Por Gabriela Santos
26/05/2023 05h03 Atualizado há 4 horas
Uma grande mudança positiva nas perspectivas econômicas globais foi o movimento pró-crescimento na China no final do ano passado. Em dezembro, os economistas esperavam que a China crescesse apenas 4,8% este ano. Avançando para hoje, as expectativas agora estão em 5,5%.
Essa atualização no crescimento elevou os beneficiários indiretos da recuperação da China, como empresas de luxo europeias (com alguns nomes subindo mais de 50% desde o terceiro trimestre e continuando a atingir recordes históricos este ano). No entanto, o MSCI China está agora abaixo 4,8% no acumulado do ano, um desempenho inferior considerável de 978 pontos-base em relação às ações globais.
Quando os mercados chineses reagirão às melhores perspectivas econômicas na China? Um aumento na confiança do consumidor e das empresas privadas, combinado com expectativas de lucros corporativos, aumentaria a confiança dos investidores de que esta nascente recuperação econômica tem espaço para continuar. Dado o peso de mais de 30% da China no índice MSCI Emerging Markets, isso impulsionaria os mercados emergentes de forma mais ampla – permitindo que a China e ações emergentes passem de retardatários a líderes este ano.
Em fevereiro, argumentamos que a China era inevitável para os investidores este ano devido à chegada do boom de reabertura da Covid, o desencadeamento de três anos de demanda reprimida de 15% da população mundial e a mudança da política da China em direção ao crescimento (focada agora em aliviar as pressões sobre o setor imobiliário e aumentar a confiança dos empresários privados). Desde então, os dados econômicos da China surpreenderam positivamente, especialmente o consumo de serviços domésticos (as vendas de serviços de alimentação aumentaram 26% ano a ano em março) e o setor imobiliário (a contração diminuiu para 5,8% ano a ano no primeiro trimestre versus -10,0% em dezembro). A meta oficial do PIB de 2023 de “cerca de 5%” agora é vista como um piso, ao invés de um teto.
No entanto, as ações chinesas não responderam tão fortemente quanto os dados econômicos por si só sugerem. Depois de um rali inicial de 60% do final de outubro ao final de janeiro, as ações chinesas corrigiram 15% e agora caíram marginalmente no ano. A recuperação inicial trouxe as avaliações de volta aos níveis médios – e os investidores agora estão pedindo um amortecedor para compensar os pontos de interrogação sobre quanto tempo durará a recuperação econômica (além das tensões geopolíticas em curso). Para a confiança do investidor aumentar, três temas precisam tomar forma:
- Melhoria na confiança das empresas privadas: Embora o PIB do primeiro trimestre tenha sido forte, uma área notável de lentidão foi o investimento privado, que cresceu apenas 0,6% em relação ao ano anterior (contra 10,0% no setor público). Mais ações dos formuladores de políticas para assegurar ao mercado uma postura de apoio ao desenvolvimento do setor privado seria algo fundamental.
- Mais recuperação da confiança do consumidor: A confiança do consumidor começou a se recuperar este ano, mas as expectativas de renda e a intenção de compra permanecem abaixo da média, levantando questões sobre quanto o consumo irá se expandir além de restaurantes e viagens domésticas. Uma melhora no mercado de trabalho, estimulada por uma melhora na confiança dos empresários, seria fundamental.
- Expectativas de lucros corporativos: Embora os dados econômicos tenham surpreendido positivamente, as estimativas de lucros chineses subiram apenas 2% neste ano. Ter fortes resultados do primeiro trimestre, combinados com comentários positivos das companhias, seria uma confirmação das tendências econômicas e proporcionaria um aumento nas estimativas de lucro do ano inteiro.
Dado o peso de 33% da China na renda variável dos mercados emergentes e seu importante papel para as economias dessas regiões, um impulso aos mercados chineses impulsionaria a renda variável de mercados emergentes de forma mais ampla.
Embora possa levar algum tempo, esperamos que a confiança melhore – ou que os formuladores de políticas estimulem ainda mais a economia, caso isso não aconteça. A chave para investir na China é fazê-lo de forma ponderada, com base em “ondas de reabertura” (serviços primeiro, seguido de bens discricionários) e temas “além da reabertura” (economia verde e setores industriais avançados).
Fonte: Valor Econômico

