais pagadoras de JCP, companhias com forte estrutura de capital e com fontes de receitas recorrentes e de fontes variadas. Nesses casos, uma diversificação de negócios, investimentos em expansão e mudanças na forma de remunerar o acionista estão no horizonte.
“Aceitar pagar mais imposto dificilmente é uma alternativa”, defende Orleans Martins, professor de Ciências Contábeis da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “Em caso mais extremo, é migrar para outros mercados. A relação Itaú/Itaúsa pode ser um exemplo, uma alternativa, em último caso. Antes dessa, acredito mais na recompra de ações.”
Um levantamento do Goldman Sachs apontou as diferenças do tamanho das operações de recompra no Brasil e nos Estados Unidos, onde os dividendos já são taxados. Entre 2012 e os últimos dois anos, o mercado de dividendos no Brasil passou de R$ 100 bilhões por ano para R$ 350 bilhões, enquanto o de recompra, que chegou a somar R$ 500 milhões em 12 meses, subiu para R$ 45 bilhões. Apesar do crescimento, ainda representa menos de 15% dos dividendos.
“Nos EUA, tivemos US$ 950 bilhões em recompras e R$ 538 bilhões em dividendos em 2022 e o Goldman Sachs S projeta que sejam US$ 800 bilhões em recompras e R$ 630 bilhões em dividendos em 2023”, diz Juliano Arruda, diretor de renda variável do banco para a América Latina. “Por aqui, pode ocorrer o mesmo. Para empresas que geram valor e os preços das ações são considerados descontados, o instrumento pode trazer mais retorno ao acionista à frente, porque o dinheiro que se perderia em tributos é reinvestido.”
A leitura, entretanto, é que alguns setores mais tradicionais não devem deixar de ser distribuidores de proventos para não perder atratividade para outros papéis de valorização mais rápida. Para Carlos Sequeira, chefe de pesquisas do BTG Pactual, muitas companhias devem seguir pagando dividendos mesmo em caso de tributação, porque os acionistas querem a renda. “Não acho que vão conseguir evitar totalmente a distribuição, podem mesclar as ferramentas. Vai depender muito do setor, dos objetivos dos investidores que entram em determinados papéis”, afirma.
Fonte: Valor Econômico

