27 Feb 2023 W. POST, NYT e AP
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou ontem o Ocidente de tentar “desmembrar” o país e transformar o vasto território em “mini-Estados” frágeis. Em entrevista ao canal de TV estatal Rossiya, Putin afirmou que os EUA e seus aliados da Otan querem “infligir uma derrota estratégica”. Também em entrevista, o diretor da CIA se disse preocupado com o envio pela China de armas aos russos.
Ao ameaçar novamente colocar o arsenal nuclear russo em alerta, Putin disse: “Como podemos ignorar as capacidades nucleares da Otan nessas condições?”. Putin afirmou que esse suposto complô estava em andamento desde o colapso da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
“Eles tentaram remodelar o mundo em seus termos. Não tivemos escolha a não ser reagir”, disse, acrescentando que o Ocidente foi cúmplice dos “crimes” da Ucrânia. “Se Washington conseguisse o que queria, a Rússia seria dividida em Moscou, os Urais e outras regiões díspares – e há prova escrita disso”, disse ele, sem apresentar as evidências.
Os comentários ocorrem no primeiro aniversário da invasão total da Ucrânia pela Rússia, e fazem parte de uma aparente tentativa de aumentar o apoio popular à guerra. O Kremlin reformulou a invasão como uma luta necessária e defensiva para a “sobrevivência nacional da Rússia”, reminiscente da batalha da União Soviética contra os nazistas.
ARMAS DA CHINA. Em meio ao discurso de Putin, os EUA alertaram que a China planeja enviar ao menos 100 drones e diversas armas para Moscou. “Acreditamos que a liderança chinesa está considerando o fornecimento de equipamento letal para a Rússia”, disse em entrevista à rede de televisão americana CBS News, o diretor da CIA, William Burns.
A afirmação de que o presidente da China, Xi Jinping, considera tomar essa medida é uma mudança em relação às avaliações anteriores do governo Biden. No início deste mês, Burns disse a estudantes da Universidade de Georgetown que Xi estava “muito relutante em fornecer o tipo de arma letal que a Rússia está interessada em usar na Ucrânia”.
Burns enfatizou que a China ainda não tomou a decisão de transferir ajuda letal para a Rússia e esclareceu que a lógica por trás da decisão do governo Biden de tornar pública essa informação obtida pelos serviços de inteligência americanos é demover os chineses da ideia.
Se a China enviar armas à Rússia, isso poderia pender a balança do conflito para o lado de Moscou, com ganhos territoriais e militares – uma realidade que os EUA e seus aliados europeus têm trabalhado para evitar com bilhões de dólares em remessas de armas. ALERTA. Em uma reunião com o principal diplomata da China, Wang Yi, na Conferência de Segurança de Munique, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que tal medida “prejudicaria gravemente as relações diplomáticas entre Washington e Pequim”.
As autoridades dos EUA rastrearam por meses o envio da China para a Rússia de itens não letais e de uso duplo, que podem variar de laptops e equipamentos de telecomunicações a peças de aeronaves normalmente usadas para fins civis mas que podem ser adaptadas para uso militar. “Houve alguma ajuda desse tipo, de uso duplo, vindo de empresas chinesas, que certamente foi aprovado pelo Estado”, disse Blinken.
Fonte: O Estado de S. Paulo

