O Estado de S. Paulo.2 May 2023
O JPMorgan Chase anunciou ontem a compra do First Republic Bank, em um acordo liderado pelo governo americano, que havia decretado a falência do banco. Com sede em San Francisco e especializado no segmento de “private banking”, o First Republic vinha enfrentando problemas graves desde março, com o início da turbulência que se abateu sobre o setor bancário nos Estados Unidos.
O First Republic foi a quarta instituição regional a entrar em colapso desde o início de março – depois do Silicon Valley Bank, Signature Bank e Silvergate Bank. “Isso agora está chegando ao fim, e espero que ajude na estabilização”, disse o presidente executivo do JPMorgan, Jamie Dimon, em teleconferência com jornalistas. Bancos regionais que reportaram os resultados do primeiro trimestre nas últimas semanas “realmente apresentaram alguns resultados muito bons”, disse. “O sistema bancário americano é extraordinariamente sólido.”
No entanto, os empréstimos bancários provavelmente sofrerão por um tempo após as quebras, disse o executivo.
No negócio, o banco de Dimon ficou com cerca de US$ 173 bilhões em empréstimos do First Republic, US$ 30 bilhões em títulos e US$ 92 bilhões em depósitos. O JPMorgan e o FDIC, órgão regulador do sistema financeiro dos EUA, concordaram em dividir o ônus das perdas, bem como quaisquer recuperações, nos empréstimos unifamiliares e comerciais da empresa, informou a agência, em um comunicado.
O JPMorgan, com sede em Nova York, foi a instituição que fez a melhor oferta para tirar todo o banco das mãos do FDIC sem grandes perdas para a agência, de acordo com duas pessoas familiarizadas com a decisão. Isso foi mais atraente para a agência do que as propostas concorrentes, que propunham a dissolução do First Republic ou exigiriam arranjos financeiros complexos para financiar seus US$ 100 bilhões em hipotecas, disseram as fontes, que falaram sob condição de anonimato.
O banco fará um pagamento de US$ 10,6 bilhões ao FDIC e estima que incorrerá em US$ 2 bilhões em custos de reestruturação relacionados nos próximos 18 meses. Os US$ 92 bilhões em depósitos incluem os US$ 30 bilhões que o JPMorgan e outras grandes instituições americanas já havia aportado no First Republic numa tentativa anterior de estabilizar as finanças do banco. O JPMorgan prometeu que esses US$ 30 bilhões seriam reembolsados.
O FDIC e o JPMorgan compartilharão tanto as perdas quanto as possíveis recuperações dos empréstimos, com a agência observando que deve “maximizar as recuperações dos ativos, mantendo-os no setor privado”. O FDIC estimou que o custo para o fundo de seguro de depósito será de cerca de US$ 13 bilhões.
“Devemos reconhecer que falências de bancos são inevitáveis em um sistema financeiro dinâmico e inovador”, disse Jonathan McKernan, membro do conselho do FDIC, em comunicado. “Devemos nos planejar para essas falências de bancos, concentrando-nos em fortes requisitos de capital e em uma estrutura de resolução eficaz como nossa melhor esperança para acabar com a cultura de resgate de nosso país, que privatiza os ganhos enquanto socializa as perdas.”
“Devemos reconhecer que falências de bancos são inevitáveis em um sistema financeiro dinâmico e inovador. (…) Devemos nos planejar para essas falências de bancos” Jonathan McKernan – Membro do conselho do FDIC (órgão regulador do mercado financeiro nos EUA)
REAÇÃO NO CONGRESSO. A transação torna o JPMorgan ainda maior dentro do mercado americano – um resultado que os funcionários do governo se esforçaram para evitar no passado. “A falência do First Republic Bank mostra como a desregulamentação tornou o problema do ‘grande demais para quebrar’ ainda pior”, disse a senadora Elizabeth Warren, de Massachusetts, em um tuíte. “Um banco mal supervisionado foi comprado por um banco ainda maior. O Congresso precisa fazer grandes reformas para consertar um sistema bancário falido.”
Sherrod Brown, democrata de Ohio, presidente do Comitê Bancário do Senado, culpou o colapso do First Republic pelo seu “comportamento de risco, modelo de negócios único e falhas de gerenciamento”. “Está claro que precisamos de grades de proteção mais fortes”, disse Brown, em um comunicado. “Devemos tornar os grandes bancos mais resistentes a falências para proteger a estabilidade financeira e garantir a concorrência no longo prazo”.
Assim como o Silicon Valley, o First Republic era focado em empresas de capital de risco. Seu fundador, Jim Herbert, iniciou as operações em 1985 com menos de 10 pessoas. Em julho de 2020, o banco disse que estava classificado como o 14.º maior dos EUA, com 80 escritórios em sete Estados. Empregava mais de 7,2 mil pessoas no fim do ano passado.
O First Republic se viu pressionado quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aumentou as taxas de juros para combater a inflação, o que prejudicou o valor dos títulos e empréstimos que o banco comprou quando as taxas estavam baixas. Enquanto isso, os depositantes fugiram, em parte em busca de melhores retornos e, em seguida, com medo do destino do banco, após se espalharem as preocupações com a saúde da instituição. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

