Por Matthew Burgess e Marcus Wong, Bloomberg
24/07/2023 13h10 Atualizado há 20 horas
Os otimistas com dívida de mercados emergentes apostam que o fim iminente dos aumentos de juros ajudarão a fortalecer a classe de ativos. O El Niño pode ser um obstáculo.
O padrão climático que está se formando no Oceano Pacífico geralmente resulta em condições mais quentes e secas e, portanto, preços mais altos dos alimentos, dando aos formuladores de política monetária mais motivos para continuar aumentando juros. Entre os mercados de títulos de nações em desenvolvimento que correm maior risco estão Índia, Filipinas e Peru.
Os investidores ainda não estão discutindo os efeitos do El Niño em profundidade, “o que me deixa nervoso que possamos estar subestimando esse risco”, disse Eimear Daly, estrategista de mercados emergentes da NatWest, em Londres. “Os mercados estão fixados no carry agora e não focados no que parece ser um aumento do risco de estagflação.”
O El Niño – a formação de uma faixa de água quente no Pacífico equatorial que tem efeito cascata no clima do planeta inteiro – deve ser particularmente severo este ano, pois coincide com temperaturas globais recordes. Somando-se à ameaça de interrupções no fornecimento de alimentos, a Rússia se retirou de um acordo que permitia à Ucrânia exportar grãos através do Mar Negro, e isso já enviou preços do trigo a um salto de 10% na semana passada.
A Ásia é particularmente vulnerável a um choque de preços induzido pelo clima devido à maior proporção de alimentos nos orçamentos familiares. Os alimentos compreendem cerca de 46% da cesta de inflação na Índia, 36% na Tailândia e 33% na Indonésia, mostram dados do Fundo Monetário Internacional. Muitos preços de commodities já estão elevados, com arroz e açúcar negociando em máximos de vários anos.
Os mercados emergentes estão mais expostos ao impacto inflacionário do El Niño do que seus pares desenvolvidos, segundo a modelagem da Bloomberg.
Uma incidência do padrão climático pode fazer com que a inflação na Argentina e no Brasil acelere em mais 0,75 ponto percentual, e em 0,5 ponto percentual na Índia e nas Filipinas, escreveu o economista Bhargavi Sakthivel em nota de pesquisa, citando um modelo que analisa eventos passados de El Niño. Isso reduziria o crescimento, possivelmente resultando em estagflação, disse ela.
“Se o El Niño se mostrar intenso – como em 2014 e 2015 – isso pode sim mudar as expectativas de inflação nos mercados emergentes para 2024 e afetar o comportamento dos bancos centrais em muitos países”, disse Julio Callegari, chefe de renda fixa asiática da JPMorgan Asset Management, em Hong Kong.
Fonte: Valor Econômico

