Por Martin Arnold — Financial Times, de Frankfurt
26/07/2023 05h03 Atualizado há 4 horas
Os bancos da zona do euro informaram que a demanda por empréstimos para empresas teve queda expressiva e chegou ao nível mais baixo já registrado, o que reforçou os apelos para que o Banco Central Europeu (BCE) pare de sugerir que pode haver mais altas de juros depois de sua reunião desta semana.
A pesquisa trimestral de bancos do BCE, que também mostrou quedas na demanda por empréstimos das famílias e um aperto nos critérios de concessão pelos bancos, reforça os indícios de que os altos custos do crédito têm tido impacto maior na economia do bloco.
O banco central já indicou que tem planos de elevar as taxas em 0,25 ponto porcentual amanhã e, assim, ampliar o aperto monetário sem precedentes que aplica há um ano, em um esforço para baixar a inflação das altas recordes recentes e trazê-la à meta de 2%.
A política monetária mais apertada tem o objetivo de restringir a demanda por crédito. Mas economistas dizem que a rápida contração dos empréstimos bancários e as perspectivas econômicas desanimadoras – enfatizadas pela queda no índice de confiança empresarial da Alemanha ao nível mais baixo em oito meses – deixam a diretoria do BCE menos propensa a se comprometer com outra alta de juros em setembro.
“Todo esse lote de dados macroeconômicos negativos, combinados com o risco cada vez maior de uma crise de crédito plena na zona do euro, reforça os argumentos a favor de uma pausa depois da reunião de quinta-feira”, disse o economista do banco holandês ING Carsten Brzeski.
Na esteira de dois trimestres de estagnação, a economia da zona do euro corre risco de uma nova retração. Os números oficiais de crescimento no segundo trimestre devem ser divulgados na segunda-feira e a expectativa é que mostrem poucos sinais de uma recuperação. No início desta semana, índices de gerentes de compras mostraram forte desaceleração nas encomendas, na produção e nas contratações em empresas de todo o bloco em julho.
É provável que os últimos dados divulgados incentivem os membros da diretoria do BCE que são favoráveis a uma política monetária mais frouxa e defendem uma abordagem cautelosa a manterem a pressão para que o BCE indique que vai parar de elevar o custo dos empréstimos, mesmo que a maioria ainda espere que a mudança bastante sinalizada para esta semana aconteça.
“Os mais lenientes pressionarão por uma indicação de que esta pode ser a última alta”, disse o economista Claus Vistesen, da Pantheon Macroeconomics. “Mas não estou certo de que eles conseguirão.” Para Vistesen, a maior probabilidade é que o BCE sinalize que vai esperar até concluir as novas previsões econômicas em setembro antes de decidir se fará uma pausa no aperto monetário.
O BCE informou que a rapidez com que seu aperto é transmitido à economia em geral, ao aumentar o custo dos financiamentos e restringir sua disponibilidade para empresas e famílias, é um dos principais fatores para a decisão de quando parar de elevar taxas.
Sua pesquisa com 158 bancos da zona do euro constatou que a demanda de empresas por empréstimos “desabou para o nível mais baixo desde o início da pesquisa, em 2003”, depois de ter caído a um ritmo “substancialmente mais forte” do que o esperado nos três meses até junho.
Os bancos responsabilizaram a alta dos juros e necessidades de financiamento de investimentos mais baixas pela queda na demanda por empréstimos, e sua expectativa é que isso se mantenha no terceiro trimestre, embora a um ritmo mais lento. Eles também continuaram a apertar a concessão de crédito e a limitar a disponibilidade de empréstimos, embora esse ajuste tenha sido menor do que no trimestre anterior.
Espera-se que a contração da oferta de crédito esfrie a inflação, ao reduzir a demanda de empresas e consumidores, cortar investimentos e diminuir o crescimento do emprego e dos salários.
Em 5,5% em julho, a inflação da zona do euro é quase o triplo da meta do banco central, apesar de ter desacelerado em relação ao pico de 10,6% no ano passado.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, disse em junho que “ainda não se podia cantar vitória” e acrescentou: “É muito pouco provável que em um futuro próximo o banco central possa afirmar com total segurança que o pico das taxas foi atingido.”
Em março, o banco central previu que a produção da zona do euro cresceria 0,9% este ano e a inflação continuaria acima de sua meta até 2025.
A maioria dos economistas espera que o BCE reduza bastante sua previsão de crescimento em setembro. E alguns acreditam que uma escalada no setor de turismo pode manter a inflação desconfortavelmente alta durante o verão – em especial nos núcleos, como em serviços.
“Os defensores de uma política mais leniente poderão argumentar em setembro que, com base nas previsões de crescimento mais baixas, o BCE deve parar de elevar as taxas”, disse Holger Schmieding, economista-chefe do banco alemão Berenberg. “O problema é que uma temporada turística de verão cara pode manter o núcleo da inflação elevado por mais alguns meses.”
Fonte: Valor Econômico

