18 Dec 2023KATHERINE RIVAS
O Banco Central realizou na quarta-feira um novo corte na taxa básica de juros, a Selic, que encerrará o ano a 11,75%, depois de passar oito meses no patamar de 13,75%. Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez e funcionário licenciado do Tesouro Nacional, afirmou que, mesmo com as novas reduções esperadas para 2024, a Selic não voltará tão cedo ao nível anterior à pandemia, quando estava na casa dos 4,5% a 5%.
Embora os juros ainda altos favoreçam os investimentos em renda fixa, Leal também ressaltou que a Selic mais baixa estimula o crescimento da economia real, oferecendo oportunidades de maiores retornos para as aplicações em renda variável. Para o estrategista, o investidor deve ficar atento ao comportamento dos juros nos Estados Unidos, cuja movimentação ajudará a traçar os limites para a queda das taxas no Brasil.
Os cortes nas taxas de juros no Brasil e nos EUA podem levar a uma busca maior pela renda variável em 2024?
O Brasil já vinha com uma onda de otimismo em razão do arcabouço fiscal, que se refletiu na Bolsa de Valores. Nos Estados Unidos, existem apostas de que o Federal Reserve (Fed) comece a cortar os juros logo no início do ano. Nós acreditamos que seja no terceiro trimestre. Mas isso já é uma notícia positiva, tendo em vista que a sinalização era de que seriam taxas longas por mais tempo. E isso acaba impactando não só a velocidade do nosso ciclo de corte de juros, mas também até onde ele pode ir. Quando o BC começou a cortar juros, o mercado estava otimista e se falava até em Selic abaixo de 9%. Hoje, você vê a mediana das expectativas em 9,5%. Mais pessimistas veem a Selic terminal em 10%.
O que explica o otimismo atual do investidor na Bolsa de Valores?
Estamos saindo um pouco desse ciclo de aperto monetário que tirou muita gente da Bolsa e jogou para a renda fixa, pois é difícil competir com taxas tão restritivas. Ano que vem, será um ano de inflexão, e muitas pessoas vão voltar para a Bolsa. Mas eu teria muita atenção com a reforma tributária. Em geral, ela será positiva para o País e para as empresas, ao descomplicar esse arcabouço tributário. Mas, da forma como ela vai ser feita, pode haver um aumento da carga para alguns setores. O mercado de renda fixa vai continuar robusto ainda para o ano que vem. Em que pese essa redução de juros que a gente deve observar, você ainda estará com retornos historicamente A taxa Selic pode voltar ao patamar de 2%? Acredito que não vamos ter uma taxa baixa como vimos antes da pandemia. A Selic vai rondar ali perto dos 9,5% em um primeiro momento. Só quando o exterior voltar com taxas mais baixas é que vamos ter uma compreensão maior sobre a possibilidade de voltar a um patamar próximo de 8%. As questões lá fora são desafiadoras. Não só as geopolíticas, mas também porque os Estados Unidos ainda vão iniciar um ciclo de corte de juros. Isso acaba impactando todas as economias.
Para o investidor, é melhor ter uma taxa Selic mais baixa?
Um cenário de juros mais baixos e inflação controlada gera um ambiente de negócios mais favorável, com investimentos na indústria e na economia real. Isso significa mais empregos e mais demanda, reduzindo a necessidade de juros de longo prazo. Do lado do investidor, é confortável olhar para juros de 13% e não fazer mais nada. Quando olhamos para outras economias desenvolvidas, elas têm possibilidades de retornos muito acima do nosso quando têm a economia real crescendo. Há investimentos em Bolsa muito mais representativos nas reservas das pessoas do que aqui no Brasil. Os juros altos têm várias consequências negativas, como o endividamento do próprio governo.
E a dívida pública, qual a expectativa para este ano?
O investidor vai olhar muito menos o número nominal da dívida, e muito mais a sustentabilidade dela no presente e no longo prazo. E isso está totalmente atrelado às políticas de governo, ao crescimento do PIB e a uma economia para pagar a dívida que você tem atualmente. No início deste ano, vimos muita incerteza com a âncora fiscal, mas, uma vez divulgado o arcabouço, o mercado viu que existe algum comprometimento com as contas públicas. O Tesouro também vem fazendo um bom trabalho na gestão da dívida. Além disso, ele também fez uma excelente emissão de prefixados, o que mostra que a qualidade da gestão foi positiva. Isso é o que o investidor tem de olhar. Quanto melhor a âncora fiscal, reforma tributária, políticas favoráveis ao crescimento sustentável da dívida, melhor será o momento de mercado. •
Fonte: O Estado de S. Paulo
