Por Megan Cassella, da Dow Jones Newswires — Nova York
12/04/2023 15h25 Atualizado há 18 horas
Os dados de inflação dos Estados Unidos em março podem ser um bom indicativo para que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deixe de aumentar as taxas de juros, porém o dado final não traz todo o panorama da inflação americana.
A inflação nominal caiu significativamente em março devido à queda dos preços da energia, mas o crescimento no núcleo da inflação – que exclui preços de alimentos e energia – permaneceu desconfortavelmente forte, devido à alta nos preços de moradia e outros serviços.
Os preços ao consumidor dos EUA em março subiram apenas 0,1% em relação ao mês anterior, registrando alta de 5% na comparação com o mesmo período do ano anterior, ante 6% registrado em fevereiro. Mas os preços do núcleo da inflação, que são considerados um indicador mais direto da alta de preços, subiram 0,4% em março em relação ao mês anterior, fazendo com que o núcleo da inflação anual do país atingisse 5,6% ante 5,5% em fevereiro.
O resultado traz respostas conflitantes para o Fed, que deve deixar de aumentar a taxa de juros no país, algo que assusta algumas autoridades americanas que se preocupam que os preços básicos ainda estão muito altos.
O aumento no núcleo da inflação ocorreu após um relatório de criação de empregos que veio em linha com as expectativas do mercado, mostrando a força contínua do mercado de trabalho.
Autoridades do Fed enfatizaram há muito tempo que precisarão ver vários meses de arrefecimento no crescimento dos preços antes de fazer uma pausa na alta de juros. Isso sugere que, enquanto outros aspectos da economia permanecerem estáveis entre agora e maio, uma alta de 0,25 ponto percentual dos juros parece provável.
“Não achamos que o relatório de hoje mude as perspectivas para a política monetária dos EUA”, disseram Sarah House e Michael Pugliese, economistas do Wells Fargo, sobre o relatório desta quarta-feira. “Ainda esperamos um aumento de 25 [pontos percentuais] nas taxas de juros após o fim da reunião do dia 3 de maio”.
A trajetória do Fed após a reunião de maio dependerá em parte da tendência do crescimento dos preços nas principais categorias.
O setor de moradia, por exemplo, fornece um exemplo do desafio que o Fed está enfrentando ao tentar conter a inflação sem chegar ao ponto de empurrar a economia para a recessão. A habitação foi de longe o maior contribuinte para o crescimento dos preços em março, disse o Departamento do Trabalho, subindo 8,2% nos últimos 12 meses, mais do que compensando a queda de 6,4% nos preços da energia.
Apesar da inflação de moradias, os dados de março trouxeram alguma esperança de que a economia americana pode estar na direção certa. O crescimento mensal dos aluguéis desacelerou 0,3 ponto porcentual. Os custos de aluguel do setor privado, que refletem de maneira mais direta as variações de preço do setor, também sugerem que uma nova desaceleração nos custos de habitação está no horizonte, embora ainda não tenha aparecido totalmente nos dados do governo.
Para o Fed, a escolha é continuar a alta de juros porque o crescimento dos preços continua muito longe da meta porque a tendência – pelo menos por enquanto – mostra sinais de arrefecimento da inflação.
Alguns economistas defendem agir com cautela após a crise bancária. Mas o presidente do Fed, Jerome Powell, defendeu nos últimos meses que o banco central não pode recuar na luta contra a inflação até que a alta dos preços desacelere de forma significativa e convincente para 2%.
Além dos custos de moradia e energia, os dados de março mostraram alta significativa em várias categorias, incluindo as de seguro de carro, móveis domésticos e carros novos. Os preços dos carros usados continuaram a cair em março, mas, dada a recente tendência de alta em outros indicadores de preços de carros, muitos economistas esperam que essa categoria possa começar a sofrer reajuste nos próximos meses.
Várias categorias de serviços também apresentaram crescimento notável de preços: o setor hoteleiro aumentou 3,1% no mês, os transportes aumentaram 1,4%, as passagens aéreas aumentaram 4% e os preços de creches e pré-escolas aumentaram 1,4%.
O relatório CPI de março é um dos últimos grandes relatórios divulgados antes da próxima reunião do Fed, nos dias 2 e 3 de maio, onde será definida uma possível alta na taxa de juros dos EUA.
Fonte: Valor Econômico

